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"Para reverter a perda de biodiversidade, é preciso mudar a produção e consumo", diz Luísa Santiago

A diretora executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur participa das discussões da COP16 e destaca que para além dos esforços de conservação, a pauta deve se conectar com economia circular

Luisa Santiago, Diretora Executiva na América Latina da Fundação Ellen MacArthur: "O Brasil é a 'rainha do baile': não só pela COP30, mas também pelo seu potencial em temas como água, minerais críticos e áreas verdes" (Divulgação)

Luisa Santiago, Diretora Executiva na América Latina da Fundação Ellen MacArthur: "O Brasil é a 'rainha do baile': não só pela COP30, mas também pelo seu potencial em temas como água, minerais críticos e áreas verdes" (Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 28 de outubro de 2024 às 15h25.

Última atualização em 19 de novembro de 2024 às 10h28.

"Hoje, a economia é linear porque foi projetada assim. Precisamos de um redesign para torná-la circular, com novas práticas de produção regenerativas e a adoção de políticas públicas", disse Luísa Santiago, diretora executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur, em entrevista exclusiva à EXAME,

Junto a uma rede global de mais de 400 empresas, a organização lidera a formulação de oportunidades econômicas na transição para a economia circular, com foco em três princípios: eliminar a poluição e resíduos desde o design de produtos, criar materiais com alto valor agregado e regenerar a natureza.

Em 2023, a fundação implementou sua "estratégia 2030", que olha para o papel da economia circular em intersecção com as três crises planetárias: clima, biodiversidade e poluição. E pela primeira vez neste ano, está presente nas discussões da COP16 em Cali, na Colômbia, trazendo o modelo econômico como uma solução para apoiar a implementação de metas e objetivos de proteção das espécies e áreas terrestres e marítimas em todo o mundo.

Historicamente, estas COPs sempre foram muito fechadas para ambientalistas e conservacionistas, e não havia a correlação entre os dois temas, destacou Luísa. Como avanço recente, ela celebra um entendimento maior de conexão da pauta de economia circular com biodiversidade, além de outras, como o clima. "Para reverter a perda de biodiversidade, nao será necessário apenas esforços de conservação, é preciso mudar formas de produção e consumo", destacou.

Neste sentido, a organização está explorando como pode contribuir para a discussão, focando na tripla crise planetária e em como implementar práticas de produção regenerativa. Em clima e biodiversidade, uma das iniciativas prioritárias na América Latina é focada em sistemas alimentares. A nova abordagem traz um olhar de como as marcas produzem alimentos minimamente processados e seu papel de irradiar mudanças para toda a cadeia, promovendo regeneração e captura de carbono.

E já há uma proposta em curso. A organização está desenvolvendo um novo design de produtos alimentícios para o mercado e quer inspirar outros setores, conta Luisa. "Pensamos em aplicar o mesmo design circular em outros itens de higiene, beleza e saúde. Queremos agregar o potencial da Amazônia, elevando o valor econômico da floresta em pé e contribuindo com a agenda de zerar o desmatamento", reiterou.

Outra agenda prioritária é a poluição, com foco na questão do resíduo plástico. Ainda no final deste ano e após a Conferência do Clima (COP29) em Baku, a ONU deve encerrar as negociações do tratado contra a poluição plástica firmado em 2022, o que deve levar a uma nova COP temática. 

O Brasil também está no foco, com a formulação de políticas públicas. De olho na COP em Belém no ano que vem e dado o papel do país nos encontros do Brics, G20 e Mercosul, a fundação quer aproveitar as oportunidades do atual governo para avançar de uma posição de "retardatários" para protagonistas, destacou Luísa. 

"Queremos que a economia circular seja central na COP30. Um dos nossos objetivos é elevar este nível de política e estimular o conhecimento", acrescentou. Para ela, o Brasil é a "rainha do baile": não só pela COP30, mas também pelo seu potencial em temas como água, minerais críticos e áreas verdes. 

Em junho deste ano, o país assinou o tratado da economia circular, e a organização vem trabalhando para estruturar um fórum nacional e desenvolver planos a nível nacional. As políticas existentes ainda são bastante recentes, desenvolvidas desde 2014. 

O maior desafio atual foi justamente o governo ter demorado tanto tempo para adotá-las, disse Luísa. Ao mesmo tempo, isto se tornou uma vantagem competitiva, pelo aprendizado e melhorias implementadas, tornando o marco regulatório brasileiro superior ao de outros países da América Latina. 

"O Brasil já superou algumas limitações, como considerar apenas o ciclo técnico e industrial deste novo modelo econômico não linear. Já integramos tanto o ciclo biológico como a indústria manufatureira, abrangendo bioeconomia, alimentos, biomateriais, fármacos e energia", frisou.

No final das contas, ela defende que a economia circular só existe se planejada sob a ótica do design, com mecanismos regulatórios e financeiros. Outra inovação é olhar para o aspecto social, gerando renda e integrando os catadores a uma cadeia altamente eficiente.

A lente do clima

Neste ano, a fundação também participou das discussões da Climate Week em Nova York e percebeu que os temas já estão mais interligados. Segundo Luísa, o Brasil conecta natureza e clima desde sempre, e a pauta é central para nós, diferentemente do norte global. "Embora a transição energética seja peça-chave, sabemos que ela é apenas metade do problema e o restante trata de como produzimos e consumimos bens e produtos na economia", destacou. 

Para a executiva, o mais interessante em Nova York foi justamente ver muitas pessoas falando sobre sistemas alimentares e paisagens, temas que conversam com a floresta amazônica. 

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