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(Guido Mieth/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 31 de dezembro de 2023 às 07h48.
2023 é marcado pelos desafios do clima, as negociações na COP28 para a diminuição das emissões de CO2, e a expressão “mudanças climáticas” entre as mais importantes do ano. Neste cenário, o setor da moda, o segundo mais poluente do mundo, é fundamental para uma mudança que considera a sustentabilidade. Assim, o Instituto Fashion Revolution Brasil mantém o compromisso de trabalhar para promover transformações e elencar no Índice de Transparência da Moda Brasil (ITMB) no qual as marcas do setor são apontadas ao acentuar ou mitigar os desafios socioambientais.
Neste ano, 60 das principais marcas e varejistas do mercado brasileiro foram analisadas e classificadas a partir de dados divulgados publicamente sobre suas políticas, práticas e impactos. O ITMB foi elaborado pelo Fashion Revolution CIC e Instituto Fashion Revolution Brasil e contou com o apoio financeiro do Labora – Fundo de Apoio ao Trabalho Digno, do Fundo Brasil de Direitos Humanos e parceiros financiadores.
A fim de abranger diferentes tópicos referentes à atuação das marcas, o ITMB conta com mais de 250 indicadores diferentes, em temas como direitos humanos e da natureza, igualdade de gênero e racial e descarbonização. Os indicadores estão distribuídos em cinco seções: políticas e compromissos; governança; rastreabilidade; conhecer, comunicar e resolver e tópicos em destaque.
“Para além da prestação de contas para a sociedade, os dados obtidos por meio do Índice de Transparência têm o potencial de atuar como um catalisador para promover soluções em direção à sustentabilidade e à moda justa e circular, desencadeando uma transformação sistêmica no setor da moda”, afirma Isabella Luglio, Coordenadora Educacional do Instituto e do Índice no Brasil.
Pela primeira vez desde a primeira edição da pesquisa em 2018, seis marcas pontuaram acima de 60%, com C&A com 70%, seguida por Malwee com 68%, Dafiti com 67%, Renner e Youcom, ambas com 65%, e Havaianas com 62%. Além disso, este ano há a maior média geral já alcançada: 22% do total de pontos disponíveis. Isso também se reflete na pontuação média em cada uma das cinco seções do questionário, que também foram recordes.
No entanto, quase metade das marcas avaliadas (48%) ainda carece de transparência, obtendo menos de 10% do total de pontos. Dessas marcas, 16 zeraram a pontuação: Besni, Brooksfield, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Di Santinni, Dumond, Fórum, Havan, Leader, Lojas Avenida, Lojas Pompéia, Marisol, Moleca, Sawary e TNG. Vale ressaltar que grande parte das marcas zeradas permanece estagnada nessa posição desde que foram incluídas no Índice, o que acaba resultando em uma queda da média geral, afetando o progresso de todas as marcas.
Ainda de acordo com o Índice, há baixo nível de presença, pertencimento e emancipação financeira nos espaços de atuação de profissionais racializados e de grupos minorizados. Apenas 12% divulgam a distribuição por raça dos trabalhadores das instalações de fornecedores de corte/costura/acabamento e 97% não publicam suas ações com foco na promoção da igualdade racial e étnica nas instalações de fornecimento.
Além disso, apesar de as mulheres representarem a maior parte da força de trabalho na indústria da moda, a transparência em relação à equidade de gênero nas operações de fornecimento permanece estagnada desde 2021. Menos de um terço das marcas (30%) divulgam a distribuição por gênero dos trabalhadores nas instalações de fornecedores diretos e somente 3% publicam suas ações com foco na promoção da igualdade racial e étnica nas instalações dos fornecedores.
Embora haja um aumento na quantidade de marcas que divulgam sua pegada de carbono (45% das empresas divulgam as emissões de suas próprias instalações e 40% as emissões referentes a sua cadeia produtiva), os demais indicadores relacionados com a crise climática apresentaram pouco crescimento e se mantêm baixos: 98% das marcas não publicam metas científicas de descarbonização tanto de curto prazo quanto de longo prazo.
"A transparência é o primeiro passo para que a moda possa efetivamente contribuir para a justiça climática. Isso implica, portanto, que as marcas divulguem suas ações concretas de descarbonização e de enfrentamento à emergência climática e assegurem os direitos dos trabalhadores mais vulneráveis ao longo de toda a cadeia de produção", diz Fernanda Simon, diretora do Instituto.
O relatório aponta ainda que as roupas, originadas de recursos naturais, podem ter impactos negativos na biodiversidade brasileira, especialmente em biomas como a Amazônia e o Cerrado, que sofrem com o desmatamento para a produção de couro e algodão.
Apesar de quase metade (43%) das marcas divulgarem políticas de biodiversidade e conservação para suas próprias operações, os números apontam que ainda há pouca transparência quando buscamos divulgações sobre a implementação de práticas de agricultura regenerativa (8%) e compromissos mensuráveis e com prazo determinado para o desmatamento zero (10%).