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Japão busca equilibrar metas climáticas e crescimento econômico, mas enfrenta críticas sobre ambição. (Getty Images/Getty Images)
Redator na Exame
Publicado em 26 de dezembro de 2024 às 11h08.
O Japão anunciou uma nova meta para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 60% até 2035, tomando como base os níveis de 2013. A proposta, que visa colocar o país no caminho para alcançar a neutralidade de carbono até 2050, foi divulgada por um painel conjunto dos ministérios do Comércio e do Meio Ambiente. O plano segue para consulta pública antes da aprovação final pelo gabinete japonês.
De acordo com informações da Bloomberg, a meta revisada ocorre no contexto de uma onda global de atualizações de compromissos climáticos antes do prazo de fevereiro estipulado pelo Acordo de Paris. Países como Reino Unido e Estados Unidos também anunciaram novas metas. Até então, o Japão havia prometido uma redução de 46% até 2030.
Embora significativa, a nova meta de 60% enfrenta críticas por ser inferior ao necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Segundo a Climate Action Tracker, o Japão precisarifa cortar cerca de 80% de suas emissões até 2035 para atender a essa meta.
O Japão, o quinto maior emissor de carbono do mundo, ainda depende fortemente de carvão e gás natural, que juntos representaram mais de 60% de sua geração de eletricidade em 2023. As tentativas de diversificar a matriz energética enfrentam barreiras, como dificuldades regulatórias para reativar usinas nucleares e a escassez de terras para expandir a energia solar e eólica terrestre.
Apesar desses desafios, o governo japonês sinalizou a intenção de aumentar o uso de energia nuclear como parte de sua estratégia, marcando uma ruptura com a aversão pública ao setor após o desastre de Fukushima, em 2011.
Ambientalistas, cientistas e líderes empresariais pressionam o governo por metas mais ambiciosas. Um lobby empresarial sugeriu uma redução de 75% até 2035, enquanto a Associação Nacional de Governadores do Japão pediu ao ministério do Meio Ambiente que considere metas mais altas.
Shota Ikeda, presidente da Hachidori Solar e membro do painel consultivo, criticou a abordagem dos debates, apontando que o foco excessivo nos custos econômicos ignorou os danos potenciais do aquecimento global acima de 1,5°C. Ele defende uma redução de pelo menos 66% para alinhar o plano japonês às diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Atingir a neutralidade de carbono até 2050 exigirá um investimento total de cerca de US$ 7,7 trilhões (R$ 47,7 trilhões) na indústria energética japonesa, segundo estimativas da Bloomberg. Esses recursos seriam destinados a ativos de baixo carbono e infraestrutura de energia renovável.
No entanto, críticos apontam que o plano atual não considera adequadamente os custos sociais e econômicos de inação climática, como impactos na segurança alimentar, aumento de desastres naturais e custos de saúde pública.
Com a nova meta, o Japão busca se alinhar aos esforços internacionais de mitigação climática, mas permanece atrás de líderes globais em ambição. O país enfrenta a difícil tarefa de equilibrar seu compromisso com a descarbonização, as limitações de sua matriz energética e as pressões econômicas de uma economia altamente industrializada.
A proposta, embora significativa, reforça a necessidade de uma transição energética acelerada e de um engajamento mais forte com soluções de energia limpa. Sem metas mais ousadas, especialistas alertam que o Japão pode comprometer tanto sua liderança climática quanto os esforços globais para conter o aquecimento do planeta.