Apoio:
Parceiro institucional:
Sem controle: diferentes biomas queimam no Brasil; na imagem, Corumbá (MS) (AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 19 de setembro de 2024 às 13h36.
O Brasil está em chamas. E não só na Amazônia. Quase dois terços do território do maior país da América Latina são afetados pela fumaça produzida nos incêndios florestais fora de série.
Favorecidos por uma seca extrema, estes incêndios são "uma demonstração da gravidade da mudança climática", embora sejam desencadeados por "criminosos", afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Isto é o que se sabe sobre esta onda de incêndios.
Segundo dados coletados por satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), desde o início do ano foram identificados 188.623 focos de incêndios no Brasil. O número já contabiliza quase o total do ano passado (189.926).
A situação se agravou particularmente em setembro, com 61.572 focos registrados em 17 dias, frente aos 46.498 durante este mês de 2023.
Na Amazônia, o número de incêndios desde o início do mês já é significativamente maior do que o mesmo período em 2019 (31.412 face a 19.925), quando estes incidentes na maior floresta tropical do planeta provocaram indignação mundial e colocaram na defensiva o então presidente ultradireitista Jair Bolsonaro (2019-2022).
Os números de 2024 ainda estão longe do recorde de 2007 (393.915 em todo o ano, com pico mensal de 141.220 em setembro). Mas desta vez os incêndios ocorrem "quase no mesmo momento em várias regiões do Brasil", o que "acaba gerando uma dificuldade de lidar com o problema", explica à AFP Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
"Tem influência da mudança do clima, (...) teve influência do El Niño". Isto favorece que o país viva "um período mais seco desde junho do ano passado", explica Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, uma rede de ONGs.
Nestas condições de seca extrema, "para pegar fogo, realmente basta uma faísca. E essa faísca é começada pelo ser humano", acrescenta Alencar.
Portanto, a maioria destes incêndios tem origem criminosa.
Um dos casos mais comuns é o de pecuaristas que utilizam queimadas para limpar os pastos. Normalmente, esta prática tradicional só é permitida com autorização prévia do estado onde o terreno está localizado. A crise atual levou à sua proibição absoluta em todo o país.
"Talvez seja a lei menos respeitada no Brasil", completa a diretora de ciência do Ipam.
Com a seca, um incêndio que deveria ser contido foge do controle do agricultor que o iniciou, com consequências catastróficas.
Outro cenário, segundo especialistas, é que alguns grandes incêndios sejam iniciados pelos grileiros para queimar florestas públicas e se apropriar das terras, transformando-as em pastos.
Por último, um perfil mais difícil de especificar: o do indivíduo que, por motivações ainda a serem determinadas, busca "realmente ver só o caos", segundo o diretor de Meio ambiente e Amazônia da Polícia Federal, Humberto Freire.
"Tem pessoas utilizando o fogo como arma, cometendo crimes para ocupar a terra ou para chamar a atenção", resume Alencar.
Marina Silva denuncia, por sua vez, o "terrorismo climático" de "criminosos" que usam a "mudança do clima" para provocar incêndios em benefício próprio.
O presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva declarou na terça-feira, 17, que o Brasil "não estava 100% preparado" para enfrentar esta onda de incêndios, antes de liberar R$ 514 milhões para combatê-los.
"O governo em todos os níveis da federação, governo federal, governos estaduais e governos municipais, teriam de estar agindo com muito mais força", analisa Araújo, que presidiu o órgão público de monitoramento ambiental Ibama de 2016 a 2019.
"A ministra do Meio Ambiente e [a] equipe do Ministério do Meio Ambiente estão atuando em tudo que eles podem, (...) mas o governo como um todo teria que estar mais envolvido nisso. Teríamos que estar ouvindo vários ministros falando do tema, tentando articular com os governadores", acrescenta.
"Se você tem queimadas que são provocadas pelo homem e não há uma ação para coibir isso, vai continuar queimando até que chova. E a previsão é um período de estiagem que deve perdurar até outubro", alerta Karla Longo, pesquisadora do Inpe.
"O período chuvoso tem seu início na segunda quinzena de outubro, [mas] é possível que haja um certo atraso dado o ressecamento excessivo do solo e a baixa condição de umidade atmosférica", declarou Ricardo de Camargo, professor de Meteorologia da Universidade de São Paulo (USP).