Apoio:
Parceiro institucional:
Atuação da CUFA na crise humanitária dos povos indígenas (CUFA/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 1 de fevereiro de 2023 às 18h21.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2023 às 18h59.
Voltei de Roraima. A vontade era de ficar, mas milhões de outras missões batem na porta. Temos um timaço em Roraima operando há pelo menos dez anos, e não tenho dúvidas de que vão continuar fazendo bonito, até a nossa volta em oito dias. Pois é. Foram noites, tardes e dias muito intensos. A Central Única das Favelas (Cufa) e a Frente Nacional Antirracista (FNA) arregaçaram as mangas assim que veio à tona a grave situação de crise humanitária dos povos indígenas. Nossa obrigação era apoiar a Cufa Roraima.
Como todos sabem, já não faço mais parte da Cufa institucionalmente, há tempos, mas sigo sendo seu voluntário. Então, quando soube que as duas instituições iriam para essa ação humanitária, entendi que não teria outro lugar para eu estar.
Tive a honra de ter a companhia do presidente nacional da Cufa, Preto Zezé; do Marcio Lima, da Cufa Bahia, que coordenou magistralmente as operações logísticas; e a potência de mulheres como a paraibana Kalyne Lima, copresidenta da Cufa, e Patricia de Souza, coordenadora da Cufa Roraima, que tem se revelado uma grande liderança, além, lógico, todos os membros da Cufa local.
Então fomos a campo. Fizemos reuniões com autoridades locais. Óbvio que seria pouco inteligente transitar com um grande aparato de logística, como caminhões, passando por todo o tipo de dificuldade territorial e tudo que envolve logística, sem medir a temperatura de quem pode atrapalhar.
Mas a parceria mesmo é com os bravos da Funai, em Boa Vista. Mesmo tendo seus equipamentos destruídos eles são verdadeiros gigantes e estão operando como heróis. Entre outras agendas, fomos à Surucucu, região que pertence ao gigante território do povo Ianomâmi. Fomos ver sua alegria, sua paz, suas angústias e demandas.
É bom registrar que o acesso a essas localidades é muito difícil. O local só pode ser acessado de avião e fica a 1 hora e meia da capital Boa Vista.
Fomos também a outras regiões Ianomâmis, como a base da Funai em Xexena. Nas aldeias de Sacolejo, Berau e Manacapuru, que ficam mais perto, 4 horas de carro, ou 2 de barco da capital de Roraima.
Nossa chegada aos locais e nossos contatos com essas populações só foram possíveis graças ao precioso apoio da Funai — Fundação Nacional dos Povos Indígenas — cujos seus membros têm um conhecimento ímpar de tudo o que envolve essas áreas.
Também é válido lembrar que a Cufa e a Frente já levaram mais de 120 toneladas de suprimentos para esses povos, e em parceria com a Água Camelo, instalaram kits de tratamento de água. Tudo isso foi possível graças ao trabalho de logística da Favela Log, empresa do Grupo Favela Holding, que coordenou toda a operação de envio de mantimentos arrecadados em Cufas de todo o país.
Para angariar essa quantidade, as instituições, contaram com doações da sociedade civil e a parceria de grandes empresas como iFood e Assaí.
Mas voltando à nossa passagem por Surucucu, ficou óbvio que a situação da fome era gravíssima. O que mais nos chocou foi a quantidade de pessoas com as mais variadas doenças, em estado de saúde muito precário, pela falta de acesso a esse bem, por conta de dificuldades geográficas.
Fizemos registros dessa situação, e tomamos a decisão de não veicularmos nenhuma imagem nem vídeo das condições físicas dessas pessoas, primeiramente a pedido delas próprias, e também porque temos por princípio nos recusarmos a fazer espetáculo com a tragédia e a desgraça alheias.
O diagnóstico que traçamos é que só comida não basta. É preciso ter água tratada como forma de prevenção a doenças, e sobretudo postos de saúde nas proximidades. A grande maioria dessas pessoas não tem condições de pegar uma estrada, muito menos um avião, para tratar suas enfermidades, que acabam só piorando com o tempo.
E notamos que tempo é algo que está passando muito rápido para essa gente. Por isso, a Cufa e a Frente Nacional Antirracista colocaram na rua, na última semana, a campanha Favelas com Ianomâmi, que espera em um mês arrecadar R$ 3 milhões para construir dois polos de saúde em terras indígenas, em Roraima.
A situação é muito grave. Então contamos com toda a sociedade civil e com as grandes empresas, para, mais uma vez, fazermos uma grande corrente doações em prol de uma causa que é urgente para esses povos originários.
Queremos registrar também que não queremos ser salvadores da pátria. Só queremos ajudar a combater essa grave crise sanitária, tal qual Água Camelo está fazendo com tratamento de água, queremos fazer com o acesso a saúde.
Vale ressaltar também que o principal agente da mudança que a região precisa, deveria ser o Estado. Nessa e em outras ocasiões. E não temos a pretensão de fazer o papel do Estado. Mas não conseguimos ficar de braços cruzados, quando nos deparamos com cenas como a que vimos, em Surucucu, de completo abandono social.
Voltando à campanha, caso a Cufa e a Frente não consigam arrecadar o montante planejado — e eu tenho certeza que vão conseguir — as duas instituições vão assumir os custos do que ficar faltando, e a pedra fundamental do primeiro polo será lançada no dia 1º de março.
A favela está com os Ianomâmis. E você?
Para quem quiser participar da campanha Favelas com Ianomâmi, que visa construir dois polos de saúde, pode fazer suas doações pelos seguintes canais:
Pix:
doacoes@cufa.org.br
Vakinha:
https://www.vakinha.com.br/3425141
Site:
https://favelascomyanomami.com.br/
Pelo aplicativo iFood:
https://ifoodbr.onelink.me/F4X4/doacoescentralunica
ou ainda na finalização do seu pedido. O iFood repassará integralmente as doações recebidas.