Apoio:
Parceiro institucional:
Enfrentar as questões que envolvem o uso de terra é uma parte fundamental da descarbonização do Brasil (Kadijah Suleiman/Embrapa Gado do MS/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 28 de agosto de 2023 às 07h00.
O Brasil, sexto maior emissor de gases de efeito estufa (GEE), tem um perfil dirente dos outros países que encabeçam a fila, é o que mostra o novo estudo da consultoria McKinsey com um diagnóstico das emissões. "O desmatamento ilegal tem a maior ‘contribuição’ dessas emissões, além de trazer análises de impacto socioeconômico. O estudo foca na análise do Brasil, que tem uma situação única: 95% da redução das emissões pode ser feita com um custo abaixo de $20 USD por tonelada de carbono. No entanto, as possibilidades de descarbonização podem ser aplicáveis a outros países e cenários", diz João Guillaumon, sócio da McKinsey.
Pra ele, as principais alavancas de descarbonização, por setor, são:
Ainda de acordo com a publicação, no cenário ‘Net Zero 2050’, ações ambiciosas são tomadas em todos os setores para descarbonizar a economia, incluindo a redução de desmatamento ilegal, adoção de práticas sustentáveis de manejo pecuário (ambos significam 80% dos abatimentos) e contenção do crescimento de emissões em outros setores. Nesse cenário, um preço de carbono de aproximadamente US$ 20 permitiria a transição, o que exigiria US$ 80 bilhões em média anual de investimentos. Além disso, haveria uma contribuição de até 15 bilhões de dólares para o PIB e a criação de até 1,1M de empregos.
"Enfrentar as questões que envolvem o uso de terra é uma parte fundamental da descarbonização do Brasil, e a velocidade em que o país for capaz de controlar o desmatamento ditará o ritmo no qual alcançaremos o carbono zero. O sucesso dessa empreitada é possível, na medida em que reduzir o desmatamento pode ser uma fonte de oportunidade econômica e de geração de co-benefícios para a sociedade e para o ambiente, incluindo a proteção da biodiversidade, a segurança hídrica, a criação de empregos e a geração de valor econômico. É preciso que o mercado reconheça a oportunidade e esteja preparado para investir e posteriormente capturar valor", diz Henrique Ceotto, sócio da McKinsey.
O desmatamento corresponde a cerca de 1/3 das emissões nacionais de GEE (31% em 2021, de acordo com o SEEG), se colocando como a principal fonte emissora do país. A estimativa é de que 94% do desmatamento ocorra de forma ilegal na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo e também o bioma brasileiro que concentra 80% das emissões provenientes da conversão de florestas. "Para combater o desmatamento será necessário tratar temas de regulação fundiária, ao mesmo tempo em que se criem cada vez mais incentivos e negócios com alta geração de valor a partir da floresta em pé", diz Ceotto.
Uma das possibilidades para a menor emissão no Brasil é a promoção da agricultura de baixo carbono. De acordo com o executivo, em sistemas de criação extensiva de gado, a recuperação de pastagens degradadas com forragem de alta qualidade poderia gerar um retorno de R$ 2,20 reais por cada real investido, por suportar o aumento do número de cabeças por hectare e o ganho de peso do rebanho.
"É necessário ampliar a nossa experiência para práticas de agricultura regenerativa, fomentando programas de financiamento de medidas destinadas à transformação do setor, que pode demandar investimentos de cerca de 3 trilhões de dólares até 2050. Para potencializar o valor capturado durante a transição, o mercado deve discutir e implementar medidas de capacitação, extensão rural e mecanismos de financiamento para produtos agrícolas com menor intensidade de carbono".
De acordo com o estudo, diferentemente do Brasil, os primeiros países da lista de maiores emissores têm um perfil de emissões voltado majoritariamente à utilização de carvão e outros combustíveis fósseis em sua matriz energética, principalmente nos setores de transporte, indústria e edificações, sendo eles:
Com a proximidade da COP28, a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, todos os países precisam trabalhar conjuntamente para a sustentabilidade do planeta.
A implantação do Acordo de Paris e o estabelecimento de mercados regulados de carbono podem ajudar numa precificação comum e a colocar essas ações em prática. Na visão de Tomas Nauclér, sócio sênior e líder global da prática de sustentabilidade da McKinsey, os principais desafios são definir a melhor forma de mensurar e rastrear emissões e absorções de carbono e estabelecer diretrizes para geração e comercialização de créditos.
"Ainda estamos avançando nas discussões sobre incentivos e instrumentos financeiros, e regras mais claras são necessárias para garantir a demanda atrair investimentos em Soluções Naturais. Também é importante recompensar e premiar os esforços das empresas que apoiam projetos de conservação e recuperação de florestas, além dos seus próprios esforços de descarbonização".
Além disso, outra parte desse esforço deve vir da criação de novos negócios sustentáveis, com atuação em grande escala. "O Brasil tem vantagens estruturais que permitirão criar negócios, em diferentes setores, com impacto relevante na descarbonização tanto local quanto globalmente. Para isso, será necessário sermos ambiciosos e acelerar o crescimento dos novos negócios muito além do que vemos em empresas intensivas em capital", afirma.