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Novo marco do saneamento pode atrair 51 bilhões de reais em capital privado para o setor, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional (./Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 21 de agosto de 2020 às 12h51.
Última atualização em 21 de agosto de 2020 às 15h31.
Da janela de seu escritório, Teresa Vernaglia, CEO da BRK Ambiental, enxerga o Rio Pinheiros, em São Paulo. “É um desastre ambiental aqui do meu lado”, afirma a executiva, que comanda uma das principais empresas de saneamento do País. A falta de tratamento de água e esgoto, causa da morte dos principais rios da capital paulista, Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, não está distante da Faria Lima, um dos centros financeiros da metrópole. “A gente passa pelas marginais e vê o problema”, afirma Vernaglia.
A questão do saneamento é um exemplo de um problema ambiental que causa um problema social. Praticamente metade do País não conta com tratamento de esgoto, o que representa um entrave para o desenvolvimento brasileiro. “As maiores concentrações populacionais estão nas periferias dos grandes centros urbanos, onde as pessoas convivem com esgoto a céu aberto”, diz a executiva. “Existem diversas dimensões para o problema”, afirma.
O cenário gera algumas situações “malucas” do ponto de vista econômico, como ela define. “Nós temos regiões que sofrem com a seca e, ao mesmo tempo, estamos jogando esgoto não tratado nos mananciais”, relata Vernaglia. “Olha o que aconteceu no Rio de Janeiro, onde 9 milhões de pessoas tiveram de conviver com água barrenta e com mau cheiro. Em muitas cidades, as empresas captam água em verdadeiros esgotos.”
A boa notícia é que existe, atualmente, um “alinhamento dos astros” a favor do setor. A aprovação do marco regulatório do saneamento, em junho, abre caminho para uma enxurrada de investimentos. A expectativa do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, é de atrair 51 bilhões de reais de capital privado para projetos que já estão prontos para serem colocados no mercado.
Ao mesmo tempo, o tema entrou na pauta da sociedade e a pressão estrangeira por medidas de proteção ambiental, área em que o governo vem sendo duramente criticado, aumenta a urgência em resolver a questão da água. “Não falta dinheiro. Faltavam legislação e bons projetos”, afirma Vernaglia.
Mas, ainda tem coisa a ser feita antes de comemorar a universalização do saneamento no País. A nova legislação precisa ser regulada, a Agência Nacional das Águas deve começar a funcionar e há a questão do decreto que regulamenta a capacidade econômica que as empresas de saneamento devem ter para serem elegíveis à renovação de contratos. “Mesmo como tudo isso em aberto, já existem projetos em andamento”, afirma a executiva. “Agora é a hora de ter foco e comunicar melhor para tornar a questão tangível para a sociedade.”