Com potencial devastador, o Furacão Milton cruzou a Flórida e deixou um cenário de destruição: inundações, pelo menos 5 milhões de pessoas fora de suas casas, milhões sem energia elétrica e cinco mortes registradas até então.
Quando se formou no início de outubro, o que mais chamou a atenção de especialistas e meteorologistas foi o fato de Milton alcançar muito rapidamente o nível 5 na Escala Saffir-Simpson – que caracteriza o fenômeno como extremo, divulgou a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA).
Na quarta-feira (10), às 20h30 locais, ao tocar o solo da Flórida, na costa oeste, o furacão perdeu um pouco de força e caiu para a categoria 3 – com ventos de até 205 km/h.
Isso tornou Milton um dos furacões mais poderosos já registrados no Golfo do México e um reflexo da crise climática. Em entrevista à EXAME, Roberto Waack, Presidente do Conselho do Instituto Arapyau e membro do Conselho da Matfrig, destacou que a ciência deixa clara a relação direta deste evento com as mudanças climáticas.
De acordo com o especialista, existem pelo menos três sinais. O primeiro é o aumento da frequência, o segundo é a intensidade, e o terceiro é a velocidade de deslocamento. "Quanto mais lento, mais grave, porque o fenômeno fica um tempo maior sobre uma determinada área. Isso está diretamente relacionado ao aumento da temperatura do oceano, principalmente da superfície, onde os furacões se formam", explica.
Ao mesmo tempo que eventos climáticos extremos devem acontecer cada vez mais, Roberto destaca uma dificuldade de previsibilidade, visto que é uma situação nova e diferente no curto prazo. "A ocorrência já está crescendo, nós estamos vivendo isso. Mas os modelos climáticos ainda estão sendo ajustados. A ciência está no limite do conhecimento para conseguir defini-los", disse.
Por outro lado, uma vez detectado o fenômeno, existe uma boa capacidade de previsão de como ele vai se deslocar, e os modelos foram bastante assertivos neste caso nos EUA, reiterou ele.
O Golfo do México é uma área particularmente suscetível à formação de furacões intensos, por uma combinação de fatores, como formações geográficas e também pela alta temperatura de suas águas. Embora não existam situações como esta no Brasil, já estão sendo percebidos eventos semelhantes no litoral de Santa Catarina e o país é vulnerável pela sua extensão de costa, destacou Roberto.
Ainda segundo ele, o Furacão Milton também evidenciou a vulnerabilidade de países do entorno do Golfo do México, como México e Cuba. "Estes também são afetados, mas recebem muito menos cobertura da mídia em comparação aos Estados Unidos. Isso revela um desequilíbrio absurdo na discussão sobre justiça climática. Não há a mesma atenção e suporte, e as mortes e destruições são muito mais severas".
A necessidade de mitigar e adaptar
Para combater o problema, o especialista destaca a necessidade de ações urgentes de mitigação e adaptação. Mitigar seria essencial para evitar que o aquecimento global atinja a velocidade e a intensidade que está alcançando, com a redução das emissões de gases estufa.
"A expectativa inicial era de não chegar ao aumento de 1,5°C [do Acordo de Paris], mas já é um consenso na comunidade científica de que iremos ultrapassar este limite desejável. Agora, o foco deve ser em reverter a situação, o que pode levar 30 ou 40 anos – é um grande desafio".
Se chegarmos ao patamar de aumento de 2°C, 2,5°C ou até 3°C de temperatura, há um aumento exponencial de eventos climáticos extremos. "No campo da mitigação, a solução é reduzir as emissões diretamente e implementar medidas de remoção de carbono da atmosfera. A restauração florestal é hoje o mecanismo mais eficiente, barato e pronto para ser utilizado. Não há nenhum método melhor do que o plantio", complementou Roberto.
Vale lembrar que o setor de energia é a principal fonte de emissões de carbono globais, mas no Brasil o cenário é diferente e a matriz já é quase 90% renovável. Por outro lado, cerca de 1/4 se origina do desmatamento e uso da terra – onde o país se coloca como peça-chave na descarbonização.
A outra frente seria a adaptação às novas realidades do clima. "O que empresas, cidades e países podem fazer para se proteger desses fenômenos? Isso inclui realocação de unidades produtivas agrícolas. No caso de furacões, pode envolver desde migração de pessoas, até a construção de estruturas mais resilientes", exemplificou Roberto.
Em ambas as frentes urgentes, a floresta tem um papel crucial e é uma tecnologia natural extremamente eficiente. "Na mitigação, retirando carbono da atmosfera, enquanto na adaptação, aumentando a resiliência em situações extremas", destacou.
Nos EUA, o negacionismo climático chegou muito forte, especialmente com figuras como Donald Trump, disse Roberto. Por outro lado, Biden teria implementado um dos maiores programas climáticos do mundo, mas "cujo impacto econômico ainda é pouco discutido". O chamado Inflation Reduction Act (IRA), aprovado em agosto de 2022, destina cerca de US$ 369 bilhões em incentivos fiscais e investimentos para promover a energia limpa, reduzir as emissões e apoiar a transição para uma economia de baixo carbono.
Tempestade deixa 1,6 milhão sem luz no estado de São Paulo
No início da noite da sexta-feira, 11, a região metropolitana de São Paulo foi atingida por um forte temporal, que deixou 2,1 milhão sem luz e um rastro de destruição pela cidade. Foi a maior rajada de vento registrada na história e, pouco mais de 14 horas depois, 1,6 milhão seguem sem eletricidade em toda a capital e também cidades do interior e do ABC paulista. A Defesa Civil emitiu alerta por sms, mas as mensagens só começaram a chegar por volta de 19h30, quando as chuvas já estavam em curso em boa parte das cidades.
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Tempestade na Flórida, em imagem de arquivo
(Uma tempestade pode ser vista se movendo sobre Tampa à distância de St. Petersburg, Flórida, antes do furacão Milton chegar à costa no meio desta semana, em 8 de outubro de 2024)
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Moradores da área de Apopka enchem sacos para proteger suas casas de possíveis inundações antes da chegada do furacão Milton, em Orlando, Flórida, em 9 de outubro de 2024. Milton recuperou o poder em 8 de outubro para se tornar uma tempestade de categoria 5 com ventos máximos sustentados de 165 mph (270 km/h) enquanto avança em direção à costa centro-oeste da Flórida e está previsto para atingir a costa no final de 9 de outubro, de acordo com o National Hurricane Center
(Moradores da área de Apopka enchem sacos para proteger suas casas de possíveis inundações antes da chegada do furacão Milton, em Orlando, Flórida, em 9 de outubro de 2024)
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Uma casa fechada com tábuas à venda no jardim da frente em Dunedin antes do esperado desembarque do furacão Milton hoje à noite, em 9 de outubro de 2024, na Flórida. Milton recuperou o poder em 8 de outubro para se tornar uma tempestade de categoria 5 com ventos máximos sustentados de 165 mph (270 km/h) enquanto avança em direção à costa centro-oeste da Flórida e está previsto para atingir a costa no final de 9 de outubro, de acordo com o National Hurricane Center
(Uma casa fechada com tábuas à venda no jardim da frente em Dunedin antes do esperado desembarque do furacão Milton)
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Um complexo de apartamentos danificado pelo furacão Helene na seção Treasure Island de St. Petersburg, Flórida, em 8 de outubro de 2024, antes do esperado desembarque do furacão Milton. Milton recuperou o poder em 8 de outubro para se tornar uma tempestade de categoria 5 com ventos máximos sustentados de 165 mph (270 km/h) enquanto avança em direção à costa centro-oeste da Flórida e está previsto para atingir a costa no final de 9 de outubro, de acordo com o National Hurricane Center
(Um complexo de apartamentos danificado pelo furacão Helene na seção Treasure Island de St. Petersburg, Flórida, em 8 de outubro de 2024, antes do esperado desembarque do furacão Milton.)
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Pessoas fazem fila em seus carros para abastecer em um posto de gasolina antes da chegada esperada do furacão Milton em Lakeland, Flórida, em 8 de outubro de 2024. A Flórida atingida pela tempestade se preparou na terça-feira para um impacto direto do furacão Milton, um sistema climático monstruoso que ameaça causar danos catastróficos e força o presidente Joe Biden a adiar uma grande viagem ao exterior
(Pessoas fazem fila em seus carros para abastecer em um posto de gasolina antes da chegada esperada do furacão Milton em Lakeland, Flórida, em 8 de outubro de 2024)
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Os empreiteiros colocam compensado sobre as janelas do Edifício El Encanto na seção Ybor City de Tampa antes do esperado desembarque do furacão Milton no meio desta semana em 8 de outubro de 2024 na Flórida. O furacão Milton explodiu em força em 7 de outubro para se tornar uma tempestade potencialmente catastrófica de categoria 5 com destino à Flórida, ameaçando o estado dos EUA com um segundo furacão feroz em poucas semanas
(Os empreiteiros colocam compensado sobre as janelas do Edifício El Encanto na seção Ybor City de Tampa antes do esperado desembarque do furacão Milton no meio desta semana em 8 de outubro de 2024 na Flórida)
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Pessoas passam por vitrines fechadas em Tampa antes do furacão Milton atingir a costa no meio desta semana, em 8 de outubro de 2024, na Flórida. O furacão Milton explodiu em força em 7 de outubro para se tornar uma tempestade de categoria 5 potencialmente catastrófica com destino à Flórida, ameaçando o estado dos EUA com um segundo furacão feroz em algumas semanas
(Pessoas passam por vitrines fechadas em Tampa antes do furacão Milton atingir a costa no meio desta semana, em 8 de outubro de 2024, na Flórida)
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Imagem de satélite do furacão Milton
(O furacão Milton explodiu em força na segunda-feira para se tornar uma tempestade de categoria 5 potencialmente catastrófica com destino à Flórida, ameaçando o estado dos EUA com um segundo furacão feroz em algumas semanas)
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Nesta imagem de satélite cortesia do Sentinel Hub da Agência Espacial Europeia tirada em 7 de outubro de 2024, o olho de alfinete do furacão Milton pode ser visto sobre o Golfo do México. O furacão Milton explodiu em força na segunda-feira para se tornar uma tempestade de categoria 5 potencialmente catastrófica com destino à Flórida, ameaçando o estado dos EUA com um segundo furacão feroz em poucas semanas
(Nesta imagem de satélite cortesia do Sentinel Hub da Agência Espacial Europeia tirada em 7 de outubro de 2024, o olho de alfinete do furacão Milton pode ser visto sobre o Golfo do México)
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Empreiteiros colocam compensado sobre as janelas do histórico Columbia Restaurant na seção Ybor City de Tampa antes do esperado desembarque do furacão Milton no meio desta semana em 8 de outubro de 2024 na Flórida. O furacão Milton explodiu em força em 7 de outubro para se tornar uma tempestade potencialmente catastrófica de categoria 5 com destino à Flórida, ameaçando o estado dos EUA com um segundo furacão feroz em algumas semanas
(Furacão Milton EUA Flórida)
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Os recentes furacões Helena e Milton causaram prejuízos estimados em US$ 50 bilhões, cada.
(Furacão Milton EUA Flórida)
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A stairwell wall is blown out in St. Petersburg due to Hurricane Milton on October 10, 2024 in Florida. At least four people were confirmed killed as a result of two tornadoes triggered by Hurricane Milton on the east coast of the US state of Florida, local authorities said Thursday. (Photo by Bryan R. SMITH / AFP)
(On heels of Helene, storm Milton expected to strengthen into major hurricane and slam Florida)
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A fallen tree on a house in St. Petersburg due to Hurricane Milton on October 10, 2024 in Florida. At least four people were confirmed killed as a result of two tornadoes triggered by Hurricane Milton on the east coast of the US state of Florida, local authorities said Thursday. (Photo by Bryan R. SMITH / AFP)
(On heels of Helene, storm Milton expected to strengthen into major hurricane and slam Florida)
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Traffic moves around a fallen tree in St. Petersburg due to Hurricane Milton on October 10, 2024 in Florida. At least four people were confirmed killed as a result of two tornadoes triggered by Hurricane Milton on the east coast of the US state of Florida, local authorities said Thursday. (Photo by Bryan R. SMITH / AFP)
(On heels of Helene, storm Milton expected to strengthen into major hurricane and slam Florida)
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A light sign is damaged in downtown Kissimee, Florida by Hurricane Milton on October 10, 2024. At least four people were confirmed killed as a result of two tornadoes triggered by Hurricane Milton on the east coast of the US state of Florida, local authorities said Thursday. (Photo by GIORGIO VIERA / AFP)
(On heels of Helene, storm Milton expected to strengthen into major hurricane and slam Florida)
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A tree fell on the front of a property in downtown Kissimee, Florida due to Hurricane Milton on October 10, 2024. At least four people were confirmed killed as a result of two tornadoes triggered by Hurricane Milton on the east coast of the US state of Florida, local authorities said Thursday. (Photo by GIORGIO VIERA / AFP)
(On heels of Helene, storm Milton expected to strengthen into major hurricane and slam Florida)
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Rua alagada em Tampa, na Flórida, após a passagem do furacão Milton
(US-WEATHER-HRRICANE-MILTON)
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A crane that collapsed into a building is seen in downtown St. Petersburg due to Hurricane Milton on October 10, 2024 in Florida. At least four people were confirmed killed as a result of two tornadoes triggered by Hurricane Milton on the east coast of the US state of Florida, local authorities said Thursday. (Photo by Bryan R. SMITH / AFP)
(On heels of Helene, storm Milton expected to strengthen into major hurricane and slam Florida)