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Kate Brandt, diretora de sustentabilidade do Google: "Temos trabalhado com nossos colegas da Microsoft para desenvolver tecnologias avançadas de energia livre de carbono" (Google/Reprodução)
Repórter de ESG
Publicado em 2 de julho de 2024 às 14h26.
Última atualização em 5 de julho de 2024 às 13h50.
Aumentar o uso de tecnologias para prever eventos climáticos extremos, como enchentes, é um dos objetivos do Google para 2024. No entanto, a tarefa esbarra em desenvolver softwares adaptados para a nova realidade, com eficiência energética e descarbonizados. A partir do Relatório Ambiental de 2024, divulgado nesta terça-feira, 2, a empresa de tecnologia atualizou seus esforços para desenvolver produtos aliados à sustentabilidade.
Entre as promessas para acelerar a caminhada pela transição está o desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial. Uma pesquisa feita pela companhia em parceria com a consultoria Boston Consulting Group aponta que o uso da IA pode mitigar de 5% a 10% das emissões globais de gases do efeito estufa (GEE) até 2030.
Em 2021, a companhia lançou o Flood Hub (Central de Enchentes, em português), site que aponta as regiões com riscos de aumento do nível da água. O recurso está disponível para 80 países e mais de 460 milhões de pessoas. Em entrevista exclusiva à EXAME, a diretora de sustentabilidade do Google, Kate Brandt, contou que utilizar a IA para previsões é uma das áreas em que a empresa tem investido mais.“É algo em que temos trabalhado com profundidade. A área de pesquisa do Google desenvolveu um modelo de previsão hídrica que nos permite identificar enchentes com até sete dias de antecipação e fornecer para governos e autoridades para que retirem as pessoas das áreas de perigo”, explica sobre o sistema.
A ferramenta foi utilizada em agosto do ano passado, quando enchentes atingiram as cidades de Constitucion e Maule, no Chile. O aviso do Google foi enviado dois dias antes da alta do nível da água, o que permitiu que a população evacuasse as cidades. Brandt acredita que a ferramenta pode ter uma grande contribuição para a América Latina e Brasil, região que vivencia cada vez mais os efeitos extremos das mudanças do clima.
Além da área de previsões, o relatório divide o uso de inteligência artificial pelas ações climáticas em outros dois fatores: organização de informações e otimização dos processos.
Na organização de informações entra o gerenciamento de rotas eficientes em combustível pelo Google Maps, serviço de visualização de mapas. Os usuários recebem dicas para que veículos emitam menos gases causadores do efeito estufa, como direcionamentos por vias com menos trânsito, pistas com menor diferença de relevo e rotas específicas para carros movidos à diesel ou elétricos.
De acordo com a empresa, o serviço evitou a emissão de 2,9 milhões de toneladas métricas de GEE desde 2021 — o equivalente a remover 650 mil carros movidos a combustíveis fósseis das estradas durante um ano.
A otimização dos processos considera a ferramenta Green Light, uma inteligência artificial que torna o uso dos semáforos mais eficientes. A ferramenta mede as tendências de trânsito em cruzamentos para desenvolver recomendações sobre o tempo adequado de parada em cada um, o que evita que os carros freiem e sigam por vezes consecutivas, diminuindo o consumo de combustível.
A tecnologia já foi implementada em 70 cruzamentos de 12 cidades, incluindo o Rio de Janeiro. Segundo o Google, a prática reduz o consumo de combustível de até 32 milhões de corridas por mês. “Com isso, o tráfego em ritmo de parar e andar pode ser reduzido em 30%, o que pode gerar redução das emissões em 10%”, explica a diretora.Os investimentos em 2023 pela companhia também buscavam aperfeiçoar as tecnologias já existentes, mas que ainda contavam com uma alta taxa de emissões e de consumo energético. A companhia lançou o Trillium, sexta geração de chips para aplicações de inteligência artificial. O objetivo é desenvolver infraestruturas e processos de IA mais sustentáveis.
O novo sistema é 67% mais energeticamente eficiente do que a última geração, aperfeiçoamento que pode reduzir o consumo de energia para treinamentos de IA em 100 vezes e reduzir as emissões em até 1000 vezes.
Para Brandt, as ações e investimento da companhia refletem um trabalho interno que vem sendo tocado desde 2010, quando o Google começou a comprar energia limpa. “Em 2017, nos tornamos a primeira grande empresa a equiparar o consumo anual de eletricidade com energia renovável”, conta. A meta de descarbonização está estipulada para 2030, ano em que a empresa busca operar com energias limpas em todas as suas operações.
Apesar das ações, em 2023 o Google teve aumento de 13% ao ano nas próprias emissões, puxado pelo consumo de energia nos centros de dados e na cadeia de fornecimento -- responsável por 75% das emissões da empresa. “No escopo 3, referentes aos fornecedores, temos a meta de atingir 100% de energia renovável entre os maiores parceiros até 2029”, explica Brandt.
A redução da pegada hídrica é outro desafio enfrentado pelo Google e pela indústria de tecnologia. Isso acontece porque os centros de dados -- onde os supercomputadores por trás de sistemas como Gmail ou Google Maps -- precisam ser resfriados para evitar o aquecimento excessivo. Esse processo é feito majoritariamente com água ou com coolers movidos a energia elétrica.
Em 2023, a companhia lançou um plano de gestão hídrica e mitigação do uso da água. Entre os pilares estão o uso responsável da água, apoio à segurança hídrica com a tecnologia e beneficiar os corpos hídricos nas comunidades onde opera. Essa estratégia considera o risco de fornecimento de água em cada localidade onde o Google está inserido.
Nas localidades onde há crises de fornecimento de água, alternativas para resfriamento devem ser implementadas, como o uso de coolers movidos a eletricidade. O plano ainda prevê o apoio a estratégias ambientais e tecnológicas para melhorar a saúde das bacias hidrográficas nessas regiões.
“Nós temos a meta de reabastecer 120% de toda a água que consumimos até 2030. Continuamos olhando para esse plano pela visão que chamamos de resfriamento consciente sobre o clima, que é a relação entre eficiência energética e o uso da água”, explica Brandt.
Tornar cada etapa mais sustentável e desenvolver produtos pensando na nova realidade do clima é um desafio para toda a indústria da tecnologia, segundo a diretora. “O que temos priorizado é consistentemente compartilhar nossos aprendizados e práticas e firmar parcerias para guiar o progresso desses projetos não só no Google, mas em todo o setor”, afirma.
Brandt acredita que a parceria entre as empresas de tecnologia deve ser um ponto de melhoria na próxima década, considerada crítica para definir ações de sustentabilidade e mudança do clima. “Atualmente, temos trabalhado com nossos colegas da Microsoft para desenvolver tecnologias avançadas de energia livre de carbono. Também fizemos parcerias para avaliar a demanda por energias limpas, não apenas eólica e solar, mas hidrogênio verde, nuclear, geotérmica e outras energias de longa duração”, conta.“Isso vai ser proveitoso para o Google, mas também para muitas outras empresas. E igualmente, anunciamos há algumas semanas o projeto ‘Symbiosis’, uma coalização com Meta, Microsoft e Salesforce para contratar soluções baseadas na natureza para a remoção de carbono de alta qualidade. Acredito que será essencial para a inovação continuada uma profunda parceria para criar mudanças no sistema e na indústria”.