ESG

Apoio:

logo_unipar_500x313
logo_espro_500x313
Logo Lwart

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

O que a inteligência artificial pode (e não pode) fazer pelo combate às mudanças climáticas

Máquinas autônomas aumentam a capacidade humana de prever cenários, fundamental para lidar com a crise climática. O que elas não fazem é pensar

Rodrigo Caetano
Rodrigo Caetano

Editor ESG

Publicado em 30 de maio de 2023 às 07h00.

Última atualização em 31 de maio de 2023 às 19h16.

O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951) inicia seu primeiro grande clássico, Tractatus Logico-Philosophicus, convidando o leitor a pensar. “Este livro talvez seja entendido apenas por quem já tenha pensado por si próprio o que nele vem expresso”, escreve no prefácio. Pode parecer estranho produzir todo um tratado filosófico que só será entendido por quem, de alguma maneira, tenha pensado a mesma coisa. Wittgenstein, no entanto, revolucionou o estudo da linguagem, uma área complexa do pensamento humano, e ao mesmo tempo natural a qualquer pessoa.

Há duas linhas de investigação no trabalho de Wittgenstein. Na primeira, exposta em Tractatus, ele questiona se as formas gramatical e lógica da linguagem coincidem. Para isso, o filósofo busca reduzir a linguagem a elementos atômicos, nomes de objetos simples que, combinados, constituem frases elementares. Essas, quando analisadas, representam a realidade do mundo. Na segunda, exposta em Investigações Filosóficas e Sobre a Certeza, Wittgenstein conclui, ele mesmo, que estava errado. O significado das palavras, na realidade, depende do contexto.

Essa aparente contradição no trabalho de Wittgenstein é ilustrativa do nosso próprio modo de pensar. Somos naturalmente dotados da capacidade de tentar compreender a própria existência, e esse questionamento do ser produz as ideias. É na linguagem que a nossa existência se manifesta, e por meio dela interpretamos o mundo. “A linguagem é a morada do ser”, disse o alemão Martin Heidegger, outro grande filósofo da linguagem. Mas a linguagem também descreve e quantifica o mundo, e assim produzimos ciência. Há dois aspectos, portanto, no pensamento. Um quantificável, e outro não.

Previsão não é inteligência

Fica fácil concluir, a partir do estudo da linguagem, que inteligência e conhecimento são coisas diferentes. E que, talvez, a humanidade não esteja tão perto de emular o pensamento humano quanto o hype sobre o avanço dos sistemas de inteligência artificial (IA) deixa transparecer. Aprender, afinal, não é o mesmo que pensar. Kay Firth-Butterfield, que lidera a área de inteligência artificial no Fórum Econômico Mundial, resume a capacidade desses sistemas:

“IA não é inteligência – é previsão. Com grandes modelos de linguagem, há um aumento na capacidade da máquina de prever e executar com precisão um resultado desejado. Mas seria um erro equiparar isso à inteligência humana”, disse Firth-Butterfield, em entrevista ao site do Fórum.

Essa distinção é importante para saber o que dá, e o que não dá, para fazer com esses sistemas. O impacto da inteligência artificial é gigantesco em quase todas as áreas da economia e da geração de conhecimento. Mas essa tecnologia não revoga o domínio humano sobre o pensar, assim como a invenção do avião não revogou as leis da gravidade.

O que fazer com a IA

Análises fantasiosas e interesses comerciais estão, em vários níveis, exagerando o poder da inteligência artificial. O que, em nenhuma hipótese, estabelece a necessidade de diminuir a capacidade da tecnologia. Como afirma Firth-Butterfield, há um aspecto em particular em que a IA excede a capacidade humana: a previsão. Ao conseguir lidar com volumes absurdos de dados, as máquinas inteligentes podem nos oferecer cenários futuros a velocidades impensáveis a reles mortais. Considere o exemplo do FireAId, projeto do Fórum Econômico Mundial com o governo da Turquia. A ideia é usar IA para prever onde acontecerão os próximos incêndios florestais, e acelerar a resposta das brigadas.

São soluções como essa que demonstram o verdadeiro poder da inteligência artificial, inclusive, para ajudar no combate às mudanças climáticas, um dos maiores desafios (talvez o maior) enfrentados pela humanidade. Procurar o sentido da vida no ChatGPT, ou acreditar que um algoritmo qualquer irá substituir este jornalista, por sua vez, é inútil.

Acompanhe tudo sobre:ESG de A a ZInteligência artificialMês do ESG Exame

Mais de ESG

Decretos energéticos de Trump abrem oportunidades para renováveis brasileiras, diz Paulo Pedrosa

Brasil pode liderar mercado de hidrogênio verde, mas há desafios

Rumo à COP30, especialistas debatem expectativas e protagonismo brasileiro

China bate recordes na expansão das energias renováveis em 2024