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Energia: Brasil defende a transição energética e, a mesmo tempo, incentiva a exploração de petróleo (Petrobras/Divulgação)
Jornalista
Publicado em 1 de dezembro de 2023 às 05h00.
Nesta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá uma extensa agenda em Dubai, durante a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas. Começa às 10 horas, horário local, com um encontro de boas-vindas às delegações que participam do evento, depois se reúne com chefes de Estado ao longo do dia.
Ainda na Expo City Dubai, onde acontece a COP28, Lula irá participar, às 13h30 (horário local), da Primeira Sessão do Segmento de Alto Nível para Chefes de Estado e de Governo.
Estão previstos encontros com Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido, Isaac Herzog, presidente do Estado de Israel, António Guterres, secretário-geral da ONU, Ursula von der Leyern, presidente da Comissão Europeia, e Pedro Sánchez, presidente da Espanha.
O último compromisso do dia será um jantar oferecido por Lula e Janja da Silva, além do presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed bin Zayed, batizado de “The Amazon: na immersive experience”.
Mais do que um giro internacional, a presença do presidente brasileiro em Dubai desperta a torcida de parte dos participantes de que ele seja a principal voz dos países em desenvolvimento, mais afetados pelas emissões de gases de efeito estufa de grandes potências econômicas.
Pouco antes de embarcar no Catar em direção a Dubai, no fim da tarde de quinta-feira, 30, Lula deu sinais em seu discurso de que pretende manter a linha defendida em fóruns internacionais, como visto na Assembleia Geral da ONU, em setembro. Para ele, os países desenvolvidos devem dar apoio financeiro para manter as florestas de pé.
“Vamos para a COP discutir a preservação da Floresta Amazônica e ver se os países ricos estão dispostos, efetivamente, a fazer os investimentos para os países que têm floresta manterem suas florestas em pé e o povo tomando café, almoçando e jantando todo dia, porque embaixo de cada copa de árvore mora um cidadão brasileiro”, disse aos jornalistas.
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Lula e sua equipe falam em zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 – tema que mobiliza a atenção internacional. Da mesma forma, o governo diz estar avançado no caminho da transição energética, se colocando como potencial parceiro de países, como fez agora com a Arábia Saudita (segundo maior produtor mundial de petróleo), que estejam em busca de cooperação nessa área.
No entanto, por vezes os sinais vindos do Palácio do Planalto parecem vir trocados. No mesmo dia em que Lula desembarcava em Dubai, no entanto, era divulgado o convite ao Brasil para aderir à OPEP+, formada pelos 13 integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), mais dez países associados, liderados pela Rússia.
Durante o encontro do G20, em setembro, Lula se mostrou favorável aos combustíveis fósseis, um dos temas mais importantes dos debates na COP28, ao falar da possibilidade de exploração de petróleo na chamada Margem Equatorial, que abrange a Bacia da Foz do Amazonas.
O presidente brasileiro afirmou que o Brasil não vai deixar de investir na região. Lula avaliou na ocasião que as pesquisas na região não devem ser proibidas.
Apesar dos discursos sobre o Brasil e sua vocação para a energia limpa e no papel de uma das lideranças no processo de transição energética, Lula afirmou que "se encontrar a riqueza que se pressupõe que exista lá, aí é uma decisão de Estado se você vai explorar ou não. Mas veja, é uma exploração a 575 quilômetros à margem do [Rio] Amazonas. Não é uma coisa que está vizinha do Amazonas".
Para o mandatário, no caso da Bacia da Foz do Amazonas, o país deve fazer o que for entendido como de interesse soberano. "Não foi pesquisado ainda. É impossível saber antes de pesquisar. Você pode pesquisar, descobrir que tem muita coisa, aí vai se discutir como fazer a exploração daquilo", comentou.
O flerte com a energia limpa e, ao mesmo tempo, com a defesa da exploração de novos poços de petróleo pode fragilizar o Brasil em alguns debates. Por exemplo, à mesa de negociação para o financiamento da preservação das florestas ou até mesmo nas costuras para um acordo entre Mercosul e União Europeia, que colocou o bloco e sua pauta agroambiental contra a parede se quiser exportar.