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Brammer, da Boomera: “A pandemia acelerou o consumo de matéria-prima descartável. As empresas se deram conta de que reciclar isso tudo dá dinheiro” (Divulgação/Divulgação)
Leo Branco
Publicado em 15 de agosto de 2020 às 06h00.
Última atualização em 17 de agosto de 2020 às 16h59.
A economia brasileira pode expandir até 15% mais do que o projetado até 2030, caso governo e empresas invistam em tecnologias verdes, segundo estudo da WRI, uma das principais entidades ambientalistas dos Estados Unidos, publicado na revista EXAME desta semana. Será o equivalente a acrescentar 2,8 trilhões de reais à economia brasileira em dez anos, ajudando o país a sair da crise motivada pelo avanço do novo coronavírus.
Para além das projeções, a busca de empresas por processos mais eficientes em meio à crise já está trazendo oportunidades sobretudo a startups. Em boa medida, as novas tecnologias melhoram o uso de matérias-primas, seja reaproveitando o que vai para o lixo, seja mudando processos para fazer mais com menos recursos — e, assim, poluir menos.
A crise tem motivado grandes empresas a aproveitar o lixo que elas mesmas geram. Isso abre mercado para startups como a Boomera, dedicada a montar redes de catadores de plásticos descartados em casas e condomínios. Neste ano, a empresa vai faturar 40 milhões de reais, 5% mais do que em 2019, com a chegada de clientes como a gigante química Dow. “A pandemia acelerou o consumo de matéria-prima descartável. As empresas se deram conta de que reciclar isso tudo dá dinheiro”, diz Guilherme Brammer, sócio da Boomera.
No agronegócio, um setor à mercê de ataques de fundos estrangeiros por causa da política ambiental frouxa do governo brasileiro, as tecnologias verdes servem para ganhos de eficiência – e para certificar clientes das boas práticas de cadeias produtivas inteiras. Um exemplo vem da startup paulista Solinftec, dona de um software para traçar o trajeto mais curto para máquinas colheitadeiras e trabalhadores darem conta da produção em lavouras como as de cana-de-açúcar e soja.
Com o processo, a ideia é economizar gasolina. “Em nossas contas, o sistema evitou a emissão de 680.000 toneladas de carbono no ano passado. É o equivalente à emissão anual dos aviões da ponte aérea Rio-São Paulo”, diz Rodrigo Iafelice dos Santos, presidente da Solinftec. Entre os clientes estão grandes representantes do agronegócio, como Raízen, Cofco e BP.
Em 2020, a receita da Solinftec deverá crescer 50%, um resultado acima do projetado no início do ano, segundo Santos (a empresa não revela valores de faturamento). Em parte, a pandemia acelerou a busca por eficiência — afinal, ninguém quer perder dinheiro em tempos bicudos.
A crise de imagem do agronegócio brasileiro com as queimadas na Amazônia também ajudou. “Por causa dela, antecipamos para agora a entrada na cadeia de florestas, um projeto que estava previsto só para o fim do ano”, diz Santos. O potencial da Solinftec já foi percebido pelos investidores. Em dezembro do ano passado, a empresa recebeu 40 milhões de dólares num aporte liderado pela Unbox, fundo que tem a família Trajano, do Magazine Luiza, entre os sócios.
A busca por tecnologias verdes está em alta também nos setores mais sensíveis aos solavancos da economia, como é o caso da construção civil. É o que motiva a expansão da Ambar, uma startup de São Carlos, no interior paulista, dona de um sistema de construção de casas em blocos, semelhantes a peças de Lego, com fios e canos embutidos.
A ideia é reduzir o quebra-quebra e o desperdício de materiais no canteiro. “Com essa economia toda, é possível evitar até 30% das emissões de carbono numa obra”, diz Denis Peres, diretor de operações da Ambar. Em meio ao pessimismo nos canteiros — o setor deverá afundar mais do que o PIB neste ano —, a startup deverá faturar estimados 100 milhões de reais, 30% mais do que em 2019. Na lista de clientes estão construtoras como MRV e Cyrela.