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(Mary Kang/Bloomberg)
Leo Branco
Publicado em 7 de junho de 2021 às 07h14.
Em um dia de sol recente, 13 mil galinhas perambulam pelos 40 acres bagunçados pelo vento de Larry Brown em Shiner (Texas). Algumas aproveitam a sombra de um carro estacionado para descansar. Outras bebem água com as vacas. Tudo isso parece aleatório, mas é de propósito, parte do que a indústria de ovos dos Estados Unidos aposta será seu próximo grande sucesso: ovos amigos do clima.
Ao longo da última década, produtores vêm convencendo com habilidade os consumidores a pagar quatro vezes o preço de uma dúzia de ovos vendidos como bons para você (orgânicos) ou até sete vezes mais por ovos criados em condições consideradas melhores para os animais que os botaram (ovos criados em pastos e colhidos à mão).
Não é pouca coisa, levando-se em conta que uma caixa de ovos convencionais ainda pode ser comprada por menos de US$ 1. Mas o marketing esperto deu resultado: os chamados ovos especializados conquistaram cerca de um terço do mercado atual, e a previsão é que cheguem a 70% em cinco anos.
Agora, Brown e seus colegas estão apostando que podem lucrar ainda mais acrescentando outra camada premium: ovos de um tipo especial de fazenda sustentável, que podem ser alardeados como sendo melhores para o planeta.
Esses ovos, que estão estreando agora nas prateleiras por até US$ 8 a dúzia, ainda são rotulados de orgânicos e amigos dos bichos, mas também são de aves que vivem em fazendas que usam agricultura regenerativa – técnicas especiais para o cultivo de solos ricos que podem sequestrar gases do efeito estufa.
Ovos assim podem ser vendidos como um produto que ajuda a combater as mudanças climáticas. “Estou animado com nosso progresso”, diz Brown, que colhe ovos para a NestFresh Eggs, empresa com sede em Denver, e está adicionando mais cultivos de cobertura, que atraem minhocas e grilos para as galinhas comerem.
Os dejetos dos pássaros então fertilizam os campos. Melhorias como estas “permitem que nossas galinhas desfrutem de ração natural da mais alta qualidade e que será boa para o solo, para as galinhas e para os ovos que fornecemos aos nossos clientes”.
A investida da indústria de ovos é o primeiro grande teste para saber se os produtos de origem animal de fazendas regenerativas podem se tornar a próxima oferta premium. Em pouco mais de uma década, os ovos orgânicos foram de produto ignorado por ser visto como mercadoria de nicho nas lojas de alimentos naturais para algo vendido no Walmart.
Mais recentemente, surgiram dúvidas semelhantes sobre probióticos e carnes à base de plantas, mas ambos explodiram e se tornaram categorias de destaque nos supermercados. Se o lançamento dos ovos sustentáveis for bem-sucedido, poderá abrir as comportas para a carne regenerativa, o brócolis regenerativo e outros tantos.
Produtos regenerativos podem ser difíceis de vender porque é difícil definir o conceito em poucas palavras, diz Julie Stanton, professora associada de economia agrícola da Universidade Estadual da Pensilvânia, em Brandywine. O cultivo de tais produtos também faz pouca diferença, se é que existe alguma, nos alimentos (ainda que alguns produtores de ovos sustentáveis afirmem que seus ovos têm mais proteína).
Os defensores da proposta dizem que a agricultura regenerativa aumenta o volume de matéria orgânica no solo, o que é nutritivo para as plantas e mantém o dióxido de carbono preso. Com um solo mais saudável, lavouras podem crescer usando menos energia e sem fertilizantes químicos. Como não há definições regulatórias, as reivindicações e os objetivos podem variar. Mas vários grupos de certificação de terceiros têm surgido.
De volta à fazenda de Brown, a cerca de 130 quilômetros sudeste de Austin, as galinhas estão espalhadas pela terra, indo e vindo como acharem melhor. Elas vão pastar por horas, comendo vegetação e insetos.
Os resíduos destas aves fertilizam as plantas, criando um ciclo alimentar que os defensores dizem que fortalece as terras agrícolas e auxilia nas emissões. Mas é difícil entender esse pedigree simplesmente olhando para um ovo.
Por isso o marketing será tão crucial. A Egg Innovations, uma grande produtora que irá lançar seus ovos regenerativos em todos os supermercados dos EUA em setembro, conta em sua embalagem uma história de criação de um “futuro sustentável”, com suas “galinhas prestativas” com a “missão de restaurar o solo”.
E a empresa não tem vergonha alguma de descrever assim sua grandiosa missão: “Em sua essência”, diz o site da Egg Inovation, “a agricultura regenerativa busca combater as mudanças climáticas e melhorar o ecossistema do planeta”.
Considere os ovos Pastures, um produto novo da Pete & Gerry’s Organics, vendidos por US$ 6,99 a dúzia (um dólar a mais do que os outros ovos especiais da marca). Eles são embalados em um contêiner quase azul Tiffany com letras douradas para armazenar uma dúzia de “belezas sardentas” com “gemas de âmbar de cor intensa”, segundo a descrição no site da empresa.
As embalagens, agora vendidas nos supermercados Whole Foods, abrem a partir do centro, inspiradas no design das embalagens de ovos do início do século 20. “Nós só queríamos fazer algo que fosse único, mas único de verdade”, diz Jesse Laflamme, fundador e diretor da Pete & Gerry’s. “Algo que se destacasse na categoria ovos.”
A indústria está apostando que os mesmos consumidores que pagam mais por atributos premium – como ovos de galinhas criadas ao ar livre, não geneticamente modificados e caipiras – vão abraçar a sustentabilidade.
Pesquisas mostram que as gerações mais jovens estão mais preocupadas com as mudanças climáticas, e parte do sucesso da carne à base de plantas pode ser atribuído aos consumidores que desejam sinalizar seu desejo de proteger o meio ambiente.
Os jovens adultos “de fato se importam com o planeta”, diz John Brunnquell, presidente da Egg Innovations. “Eles estão alterando completamente a cadeia alimentar, muito além até mesmo do que eles acham que estão, ao que me parece”.
Os produtores continuam a buscar maneiras de criar mais ovos premium, porque são eles que estão provocando o crescimento da indústria dos Estados Unidos. O volume de vendas dos ovos sem-gaiola saltou 12% no ano encerrado em 10 de abril, enquanto os ovos orgânicos subiram mais de 7%, segundo dados da NielsenIQ.
Enquanto isso, as vendas dos ovos convencionais caíram cerca de 3%. “As pessoas não acreditavam muito nisso quando nós começamos” a vender ovos orgânicos caipiras, diz Laflamme, que está no setor há duas décadas.
“Tínhamos um fio de esperança de que esta abordagem fosse fazer sentido junto aos consumidores. E, à medida que eles foram se tornando mais informados sobre de onde vêm os alimentos deles, isso aconteceu.”
Tradução por Fabrício Calado Moreira
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