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Plataforma feminina
Publicado em 25 de junho de 2024 às 11h28.
Última atualização em 25 de junho de 2024 às 11h29.
por Luciana Coen*
Alguns anos atrás, uma marca bastante famosa lançou uma campanha publicitária no SuperBowl – o espaço comercial mais caro do mundo – para levantar uma bandeira importante: a equidade de salários entre homens e mulheres. Uma peça muito bonita, direção de arte primorosa, roteiro cativante e uma mensagem de impacto, entregue com respeito e dignidade. Foi um desastre.
O que deu errado?
Imediatamente à veiculação da peça, as pessoas começaram a se perguntar quantas mulheres faziam parte da alta liderança da dita empresa. A resposta não era muito promissora: apenas 16% das pessoas em cargos de diretoria eram mulheres. Já no conselho de administração, o número de mulheres era zero. A desconexão entre o discurso e a prática não desceu bem. E a Internet não perdoa.
Apesar desta história já ter quase uma década, ela é emblemática por demonstrar a complexidade e as nuances de um programa de equidade bem estruturado. Nossa cultura carrega uma carga de patriarcado que é milenar. Nossa visão sobre o tema é repleta de vieses e pontos cegos. A transformação verdadeira é longa e é árdua. Mas é necessária.
Devagar, o mundo vai mudando. Mas no Brasil, a mudança é ainda mais lenta. A pesquisa “Board Members Latam 2023/2024” realizada pela PageGroup colocou o país como um dos que menos abre espaço para as mulheres nos Conselhos de Administração, com apenas 25% das cadeiras ocupadas por mulheres. Um estudo similar do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que leva em conta também cargos de alta diretoria, coloca este número em 15,2% em 2023.
A presidência do conselho por mulheres só é uma realidade em 7% das empresas nacionais, o que com certeza é um fator crucial para virarmos essa chave. De acordo com a pesquisa “Panorama Mulheres”, promovida pelo Talenses Group, o número de mulheres em cargo de liderança é em média 20% maior nas empresas presididas por mulheres. A mudança tem que começar de cima. E é nos conselhos que podemos ver essa mudança se realizar de fato.
A pauta já é debatida em Brasília: no final de 2023, a Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou o PL 1246/21, que estabelece uma cota de 30% para a presença de mulheres nos conselhos de administração de empresas públicas, sociedades de economia mista e outras companhias em que a União, o Estado ou o Município detenha a maioria do capital social com direito a voto. Estabelece, também, que 30% destas vagas devem ser ocupadas por mulheres negras ou portadoras de deficiências. O texto aguarda apreciação da Comissão e Constituição, Justiça e Cidadania para entrar em votação.
A aprovação do PL abrirá mais uma via de acesso para as mulheres chegarem às cadeiras que realmente fazem a diferença. Esse processo tem tudo para resultar em um ciclo de feedbacks positivos, onde mais mulheres alcançam posições de onde podem mentorar, promover e empoderar outras mulheres.
É importante dizer, também, que junto com mulheres e outras populações minorizadas ou minorias, vêm também outras ideias em conselhos, outras disciplinas também. A defesa da diversidade em conselhos é, depois de ser o correto a ser feito, uma questão de inovação, de eliminação de vieses, de novas ideias! Conselhos hoje, infelizmente, estão cheios das mesmas visões e com as mesmas disciplinas. Temas importantes como Reputação e Gestão ESG ainda são deixados de lado.
De toda forma, não é uma legislação que vai resolver o problema. É necessário promover uma mudança de cultura a nível nacional, fomentar redes de apoios e criar ferramentas para que as empresas compreendam o valor que elas deixam de aproveitar ao não olhar de forma cuidadosa para quase metade da força de trabalho do país.
* Luciana Coen é diretora de Comunicação Corporativa da SAP Brasil, membra da WCD e Presidente do Conselho do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.