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Menos gelo, mais conflitos: Ártico é palco de disputas entre EUA, Rússia e China

Recuo glacial histórico abre passagens marítimas estratégicas e adiciona tensões às relações diplomáticas

Degelo ártico: Com redução de 1,13 milhão de km² de gelo, potências aceleram corrida por recursos naturais. (Wirestock/Freepik)

Degelo ártico: Com redução de 1,13 milhão de km² de gelo, potências aceleram corrida por recursos naturais. (Wirestock/Freepik)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 8 de abril de 2025 às 10h33.

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O gelo marinho do Ártico atingiu níveis historicamente baixos em março de 2025, marcando o quarto mês consecutivo de recordes negativos, conforme dados da agência europeia Copernicus e confirmados pela NASA e pelo Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo (NSIDC) dos EUA.

Em 22 de março, a cobertura de gelo mediu apenas 5,53 milhões de milhas quadradas (14,33 milhões de quilômetros quadrados), ficando abaixo do recorde anterior de 2017 e 510 mil milhas quadradas (1,32 milhão de quilômetros quadrados) abaixo da média registrada entre 1981 e 2010.

O fenômeno evidencia como as mudanças climáticas estão transformando o Polo Norte em palco de disputas geopolíticas por recursos energéticos e posições militares estratégicas. A cobertura gelada ficou 6% abaixo da média em março, período que tradicionalmente marca o auge da extensão anual do gelo.

Impacto global e perda sem precedentes

De acordo com a NASA, a redução do gelo em ambas as regiões polares levou a outro marco preocupante - a quantidade total de gelo marinho no planeta atingiu seu mínimo histórico.

Globalmente, a cobertura de gelo em meados de fevereiro deste ano diminuiu mais de um milhão de milhas quadradas (2,5 milhões de quilômetros quadrados) em relação à média anterior a 2010.

No total, o planeta perdeu uma área de gelo marinho grande o suficiente para cobrir todo o território continental dos Estados Unidos a leste do rio Mississippi.

"Vamos entrar na próxima temporada de verão com menos gelo para começar", alertou Linette Boisvert, cientista da NASA, em nota divulgada pela agência espacial dos Estados Unidos. "Isso não é um bom presságio para o futuro", completou.

O gelo marinho que cobre o Ártico desempenha papel fundamental no ecossistema da região, influenciando diretamente a reprodução e alimentação da fauna local.

Com a diminuição da camada gelada nos meses de inverno, tempestades tendem a se tornar mais severas e a erosão costeira se intensifica, ameaçando comunidades litorâneas.

Esta redução ocorre quando o derretimento estival supera a formação de gelo durante o inverno - desequilíbrio agravado pelo aquecimento global.

O ano de 2024 foi o mais quente já registrado na Terra, com recordes de emissões globais de carbono provenientes de combustíveis fósseis, segundo o Global Carbon Project.

As regiões polares aquecem em ritmo consideravelmente mais acelerado que o restante do planeta, impulsionadas por um ciclo de retroalimentação: áreas que perdem gelo absorvem mais calor solar, já que a superfície branca e reflexiva do gelo marinho - que devolveria essa luz ao espaço - diminui progressivamente.

Os cientistas da NASA e do NSIDC baseiam-se principalmente em satélites do Programa de Satélites Meteorológicos de Defesa, que medem a radiação da Terra na faixa de micro-ondas.

Esta radiação natural é diferente para água aberta e para gelo marinho - com a cobertura de gelo destacando-se nitidamente em imagens de satélite baseadas em micro-ondas. Estes dados são complementados com fontes históricas, incluindo informações coletadas entre 1978 e 1985 com o satélite Nimbus-7.

Cenário futuro e tensões internacionais

As observações desde 1978 mostram que a cobertura de gelo declinou em ambos os polos, levando a uma tendência de queda na cobertura total de gelo em todo o planeta. Em fevereiro de 2025, o gelo global caiu para a menor área já registrada.

Pesquisadores alertam que as condições observadas no primeiro trimestre de 2025 indicam possível recorde mínimo de gelo no próximo verão. O declínio de gelo antigo e espesso, mais resistente ao derretimento, contribui significativamente para esta previsão.

A temporada navegável no Ártico expande-se anualmente, atraindo embarcações militares e comerciais, principalmente russas. Algumas áreas devem ficar completamente livres de gelo durante verões dentro de uma década, potencializando disputas por rotas marítimas e recursos naturais.

No panorama geopolítico, a Rússia reativa bases navais da Guerra Fria no Mar de Barents, enquanto o presidente americano Donald Trump manifesta interesse em controlar a Groenlândia, território rico em minerais estratégicos e relevante para comércio e operações militares.

Ao longo das últimas quatro décadas, a cobertura de gelo ártico diminuiu aproximadamente 2,5% por década, revelando uma tendência que redesenha rapidamente a geografia polar e ameaça ecossistemas únicos do planeta.

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