O nível de poluição no rio Sena ultrapassa os limites previstos para a realização de competições de triatlo e maratona aquática, segundo análises publicadas nesta sexta-feira, 21, 35 dias antes do início dos Jogos Olímpicos de Paris-2024."Até o momento, as amostras colhidas no Sena não correspondem aos padrões", comentou o prefeito regional, Marc Guillaume, durante coletiva de imprensa. Ainda assim, ele se disse confiante de que as provas previstas poderão ser disputadas no rio.
Segundo o relatório semanal publicado pela prefeitura de Paris e pela prefeitura regional, as más condições meteorológicas dos últimos dias na França explicam o aumento das concentrações de coliformes fecais no rio. "A qualidade da água continua piorando em consequência das condições hidrológicas e meteorológicas desfavoráveis: chuva, vazão intensa, poucas horas de sol, temperaturas abaixo do normal", explicaram as autoridades locais.
Bactérias fecais
Os fatores citados aumentam a concentração de duas bactérias fecais - enterococos e 'Escherichia coli' -, que superam os níveis máximos tolerados para autorizar as competições de natação nas águas do Sena. Em Paris, as águas pluviais e residuais passam pela mesma rede projetada no século XIX e, em caso de chuvas excepcionais, o esgoto transborda.
Entre 10 e 16 de junho, o nível de E-Coli superou quase todos os dias 1.000 unidades formadoras de colônia (UFC) para cada 100 ml, o limite máximo aceito pelas federações internacionais de triatlo e natação (maratona aquática).
Será?
O Sena é um dos símbolos dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, que esperam deixar como legado a possibilidade de nadar em suas águas. Mas, à medida que o evento se aproxima, aumenta a incerteza sobre a possibilidade de organizar os eventos-teste no rio.
O famoso rio parisiense, que sediará a cerimônia de abertura das Olimpíadas em 26 de julho e as provas de natação e triatlo, terá o banho liberado para moradores e turistas partir de 2025, segundo previsão do poder público.
Apesar da incerteza quanto à qualidade das águas, o plano B dos organizadores não envolve, ao menos até o momento, a mudança do local das provas de triatlo e maratona aquática em caso de fortes chuvas, e sim adiá-las por alguns dias.
E os atletas e o público, será que vão encarar o mesmo desafio de competir em um rio poluído? A brasileira Ana Marcela Cunha, campeã olímpica de águas abertas, já se pronunciou sobre a sua preocupação com a qualidade do Sena. "A saúde do atleta" está "em primeiro lugar", afirma na ocasião, defendendo um plano B.
Numa demonstração de confiança, a prefeita de Paris declarou, em abril passado, que planejava se banhar no Sena em junho. A ação foi corroborada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, embora, por cautela, não tenha dito quando dará seus mergulhos. No mesmo mês, Macron publicou na sua conta no X (antigo Twitter):
- "Um passo fundamental para tornar o Sena navegável, a estação de despoluição de águas pluviais em Champigny-sur-Marne está pronta! Todos juntos mobilizados [...] estamos chegando lá. A água do Sena será fresca... mas limpa. Posso confirmar para vocês!", brincou o presidente, dando a entender que cumprirá a promessa de mergulhar no Sena.
Em fevereiro, o presidente francês declarou, em tom jocoso, sobre a possibilidade de nadar no famoso rio: "Sim, eu irei, mas não vou contar a data, caso contrário corro o risco de encontrar todos vocês de novo."
No momento, no entanto, Macron está mais preocupado com as eleições legislativas, previstas para 2027 e que foram antecipadas para 30 de junho e 7 de julho próximos (datas do primeiro e do segundo turno, respectivamente), quase três semanas antes do início dos Jogos Olímpicos.
Rios de dinheiro
Embora os parisienses se banhassem nus no Sena no século XVII, a prática foi proibida em 1923 devido aos "perigos causados pela navegação fluvial e pela poluição". Até a década de 1970, o banho era permitido nos subúrbios parisienses. No início do século XX, esses locais proporcionavam lazer para as classes trabalhadoras, com praias com areia e festas populares.
Em 1990, o então prefeito e futuro presidente Jacques Chirac apresentou a ideia da reapropriação do rio, promessa que a atual prefeita Anne Hidalgo reiterou em 2016 com a candidatura olímpica.
A balneabilidade, se for atingida, será graças a um investimento de US$ 1,4 bilhão e a significativos trabalhos de limpeza no rio há muito considerado um aterro sanitário. (Com AFP)