(Cufa/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 10 de dezembro de 2021 às 17h37.
Última atualização em 10 de dezembro de 2021 às 17h40.
O projeto Mães da Favela, idealizado pela Central Única de Favelas (Cufa), mobilizou este ano mais de 450 milhões de reais. No ano passado, a quantia doada e entregue a famílias chefiadas por mulheres chegou a 187 milhões de reais, em dinheiro e produtos. Foram 3,5 milhões de famílias atendidas e 14 milhões de pessoas impactadas.
“Até eu me surpreendi com a mobilização”, afirma Preto Zezé, presidente da Cufa. “Isso aumenta nossa responsabilidade”. O Mães da Favela foi pensado nos moldes dos programas de transferência de renda – uma parte dos recursos, inclusive, é distribuída via cartões digitais, o que se configura em uma transferência direta de dinheiro para o beneficiário. Não há participação do governo.
Aprenda as habilidades para ser um profissional de destaque e investir em empresas responsáveis.
Zezé conhece a realidade de quem precisa desse auxílio. Ele já passou fome, quando garoto. “A fome mexe com a crença na vida em sociedade”, afirma. “É a falência da ideia de vida coletiva. E ela é perigosa. Nenhum pai fica inerte vendo o filho passar fome e os supermercados cheios de comida”. Para Zezé, as elites não estão tratando o problema com a seriedade devida.
A pandemia empurrou muita gente para a miséria. Segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), nos últimos dois anos, nove milhões de pessoas no Brasil passaram a conviver com a falta total de alimentos. Agora, são mais de 19 milhões de pessoas passando fome no país.
Para começar a melhorar esse quadro, Zezé aponta um plano com três eixos: transferência de renda, vacinação e reabilitação dos sobreviventes. “Milhares de pessoas ficaram com sequelas da covid e hoje estão sem trabalhar. Fora os muitos que perderam o emprego por terem contraído a doença”, afirma.
Em janeiro, a Cufa lançou um documento indicando 14 medidas para combater a pobreza, entre elas, estão políticas de fortalecimento das mães solteiras e o aluguel de hotéis para reabilitar pessoas em situação de rua. Zezé destaca que o objetivo foi nortear uma ação conjunta entre o poder público, o setor privado e a sociedade.
Nesse contexto, o papel das empresas é fundamental. “As empresas precisam fazer um investimento, neste momento, em quem gera riqueza, que é o trabalhador”, diz ele. “E precisam ter maior ingerência na construção da agenda pública.”
Com a disseminação dos conceitos ESG no mercado, houve uma aproximação do setor empresarial das favelas, que veio acompanhada de uma mudança de mentalidade entre os empresários. O risco, diz Zezé, é que o ESG ainda está relacionado a melhorar o posicionamento e ganhar pontos com o mercado. “Ele precisa ser institucionalizado para garantir a governança e um diálogo direto com a sociedade, ou será apenas marketing”, afirma o líder comunitário.
Zezé é o convidado desta semana do podcast ESG de A a Z, produzido pela EXAME. Confira o episódio completo.