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Relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) descreveu o biochar como tendo “grande potencial de mitigação na agricultura". (Reprodução/Getty Images)
Colunista
Publicado em 12 de setembro de 2024 às 14h00.
Entre as soluções cada vez mais relevantes para a gestão de resíduos e as mudanças climáticas, o biochar à base de bagaço de cana-de-açúcar surge como aquela que pode resolver três problemas de uma só vez.
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, respondendo por 30% a 40% da produção anual do planeta. Mas é no bagaço, após a utilização da cana para produzir açúcar e etanol, que fica a próxima grande oportunidade da indústria – e do país.
Nos últimos anos, o bagaço da cana tem sido utilizado como fonte de energia elétrica renovável, reduzindo a necessidade de produção de energia fóssil. No caso do biochar, trata-se de uma conversão termoquímica do bagaço em um sólido, trazendo diversos benefícios.
O termo “biochar” foi desenvolvido para se referir à substância anteriormente chamada de “Terra Preta de Índio”, um solo particularmente fértil descoberto perto das ruínas de uma civilização pré-colombiana localizada na bacia amazônica, contrastando com os solos tipicamente deficientes em nutrientes da Floresta Amazônica. Esta “Terra Preta” foi usada pelos habitantes da região para melhorar o solo local para fins agrícolas. Pesquisas nos séculos seguintes à sua descoberta revelaram uma série de benefícios que o biochar apresenta quando aplicado ao solo, especialmente solos com deficiências existentes.
Um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) descreveu o biochar como tendo “grande potencial de mitigação na agricultura”, e por boas razões. O material, produzido pelo processo de pirólise - um tipo de queima sem oxigênio - não apenas sequestra e estabiliza o carbono do bagaço da cana-de-açúcar, tornando-o uma ferramenta promissora para a sustentabilidade, mas também pode melhorar a saúde do solo e o rendimento das culturas, abordando a indústria agrícola que é tão vital para o Brasil. Ele faz tudo isso ao mesmo tempo em que é uma solução eficaz para a gestão de resíduos, aproveitando o bagaço que de outra forma ficaria nos campos de cana-de-açúcar, liberando 70% do seu carbono na atmosfera em apenas um ano.
Estudos realizados no estado de São Paulo mostram que o biochar no solo melhorou o crescimento das culturas em 15% com relação aos fertilizantes tradicionais. Além disso, a implementação do biochar poderia sequestrar cerca de 115 milhões de toneladas de CO2 por ano, o que corresponde a mais da metade das emissões nacionais no transporte rodoviário.
No geral, as mais de 700 milhões de toneladas de cana-de-açúcar colhidas anualmente no Brasil, o equivalente a mais de 3 toneladas por brasileiro por ano, são responsáveis por mais de 20% da produção do açúcar mundial e 25% da produção de etanol. Se o biochar a partir do bagaço de cana-de-açúcar for agregado à prática atual, o grande potencial de produção é uma oportunidade para o Brasil avançar nas suas iniciativas agrícolas e ambientais.