Para Celso Athayde, coCEO da Digital Favela e CEO da Favela Holding, empreender é, em muitos casos, questão de sobrevivência (Leandro Fonseca/Exame)
Marina Filippe
Publicado em 26 de julho de 2022 às 07h00.
Última atualização em 26 de julho de 2022 às 16h12.
A metade dos moradores de favelas no Brasil se considera empreendedora, como revela a edição da Digital Favela, encomendada pela Data Favela. Entre os respondentes, 41% têm um negócio próprio, sendo que, para 22%, essa é a principal fonte de renda. E, 57% dos empreendedores declara ter investido nesse formato de trabalho para driblar a ausência de oportunidades com carteira assinada no mercado formal, enquanto 54% dizem ter recorrido a horas extras e bicos para complementar a renda durante o último ano.
Receba gratuitamente a newsletter da EXAME sobre ESG. Inscreva-se aqui
Para Celso Athayde, coCEO da Digital Favela e CEO da Favela Holding, empreender é, em muitos casos, questão de sobrevivência. “Sem emprego, as pessoas se veem obrigadas a procurar alternativas e optam por investir em habilidades que podem virar serviços, como alimentação, estética e manutenção de eletrônicos, por exemplo”.
A maioria dos empreendedores permanece, atualmente, na informalidade. Deles, 63% não possuem CNPJ – ou seja, não têm empresa formalmente aberta para exercer a atividade remunerada. “A informalidade ainda é grande porque estes são negócios criados para suprir necessidades emergenciais e para atender à própria comunidade. Conforme os negócios se consolidam, há uma busca pela formalização, que é importante para conseguir crédito e crescer”, afirma Athayde.
O acesso a capital para investimento é apontado como uma das dificuldades na condução dos negócios para 40% dos entrevistados, seguidos pela falta de equipamentos adequados, em 25% dos casos. Para 14%, a maior dificuldade está em fazer a gestão financeira do empreendimento.
“Ao empreender por necessidade, as pessoas têm poucos recursos formais para embasar os negócios. Elas criam e crescem na raça, apesar das dificuldades. Porém, se tivessem acesso a mais estrutura, certamente, prosperariam ainda mais”. Apesar disto, 81% estão otimistas em relação ao futuro do negócio.
A pesquisa também ressalta a importância da internet nas favelas brasileiras. Dos empreendedores, 58% usam a rede como fonte de informação sobre a atividade que exercem. Também é por ela, especialmente pelas redes sociais, que 76% das pessoas divulgam seus serviços.
“O dado mostra como a favela está conectada, engajada e sendo uma grande fonte de influência. Os próprios moradores sabem qual é a linguagem ideal para atrair seus clientes e o tipo de conteúdo que aquele determinado assunto precisa. Por isso, acabam se transformando em influenciadores digitais e que, muitas vezes, podem representar diversas marcas que desejam essa mesma conexão com as favelas”, afirma Guilherme Pierri, coCEO da Digital Favela.
O reconhecimento dos demais moradores sobre o negócio, o famoso “boca a boca”, aparece como fonte de divulgação para 56% dos proprietários. Além disso, 88% de quem vive nas favelas afirma confiar mais nas indicações de um influenciador da própria comunidade do que nas de pessoas famosas (12%).
“O senso de comunidade e pertencimento é muito latente. Assim como acontece com grandes empresas, a indicação é o reconhecimento de qualidade e aumenta a reputação de um produto ou serviço dentro daquela comunidade. Por isso, a representatividade e legitimidade acabam sendo os grandes fatores de sucesso nessa comunicação”, diz Pierri.
Em relação às compras, 41% nunca compraram pela internet diretamente. E cerca de 61% deles conseguem receber um pedido na porta de casa, enquanto outros têm que pedir para que a entrega seja feita em algum ponto próximo.
A pesquisa entrevistou 1.250 pessoas, de 16 a 78 anos, em favelas de todo o país de 6 a 17 de março de 2022. A margem de erro estimada é de 2,8 p.p.
Leia também