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Ofensiva contra diversidade e antissemitismo: entenda o congelamento de fundos de Harvard

Universidade perdeu US$ 2,2 bilhões após recusar demandas de Trump sobre governança acadêmica e políticas de inclusão

Harvard Medical School: recursos congelados beneficiam, entre outros programas, hospitais afiliados cujos médicos lecionam na escola de medicina da prestigiada universidade. (Harvard/Divulgação)

Harvard Medical School: recursos congelados beneficiam, entre outros programas, hospitais afiliados cujos médicos lecionam na escola de medicina da prestigiada universidade. (Harvard/Divulgação)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 15 de abril de 2025 às 10h23.

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O governo de Donald Trump anunciou nesta segunda-feira (14) que congelou 2,2 bilhões de dólares (R$ 12,8 bilhões) em fundos destinados à Universidade de Harvard, após a instituição se recusar a cumprir exigências relacionadas ao combate ao antissemitismo no campus.

Harvard recebeu na sexta-feira um documento com demandas federais que classificou como "sem precedentes", após o governo federal ter anunciado previamente uma revisão de quase 9 bilhões de dólares em financiamento federal para a universidade.

A decisão na Casa Branca ocorreu horas depois da universidade ter rejeitado formalmente a série de demandas do governo, que incluíam mudanças drásticas em sua governança, práticas de contrataçã e políticas de admissão.

"O Grupo de Trabalho Conjunto para Combater o Antissemitismo anunciou o congelamento de 2,2 bilhões de dólares em subsídios ao longo de vários anos", informou o Departamento de Educação em comunicado, bem como "contratos plurianuais no valor de 60 milhões de dólares" (R$ 350,5 milhões).

As exigências são parte de uma iniciativa mais ampla da administração Trump contra o que classifica como "antissemitismo desenfreado e ideologia esquerdista" nos campi universitários.

Em carta dirigida à comunidade universitária, Alan Garber, presidente interino de Harvard, declarou que a instituição "não abrirá mão de sua independência nem renunciará aos seus direitos constitucionais".

Uma ofensiva coordenada contra universidades

A pressão sobre Harvard não é um caso isolado. Desde janeiro de 2025, quando Trump retornou à presidência, sua administração intensificou ações contra políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) tanto em instituições acadêmicas quanto em empresas.

O Departamento de Educação já havia cortado 400 milhões de dólares da Universidade Columbia, depois que a instituição serviu como epicentro dos protestos relacionados à guerra em Gaza no ano passado.

Diferentemente de Harvard, Columbia optou por negociar com o governo federal na tentativa de recuperar os fundos.

Além disso, o Departamento de Educação anunciou investigações em 45 universidades por supostas práticas discriminatórias baseadas em raça, enquanto 60 instituições receberam advertências sobre possíveis cortes de financiamento caso não resolvam denúncias de assédio antissemita.

O aumento da pressão governamental ocorre após a Suprema Corte ter revogado, em 2023, a política de ação afirmativa nas admissões universitárias, decisão que já havia enfraquecido significativamente os esforços institucionais para aumentar a diversidade no ensino superior americano.

Harvard se mantém firme

Em sua carta à comunidade universitária, Garber foi enfático ao defender a autonomia da instituição. E ressaltou que as demandas "representam regulamentação governamental direta das 'condições intelectuais' em Harvard".

"Nenhum governo — independentemente de qual partido esteja no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar, e quais áreas de estudo e investigação podem seguir."

Segundo o presidente interino, as exigências do governo violam os direitos da Primeira Emenda da universidade e excedem os limites estatutários da autoridade governamental sob o Título VI da Lei dos Direitos Civis.

Entre as exigências estavam a contratação "baseada no mérito", incluindo uma revisão de plágio para todos os membros do corpo docente existentes e potenciais, com supervisão do governo federal "pelo menos até o final de 2028".

O governo também exigia que a universidade alterasse sua triagem de estudantes internacionais e contratasse um auditor externo para avaliar a "diversidade de pontos de vista" entre estudantes, professores e liderança.

Os advogados da universidade, Robert K. Hur e William A. Burck, também se pronunciaram, respondendo que Harvard já implementou mudanças nos últimos 15 meses.

As medidas incluiram ações disciplinares para quem viola as políticas da instituição e programas para promover a diversidade ideológica. Portanto, classificaram as demandas do governo como inconstitucionais e ilegais.

Impacto financeiro e incertezas

Os subsídios federais representam aproximadamente 11% das receitas de Harvard, sobre um orçamento anual de 6,4 bilhões de dólares, segundo dados divulgados pela universidade. E o congelamento afeta muito mais que seu orçamento operacional.

Em sua carta, Garber enfatizou a importância da parceria de longa data entre o governo federal e universidades de pesquisa como Harvard, que "impulsionou inovações revolucionárias em uma ampla gama de campos médicos, de engenharia e científicos". Ele alertou que:

"O afastamento do governo dessas parcerias agora arrisca não apenas a saúde e o bem-estar de milhões de indivíduos, mas também a segurança econômica e a vitalidade de nossa nação"

Segundo documentos oficiais, os fundos federais destinam-se a pesquisas pioneiras em tratamentos para doenças como Alzheimer, Parkinson e diabetes, além de avanços em inteligência artificial e ciência quântica.

Os recursos também beneficiam hospitais afiliados cujos médicos lecionam na Harvard Medical School, apoiando trabalhos médicos vitais para pacientes.

A disputa entre Harvard e o governo federal parece longe de terminar. Enquanto isso, outras universidades observam atentamente os desdobramentos, avaliando suas próprias estratégias para lidar com as demandas federais sem comprometer sua autonomia acadêmica.

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