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Ana Buchaim, da B3: as companhias incorporam fatores ESG em seus processos decisórios por três razões: convicção, conveniência ou compliance (Thithawat_s/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 25 de outubro de 2020 às 12h11.
Durante muito tempo, a decisão de fazer um investimento era quase que totalmente baseada no retorno financeiro esperado. Prevalecia a quase unanimidade expressa no pensamento de um dos pais do liberalismo, o Nobel Milton Friedman, de que a única função social de uma companhia era garantir o lucro de seu acionista.
Se algo mudou nos últimos 50 anos, foi essa verdade. Ignorar externalidades negativas ou não se preocupar em gerar externalidades positivas, ou seja, desconsiderar os efeitos não intencionais decorrentes da venda de um produto ou serviço, já deixou de ser possível há muito tempo.
Os negócios mudaram, a sociedade mudou e passou a exigir muito mais da atuação das companhias. Hoje, o negócio do negócio não é apenas o negócio. Tem que ser um negócio sustentável, capaz de se perpetuar por virtudes que combinem resultados financeiros e não financeiros, retorno ao acionista e à sociedade, meio ambiente e instituições. Não é mais aceitável olhar para o lucro a qualquer custo.
Dar condições de ganho para todos os stakeholders vai fazer uma companhia entregar mais resultado no curto, médio e longo prazos. Toda companhia precisa, além do lucro, cuidar do planeta, cuidar das pessoas, cuidar das relações. Adotar uma estratégia colaborativa que traga benefícios para parceiros tanto quanto para o próprio o negócio pode ser a nova forma de perpetuar uma atividade e tornar a empresa mais longeva.
E o que estamos falando, mesmo sem precisar escrever com letras garrafais, é que os fatores ESG não são mais nicho. Deixaram de ser uma opção e o que temos visto acontecer exponencialmente é que as companhias incorporam fatores ESG em seus processos decisórios por três razões: convicção, conveniência ou compliance. Mas qualquer que seja o motivo, não é mais possível se furtar a essa discussão.
O que vai diferenciar as empresas é por qual estrada cada companhia vai escolher seguir e o que a motivará a sair do lugar: a demanda, o risco, a regulação ou o custo de capital.
Se já elencamos boas razões para companhias considerarem urgentemente o tema nas suas decisões estratégicas, do outro lado, vem a pergunta: por que o investidor também deveria investir seu capital olhando ESG?
O primeiro ponto é relacionado ao resultado. As companhias que avançaram na jornada ESG tendem a performar melhor do que aquelas que não praticam a agenda. E ninguém vai querer investir em uma empresa que não tenha liquidez ou que não tenha boas condições de acesso de capital.
Mas o que esse investidor pode cobrar de cada companhia? É mais o ambiental, o social ou a governança? Não há certo ou errado nessa equação. Mas há caminhos que podem orientar a análise: dentro do S, a companhia tem uma boa gestão do capital humano? Como é tratada a segurança de dados de clientes e funcionários? Como ela fala de diversidade, de inclusão das pessoas no mercado de trabalho ou de equidade?
Olhando as questões de governança, algo que a B3 é indutora de longa data, que tipo de informação financeira estão entregando? Outra boa prática de gestão observada atentamente pelos investidores é como as companhias dão visibilidade para suas informações.
Temos que exigir cada vez mais das companhias transparência na sua jornada e que elas contem não apenas o que estão fazendo, mas expliquem por que escolheram determinado investimento e como será medido o impacto dessa decisão. Ninguém mais vai conseguir ficar isolado ou escondido.
O investidor tem nas mãos o ativo mais precioso: a escolha de colocar em seu portfólio empresas em que as boas práticas estão embutidas nos valores das companhias.
Como investidores e como gestores, somos parte dessa transformação dessa transformação inexorável e que não pode mais ser ignorada.
Ana Buchaim é conselheira da Rede Brasil do Pacto Global e diretora de Pessoas, Marketing, Comunicação e Sustentabilidade da B3, a bolsa do Brasil.
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