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O texto de Dubai reconheceu que os países em desenvolvimento, muito endividados, precisam de bilhões de dólares para cumprir as metas climáticos esta década (Leandro Fonseca/Exame)
Agência de notícias
Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 13h28.
Após o apelo histórico da COP28 para abandonar progressivamente os combustíveis fósseis, os analistas afirmam que a pressão se concentra agora em acelerar, e financiar, a transição energética mundial.
O acordo foi alcançado após uma disputa diplomática entre países com interesses divergentes, durante uma reunião de cúpula do clima nos Emirados Árabes Unidos que aconteceu nos últimos dias do ano mais quente já registrado na história.
O texto defende uma "transição dos combustíveis fósseis (...) de uma maneira justa, ordenada e equitativa", depois de três décadas sem mencionar o principal responsável pela poluição, culpado pelo aquecimento global.
Os analistas afirmam que é um momento decisivo, mas também o mínimo necessário para reorientar o planeta para um caminho mais seguro.
O maior desafio será transformar a promessa da COP28 de Dubai em uma redução mundial das emissões de carbono para limitar o aquecimento a 1,5°C na comparação com os níveis pré-industriais, como estabeleceu o Acordo de Paris de 2015.
A primeira ação é "triplicar a capacidade energética renovável" e "dobrar a eficiência energética média" até 2030, o que exigirá um grande investimento, em particular nos países em desenvolvimento que têm menos responsabilidade pela crise climática.
Um editorial do jornal indonésio Jakarta Post pediu nesta quinta-feira aos poluentes mais ricos que aumentem o financiamento. "COP28, onde está o dinheiro?", questiona.
O texto de Dubai reconheceu que os países em desenvolvimento, muito endividados, precisam de bilhões de dólares para cumprir as metas climáticos esta década.
Mas, segundo a presidente do Grupo de Países Menos Desenvolvidos e enviada climática do Senegal, Madeleine Diouf Sarr, o texto "não apresenta uma resposta confiável a este desafio".
Com 1,2°C de aquecimento, os cientistas afirmam que a mudança climática é uma das principais causas do calor e dos fenômenos meteorológicos extremos deste ano.
Antes da COP28, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) situou o planeta em uma trajetória de aquecimento de entre 2,5°C e 2,9°C até 2100.
A decisão de Dubai não muda o fato de que o mundo não segue no bom caminho, afirmou a diretora do PNUMA, Inger Andersen, que pediu mais apoio financeiro aos países pobres para a transição energética.
Segundo os analistas, a falta de detalhes sobre o financiamento no texto da COP28 estabelece as bases para que o tema domine as negociações na COP29, que acontecerá em 2024 no Azerbaijão.
Além disso, aumenta a pressão para que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) organizem profundas reformas baseadas no clima.
Nicholas Stern, do Instituto de Pesquisas Grantham da London School of Economics (LSE), afirmou que os países deveriam responder à decisão da COP28 com "um enorme aumento dos investimentos" em energias limpas e crescimento ecológico.
A Agência Internacional de Energia (AIE) calcula que os investimentos mundiais em energias limpas devem alcançar US$ 4,5 trilhões (cerca de R$ 22 trilhões na cotação atual) por ano em 2030, um aumento expressivo em comparação ao US$ 1,8 trilhão (R$ 8,8 trilhões) de 2023.
O diretor da AIE, Fatih Birol, fez um apelo para que os países estabeleçam "políticas concretas".
O crescimento significativo de tecnologias como a eólica e a solar, assim como dos veículos elétricos, permitiu à AIE projetar que a demanda global de combustíveis fósseis alcançará o pico nesta década.
Os produtores de combustíveis fósseis, que minimizaram a previsão da AIE, planejam prosseguir com a exploração do petróleo, gás e carvão, apesar dos alertas dos cientistas.
Para muitos analistas, o acordo de Dubai apresenta lacunas, como a concentração nos combustíveis fósseis como fonte de energia - potencialmente deixando de fora produtos poluentes como plásticos e fertilizantes - ou a referência ao gás como "combustível de transição".
Bill McKibben, fundador da organização ambientalista 350.org, afirmou que o apelo da COP28 pelo fim dos combustíveis fósseis pode parecer "algo óbvio", mas permite insistir em que sua "era" acabou.