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Pesquisadores desenvolvem material biodegradável contra inflamação nos implantes dentários

Em caso de infecção microbiana no local operado, sinalizada por alteração no pH, polímero libera de forma controlada a vitamina B9, que tem ação imunomoduladora

Biomaterial: infecções podem acontecer em um a cada três implantes de dente (Adalberto Rodriguez/Getty Images)

Biomaterial: infecções podem acontecer em um a cada três implantes de dente (Adalberto Rodriguez/Getty Images)

Agência Fapesp
Agência Fapesp

Agência de notícias

Publicado em 24 de setembro de 2024 às 12h20.

Pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp) desenvolveram um novo material odontológico biodegradável para controlar processos inflamatórios associados a infecções em implantes dentários.

Divulgado na revista Advanced Functional Materials, o trabalho foi financiado pela Fapesp.

Como explicam os autores, os implantes dentários representam atualmente a principal opção de tratamento para substituir dentes perdidos. Embora o procedimento apresente alta performance clínica, infecções podem atingir um a cada três implantes, representando a principal causa de falha destes tratamentos. Além disso, com a maior popularidade dos implantes, o número de infecções tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, reduzindo a qualidade das reabilitações e comprometendo a qualidade de vida dos pacientes

Os tratamentos atualmente disponíveis para as infecções microbianas relacionadas com implantes nem sempre são eficazes, principalmente devido à incapacidade de controlar a resposta imunoinflamatória, que pode ser lesiva para o tecido.

Diante dessa realidade, o grupo da FOP-Unicamp identificou que células da gengiva humana aumentam consideravelmente a expressão de determinados receptores da sua membrana, capazes de modular o processo inflamatório, quando interagem com o folato, composto também conhecido como vitamina B9.

“Com base nessa descoberta, avançamos no desenvolvimento de um novo biomaterial, utilizando a técnica de impressão molecular, com o objetivo de promover a liberação controlada de folato em resposta à variação do pH tecidual. Essa liberação controlada é especialmente relevante, dado que os locais com doença ao redor dos implantes apresentam pH alterado e são processos crônicos”, conta à Agência Fapesp Raphael Cavalcante Costa, doutorando da Unicamp responsável pelo estudo.

Segundo Costa, a liberação da vitamina B9 só acontece em locais com processo inflamatório presente. “Assim, por meio de uma abordagem multidisciplinar, o polímero impresso recém-desenvolvido viabilizou a aplicação do folato como um agente imunomodulador nos tecidos peri-implantares [em torno da área operada], garantindo concentração e tempo de exposição ideais para o controle da fase ativa da inflamação ao redor dos implantes dentários”, explica.

Denominado PCL-MIP@FT, o material criado pelo grupo é feito de policaprolactona (PCL, substância também usada no tratamento de rugas, para estimular a produção de colágeno na pele) e tem capacidade de entrega sustentada de folato por até 14 dias em ambiente ácido com uma concentração de 1 micrograma por litro (μg/mL), considerada terapêutica para os tecidos inflamados ao redor do implante.

O trabalho foi orientado pelo professor Valentim Barão, da Unicamp, e teve a participação também dos professores João Gabriel Silva Souza e Karina Gonçalves Silvérios Ruiz, ambos da Unicamp, e demais pesquisadores de instituições parceiras.

Vantagens

Os autores destacam que, ao contrário dos sistemas de liberação de medicamentos atualmente utilizados na odontologia, a entrega do folato pelo polímero biodegradável ocorre apenas de forma local e durante o desenvolvimento de uma infecção, sinalizada pela variação do pH local.

“Além disso, o material foca no controle da inflamação, ponto-chave para controlar a progressão da doença e a destruição tecidual decorrente da infecções relacionadas a implantes. Ressalta-se que o polímero é biodegradável, sendo completamente eliminado após um período de 60 dias, o que evita efeitos adversos causados por sua permanência no local”, acrescenta.

Outro aspecto relevante é que o material pode ser reaplicado, potencializando os efeitos terapêuticos de maneira rápida e fácil durante a consulta odontológica, com um intervalo de retorno adequado ao paciente.

O artigo Pathogenesis-Guided Engineering: pH-Responsive Imprinted Polymer Co-Delivering Folate for Inflammation-Resolving as Immunotherapy in Implant-Related Infections pode ser acessado em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/adfm.202406640.

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