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O Brasil precisa investir mais em novas tecnologias para a transição energética, diz Luciana Costa

A diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES destacou à EXAME que o país já está bem posicionado em energia solar e eólica, e que o próximo passo seria atrair capital para conseguir escala em hidrogênio verde, combustível sustentável de aviação e biometano

Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES: "O que outros países estão fazendo é atrair o capital que iria para outros locais. Ou seja, o mundo está usando o subsídio como uma guerra" (Leandro Fonseca/Exame)

Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES: "O que outros países estão fazendo é atrair o capital que iria para outros locais. Ou seja, o mundo está usando o subsídio como uma guerra" (Leandro Fonseca/Exame)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 1 de outubro de 2024 às 10h00.

Última atualização em 1 de outubro de 2024 às 11h00.

"O Brasil já fez a primeira onda da transição energética, mas isso não significa que ganhamos a corrida, e sim que temos uma janela de oportunidade. Precisamos continuar focados para manter a liderança", disse a diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Luciana Costa, em entrevista à EXAME.

Com quase 90% da sua matriz energética renovável, não há dúvidas que o país está bem posicionado: apenas 18% das emissões nacionais são provenientes do setor energético — enquanto o mundo chega perto dos 70%. Para Luciana Costa, por mais que estejamos muito avançados, não devemos parar: "O mundo está se tornando mais intensivo em energia, e precisamos buscar novas rotas de descarbonização. Podemos ser solução global, produzindo e exportando produtos de baixo carbono. São essas oportunidades que estamos discutindo".

Mas, para chegarmos lá, é preciso aumentar os investimentos em novas tecnologias que ainda não são economicamente viáveis sem algum tipo de incentivo ou precificação de carbono — como é o caso do hidrogênio verde, do Combustível Sustentável de Aviação (SAF) e do biometano, destacou a executiva.

Segundo ela, a energia solar e eólica ganharam escala porque o BNDES conseguiu financiar, no passado, as tecnologias que hoje já estão estabelecidas. Agora, há condições e infraestrutura para apoiar as novas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que é o maior financiador de renováveis do mundo, investiu no ano passado cerca de 116 bilhões de reais em todos os segmentos da economia brasileira — sendo que mais de 50% desse valor foi destinado a projetos sustentáveis.

Até o momento, foram investidos 690 milhões de reais em sete iniciativas de biometano, e há um trabalho de mapeamento de empresas que estão desenvolvendo o combustível de aviação, para que os investimentos em larga escala possam começar. No caso do hidrogênio verde, o BNDES deve demorar um pouco mais para entrar com força, pois ainda não existem projetos fechados, frisou Luciana.

"Hoje, o maior desafio para o Brasil atrair investimentos está relacionado às barreiras econômicas, pois, de todas as economias do G20, temos vantagens comparativas que nenhum outro país tem", explica. Como exemplo, ela cita sua democracia estabelecida, dimensão continental, as boas relações geopolíticas e de diálogo com outros países, a matriz energética predominantemente renovável e de custo competitivo, o sistema elétrico integrado e a riqueza em reservas de minerais críticos.

"Já escalamos solar e eólica, o etanol, e temos um potencial gigantesco em biomassa. Além disso, garantimos a segurança alimentar, temos a maior biodiversidade e podemos ser neutros em carbono antes de 2050, sem precisar de novas tecnologias -- pois elas já existem", complementou.

Mas, apesar da série de vantagens comparativas, não há espaço fiscal para subsídios no mesmo volume que os Estados Unidos ou a Europa, reiterou. "O que outros países estão fazendo é atrair o capital que iria para outros locais. Ou seja, o mundo está usando o subsídio como uma guerra".

Segundo ela, isso também impacta o capital que chega ao Brasil, e, se houvesse um mercado de carbono estabelecido e regulado, poderíamos avançar na capitalização.

"Nosso desafio é escalar essas tecnologias, pois outros países também estão querendo atrair investimentos e estão oferecendo muitos incentivos, além de impor barreiras. Há uma competição", acrescentou.

Para além do setor energético, o BNDES aposta no potencial de conservação através de créditos de carbono, visto que o Brasil conta com mais de 100 mil hectares de terras degradadas. Luciana também conta que haverá mais investimentos em soluções baseadas na natureza e em infraestrutura verde.

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