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Bill Gates (Chesnot/Getty Images)
Para o bilionário, empresário e filantropo Bill Gates, falar em redução de carbono é o mesmo que falar em resultados financeiros. Para as companhias, há uma vantagem em acrescentar emissões de poluentes no complexo cálculo que envolve as mais variadas despesas e receitas. “Muitas empresas também preferem se distanciar de investimentos que geram carbono, por causa dos gastos”, acredita.
A fala do empresário aconteceu durante painel no Fórum Econômico Mundial de Davos nesta quarta, 27. Em decorrência da covid-19, o evento acontece de forma online em 2021. O bilionário participou de uma discussão sobre o futuro do mercado de carbono voluntário, ambiente onde empresas e governos compensam suas emissões por meio da compra de créditos de carbono de projetos ambientais.
Para Gates, o principal desafio do mercado de carbono hoje é fazer com que as pessoas coloquem dinheiro em coisas que trazem impacto positivo comprovado. Algo que, para o empresário, está longe de ser um problema. O bilionário há anos dedica parte de sua fortuna ao incentivo de novos mercados e criação de empresas de impacto socioambiental, como é o caso da Breakthrough Energy, conglomerado de companhias de energia sustentável fundado por ele.
Para Gates, é preciso que empresas, sobretudo do setor industrial, percebam os ganhos com investimentos de longo prazo voltados para o setor ambiental — seja pela redução de custos, seja pela necessidade progressiva de atualização. “Para companhias que atuam com aço, cimento ou qualquer tipo de indústria, o gasto crescente para que existam continuará sendo significativo”, diz.
Para unir as duas partes da equação, a resposta está na inovação, segundo Gates. “Inovação será a chave para que seja possível manter o mercado de carbono em paralelo a essas indústrias e atividades de inovação”, afirma.
Junto de Gates, estavam Mark Carney, enviado especial da ONU para as ações climáticas e finanças; Nicole Schwab, chefe de soluções baseadas na natureza do Fórum Econômico Mundial; Annette L. Nazareth, da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) e líder do grupo e Bill Winters, CEO do banco britânico Standard Chartered Bank.
O painel também marcou o lançamento das recomendações finais da "Força-Tarefa para Escalar os Mercados de Carbono Voluntários", iniciativa lançada em 2020 com o intuito de solucionar questões essenciais para o desenvolvimento deste mercado no mundo. A ação conta com 50 líderes mundiais e 150 especialistas que são membros do conselho consultor, responsável por endereçar as principais recomendações do grupo.
A força-tarefa surgiu para solucionar problemas que se materializaram após os últimos anos de operação do mercado voluntário. “Ressaltamos 20 recomendações que acreditamos serem capazes de melhorar o mercado, transformando-o em algo mais robusto, transparente e futuramente aumentar a qualidade e a integridade ambiental dos créditos de carbono e seu uso”, disse Nazareth.
Como o princípio elementar para a regularização de um mercado de comercialização sólido, Nazareth destaca o estabelecimento de princípios básicos de carbono (CCP), série de diretrizes para o mercado voluntário. “Esse é um passo fundamental para garantir a qualidade e formar as bases para contratos de referência”, disse. Nesse contexto, o avanço deste mercado também está ligado a boas práticas de governança corporativa. “Para garantir transparência e verificação, das reduções das emissões aos projetos”, diz.
Segundo Mark Carney, o mercado de carbono tem uma lista extensa de benefícios, mas é preciso ser visto como uma complementaridade dos esforços empresariais por uma economia líquida em carbono. “É complementar. A primeira responsabilidade das empresas é, antes de mais nada, reduzir suas emissões absolutas e então reportar, incluindo planos para a neutralidade”, disse.
Uma das vantagens do avanço para o mercado global de carbono está na promoção de soluções vindas de países emergentes. Carney diz que as regulações podem trazer mais retorno a projetos sustentáveis e tecnologias de nações que não fazem parte do G7, ou seja, dos países mais industrializados do mundo.
“O mercado voluntário, apesar do título, tem sido liderado por empresas que assumem compromissos públicos de descarbonização. Em sua vasta maioria, são companhias que vêm das economias mais avançadas que, por sua vez, procuram por tecnologia de qualidade para compensações, e elas virão de economias emergentes”, afirmou.