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Gabriela Augusto: "Ter diversidade na alta administração de uma empresa é uma decisão capaz de trazer benefícios para o negócio em si e para toda a sociedade" (Débora Oliveira/Divulgação)
Plataforma feminina
Publicado em 6 de março de 2024 às 17h17.
Por Gabriela Augusto
É amplamente conhecido que, em 2023, foram aprovadas novas regras de diversidade para empresas listadas na B3. De acordo com a Resolução CVM n. 59, as companhias que não tiverem ao menos uma mulher e uma pessoa de um grupo sub-representado em seu conselho de administração, fiscal ou diretoria estatutária precisarão se explicar ao mercado.
Nesse sentido, a igualdade de gênero no alto escalão continua sendo um desafio. De acordo com um levantamento feito pela B3, divulgado em agosto de 2023, 55% das empresas com ações negociadas em bolsa no Brasil não têm mulheres entre sua diretoria estatutária, e 36% delas não têm participação feminina no Conselho de Administração.
Quando analisados os critérios de autodeclaração de cor e raça, os dados são ainda mais alarmantes. A proporção de companhias com ao menos uma pessoa negra (preta ou parda) em um desses órgãos não passa de 11%. Em outras palavras, isso quer dizer que 89% das empresas não têm uma pessoa negra nem no conselho e nem na diretoria.
Para além da presença feminina e do recorte racial, a representatividade de outros grupos é nula ou quase nula. Enquanto mulher negra e trans, assumi o conselho de uma grande organização no início deste ano e foi a primeira vez que algo assim aconteceu. Em uma busca realizada com dados publicamente acessíveis, não encontrei pessoas com essas mesmas características ocupando posição similar em outra empresa ou instituição de porte igual ou superior.
Desde reuniões com a diretoria de grandes empresas, eventos de negócios, cursos de governança até listas de reconhecimentos como a Forbes Under 30. Estar sozinha sempre foi a regra e isso precisa mudar.
Ter diversidade na alta administração de uma empresa é uma decisão (sim, demanda intencionalidade) capaz de trazer benefícios para o negócio em si e para toda a sociedade. Listo aqui algumas dessas vantagens:
Em suma, minha experiência como a primeira mulher negra e trans a ocupar um assento em um conselho de uma grande organização ressalta a urgência de promover a diversidade em todos os níveis corporativos. Ao refletir sobre essa jornada, fica claro para mim que a mudança não acontece por acaso, mas requer uma intencionalidade deliberada por parte das lideranças. É crucial que as organizações transcendam suas próprias bolhas e adotem uma abordagem proativa para cultivar ambientes inclusivos. Quando os líderes assumem a responsabilidade pela inclusão, não apenas ampliam as oportunidades para indivíduos sub-representados, mas também fortalecem a capacidade da empresa de inovar, prosperar e impactar positivamente a sociedade como um todo.
*Gabriela Augusto é diretora-fundadora da Transcendemos Consultoria e conselheira do CIEE - Centro de Integração Empresa-Escola. Foi premiada pela McKinsey & Company com o McKinsey LGBTQ+ Achievement Award e reconhecida pela consultoria Llorente y Cuenca como uma das influenciadoras em ESG/D&I mais relevantes do Brasil.