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Celso Athayde (ao centro) e representantes da CUFA na Suécia (Celso Athayde/Divulgação)
CEO da Favela Holding
Publicado em 10 de maio de 2024 às 08h38.
Estocolmo - chegamos! E Cufa da Suécia brilhou!
Ela é uma das mais qualificadas e dedicadas. Sim, isso tem uma ligação íntima com o perfil dos seus gestores. Luiz Carlos, por exemplo, é o líder nato, um negrão da Favela do Caramujo, em São Gonçalo, Rio de Janeiro, que estudou Relações Internacionais e veio pra cá arriscar os primeiros passos.
Luiz e seu time me esperavam no aeroporto, de lá fomos direto visitar um projeto social gigante para jovens vulneráveis de Estocolmo, mas fomos em vários projetos sociais que não era permitido tirar fotos. Aqui começam as contradições:Ué, se tem jovem vulnerável na capital da Suécia, então tem famílias inteiras também. Pois bem, tem e são muitas!
Claro que haverá muitas leituras para o fato. A mais comum é a grande entrada de estrangeiros em situação de refúgio que, ao deixarem seus países de origem, acabam criando sociedades paralelas. Aliás, eu mesmo fui levado em duas regiões em que as entregas postais não são feitas pelos Correios por temor e risco.
Isso me fez lembrar que Brasil temos a Favela Log, startup que realiza logística para gigantes do mercado, como a Amazon, dentro das favelas. A bigtech, inclusive, deseja que a Favela Log também faça sua logística na África, então ali eu pensei: “Será que não seria o caso de iniciar a operação internacional da startup pela Suíça?". Mas só pensei mesmo, não comentei nada por enquanto, e estou falando aqui para vocês que acompanham minha coluna na Exame, e que eu sei que posso confiar.
Eu apenas acompanhava as visitas nas quebradas atentamente. Afinal, eu estou aqui na Suécia. Ops... não, não. Nesse momento, enquanto escrevo, estou no avião sobrevoando algum lugar a caminho do Cazaquistão, depois Uzbequistão e Rússia, com baldeação na Turquia, para lançar mais três conferências que vão durar até agosto, quando chegaremos no G20 Social, no Rio de Janeiro.
Explicando melhor: A CUFA, em parceria com a Frente Nacional Antirracista, iniciou as IFC20 - International Favelas Conference’s, que serão realizadas em todos os Estados brasileiros e em 41 países, fazendo escuta ativa sobre os desafios das periferias de boa parte do globo. É a favela mostrando a verdadeira força de sua mobilização. Né segredo…
Mas deixa eu voltar para as quebradas da Suíça… Sejam quais forem as motivações ou leituras de vocês, o fato é que a periferia existe lá também e queremos ouvir essas pessoas, do contrário não teria sentido a Cufa se fazer presente. O fato é que nosso inconsciente coletivo só nos permite reconhecer o museu do Nobel e outros símbolos nobres de Estocolmo.
Depois desses passeios pelos projetos, eu me incorporei ao time de produção e me joguei. Fomos para os ajustes finais como confecção de camisetas, ajustes de marcas parceiras, convites a mediadores de temas, uma vez que a Conferência tem essa divisão temática para debate, como foi na favela da Vila Cruzeiro no Rio de Janeiro.
Mas é bom que fique claro, não estou dizendo que a realidade de lá é igual a daqui. São muito distintas, lógico. Estou afirmando apenas que o que existe nas periferias do mundo são as mesmas particularidades, são as lutas por oportunidades e diversidade como forma de avanço social e é exatamente essa agenda que levamos para a IFC.
Foi um lançamento lindo, organizado, com presença de grandes parceiros da Cufa Suécia como Spotify, representantes da Unesco, de empresas locais e da Embaixada Brasileira. Todos muito felizes em saber que pela primeira fez a favela irá estar em uma agenda de expressão mundial sem filtro.
Logo após o evento, que foi precedido por um almoço e muitas falas emocionadas, fomos conhecer o centro da cidade. O clima estava gostozinho, cerca de 2 graus. Um dos assuntos mais recorrentes nas falas era a tragédia climática que estamos vivendo no Rio Grande do Sul. Foi tão recorrente que Dani, membro da CUFA que organiza eventos na cidade, e o Bruno, um negrão de 2 metros e 10 de altura, ex jogador de basquete e treinador de seleção do país, iniciaram uma campanha em solidariedade ao povo gaúcho -- e que já esta no ar .
A noite fomos convidados para um jantar na Embaixada Brasileira com honra de Chefe de Estado. Não sei se eu estava na conta do G20, da Cufa ou do Fabrício do Itamaraty, o mesmo que junto com a Adriana Telles organizaram em 2015 o lançamento da CUFA Global na ONU, em Nova York.
Acordamos hoje felizes da vida por saber que esse trabalho da CUFA está abrindo esse mega fone para as favelas de 41 países e dando a eles a chance de existirem de fato. Mas triste com as notícias do Brasil. Em alguns momentos eu me pergunto se devo postar fotos das conferências onde os membros das Cufas estão felizes por tudo que estão construindo e isso parecer desrespeitoso com as vítimas das tragédias do Sul.
Por outro lado, eu penso que será um problema que vamos carregar diariamente, uma vez que estamos em muitos países, em muitas favelas e todos os dias alguma tragédia poderá acontecer em algum lugar, assim como tenho certeza que, nesse momento no Brasil, alguma mãe de favela está velando, sepultando ou chorando a morte de um filho.
Lembro que há 12 dias, o líder da CUFA da República Centro-Africana postou uma tragédia no seu país. Eram enchentes também. Ou seja, estaremos de luto 24 horas por dia e 365 dias por ano por estarmos ligados fisicamente a todas essas realidade via Cufas.
Então o melhor a fazer mesmo é chorar nossas tristezas, socorrer nosso povo, lutar por melhores condições dos nossos vivos e continuar comemorando nossas conquistas. Celebrar é importante, mantém a chama viva, a esperança de dias melhores.
Por falar em conquista, a de hoje é: “acabei de pousar na Turquia com meu filho mais novo Vinícius”. Lembrei do Poze: “e eu me sinto abençoado”.