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Milton Pilão, CEO da Orizon: consequências ambientais dos lixões forçam a tomada de consciência da indústria (Leandro Fonseca/Exame)
Editor ESG
Publicado em 11 de agosto de 2023 às 07h00.
Última atualização em 23 de agosto de 2023 às 14h14.
O Brasil possui, em 2023, cerca de 2.000 lixões abertos. Esses depósitos de rejeitos são prejudiciais à população. A contaminação do solo pelo chorume, líquido que se forma da decomposição de material orgânico – aquele caldo preto que fica no fundo do saco, pode contaminar o lençol freático, ou seja, a água. Sem cobertura, o lixo também gera uma toxidade no ar, que é aspirada pelas pessoas no entorno. A necessidade de acabar com essas estruturas é premente, mas como?
“Partindo de uma solução ambientalmente incorreta, que são os lixões, a primeira preocupação é eliminar esse prejuízo, e assim surgiram os aterros sanitários”, afirma Milton Pilão, CEO da Orizon, empresa de valorização de resíduos que opera um dos maiores ecoparques do país, em Paulínia, interior de São Paulo. “Essa é um primeiro passo, mas aí, falando de negócios, temos um segundo passo que é o desenvolvimento das plantas de circularidade. Para isso, é preciso fazer um investimento.”
A circularidade, no caso, consiste em processar as milhares de toneladas de lixo despejado nos aterros todos os dias e reinserir esse material na cadeia de produção. Há várias maneiras de se fazer isso. O plástico, o papelão, o vidro e os metais são mais óbvios por serem recicláveis. Basta separar, juntar, embalar e vender para a indústria. Rejeitos orgânicos, por outro lado, exigem um pouco mais de tecnologia. Esses malcheirosos materiais, no entanto, têm valor, e podem ser transformados em produtos como energia e fertilizantes.
“Falando como investidor, estamos pegando o início de uma onda e já há uma mudança. Mas, perto da parcela da indústria que pode fazer isso, é muito pequeno. Por isso acredito que esse mercado só tende a aumentar nos próximos anos”, diz Pilão.
No Brasil, diz o executivo, a maioria das pessoas não tem ideia de para onde vai o lixo que elas produzem. Na Alemanha, isso é diferente. “Não só os alemães sabem, como cobram os gestores pela destinação correta”, afirma. Essa atitude tem muito de consciência, e um tanto de incentivo econômico. O gerador -- no caso, o cidadão -- paga para jogar o resíduo fora, e a taxa é mais cara para quem não manipula corretamente o lixo, ou seja, há multa para quem não separa os recicláveis.
O modelo europeu, no entanto, é diferente do brasileiro. Os governos por lá adotam o subsídio, remunerando o concessionário de acordo com o nível do serviço. “Pra começar, não existem lixões. Então, se eu instalo um aterro sanitário, recebo por isso 10 ‘patacas’”, explica Pilão. “Se eu incluir uma planta de triagem, recebo 15 ‘patacas’, se gerar energia a partir do biogás, 20 ‘patacas’, e assim por diante.”
No Brasil, não há subsídios. Mas há o marco do saneamento, lei que proíbe a manutenção dos lixões. O concessionário recebe pela gestão do aterro, e o incentivo para instalar plantas de triagem e outras iniciativas circulares vem do mercado. “A partir do chorume, a gente retira o biogás para produzir o biometano, que vendemos para a indústria. Cria-se, assim, um mercado, e você não precisa do subjuntivo do governo”, afirma Pilão.
No ecoparque de Paulínia, a Orizon está trabalhando com o biometano para produzir energia, que é vendida para a CPFL e jogada direto na rede da distribuidora. Há também uma planta de triagem, que separa os materiais reaproveitáveis, como plástico e metais, para serem vendidos como matéria prima. Outra frente de atuação é a produção de fertilizantes a partir do rejeito sanitário entregue pela Sabesp. O lodo é estocado em locais apropriados e depois misturado com amônia e outros componentes, para formar o fertilizante vendido ao agronegócio.
Pilão acredita que o processo de desenvolvimento da economia circular é semelhante ao das energias renováveis. O que motiva a transição energética é a consciência sobre as mudanças climáticas. No caso do lixo, acontecerá a mesma coisa. “Há 15 anos, ainda duvidavam do aquecimento global. Hoje, é difícil encontrar alguém, porque as consequências estão evidentes”, diz o CEO. “Mas o ser humano é assim mesmo, age de acordo com as consequências. Quando começam a chegar mais perto, aceleram o processo. Essa é a beleza de estar nesse mercado hoje.”