Instalação de painel de energia solar (Sean Gallup/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 8 de setembro de 2022 às 11h04.
Última atualização em 8 de setembro de 2022 às 11h41.
O Brasil é um país rico em sol, que apresenta boas condições para a implantação da energia solar térmica, de acordo com especialistas. Por receber uma radiação solar média entre 4,2 e 6,2 kWh/m² por dia, há um potencial anual de energia solar de 1.500 a 2.264 kWh/m², que pode ser absorvido pelos coletores solares térmicos. Além disso, e apesar das adversidades macroeconômicas, há um significativo parque industrial. Então, o que falta para as indústrias fazerem maior uso desse tipo de energia?
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Para o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Térmica (Abrasol), Luiz Antonio dos Santos Pinto, uma série de fatores atrapalha a plena adoção da tecnologia já tão utilizada em outros países com menos insolação: legislação desfavorável para investimentos em eficiência energética; ausência ou não adequação de linhas de financiamento; falta de incentivo das autoridades; e desconhecimento em relação à tecnologia.
Segundo ele, ampliar o uso dos aquecedores solares neste momento seria uma contribuição relevante ao Brasil para reduzir os custos de produção e atender ao Acordo de Paris (tratado mundial que tem como objetivo reduzir o aquecimento global). “O setor industrial consome apenas 4% das vendas de aquecedores solares — um número pequeno em comparação aos segmentos residencial (76%) e comercial (14%)”, afirma.
É importante destacar que a produção brasileira de aquecedores solares em 2021 somou 1,81 milhão de metros quadrados, o que significou um aumento de 28% em relação a 2020. “Nos últimos 25 anos, chegamos à marca de 21 milhões de metros quadrados instalados, com potência energética superior à Usina de Itaipu, evitando anualmente a emissão de mais de 4 milhões de toneladas de CO₂ no meio ambiente brasileiro”, diz Santos Pinto.
A energia solar térmica pode ser utilizada para fornecer água quente até 100 ºC ou vapor para uma grande variedade de processos de produção: lavagem, branqueamento e tingimento na indústria têxtil; fabricação de cerveja; recurtimento em fábricas de couro; pasteurização de leite em laticínios; limpeza e tratamento de superfícies de máquinas de produção e chapas metálicas; além de secagem de dejetos orgânicos e lodo de esgoto para produção de fertilizantes agrícolas. Ou seja, seu uso pode ocorrer em segmentos como Alimentos e Bebidas, Papel e Celulose, Químico, Têxtil e Couro, entre outros.
Segundo o presidente da Abrasol, boa parte da demanda de calor industrial está abaixo de 90 ºC e consegue ser atendida de forma eficiente por tecnologias termossolares produzidas atualmente pelas indústrias nacionais de aquecedores que já vendem para residências e comércios, com suas instalações projetadas e instaladas por engenheiros e técnicos.
Há também uma grande demanda de calor até 150 ºC atingida facilmente por coletores importados de tubo a vácuo e fornecidos por várias indústrias brasileiras, com possibilidade de serem produzidas no País se houver maior demanda. Além disso, equipamentos específicos de aquecimento solar podem atingir mais de 1.000 ºC e atender quase toda a demanda de calor nas indústrias, mas ainda são economicamente inviáveis, embora com tecnologia totalmente dominada pelas indústrias nacionais.
“O aquecimento solar para processos industriais pode economizar uma quantidade significativa de custos de energia e combustíveis fósseis ao longo dos 30 anos de vida útil dos equipamentos, contribuindo significativamente para a competitividade industrial brasileira. As aplicações podem produzir calor o ano inteiro e incluir sistemas de armazenamento, que permitem operar durante a noite”, diz.
De toda a energia demandada pela indústria, apenas cerca de 20% é energia elétrica; o restante, cerca de 80%, é energia térmica, dos quais cerca de 35% com temperatura até 150 ºC, viável tecnicamente e economicamente para ser produzida por aquecedores solares no País como já mencionado. Para atender apenas esta demanda seriam necessários 170 milhões de m² de aquecedor solar, que evitariam a emissão de mais de 35 milhões de toneladas de CO₂ no meio ambiente e gerariam dezenas de milhares de empregos.