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Títulos verdes: o mercado dos títulos sustentáveis atingiu o total acumulado de 154,1 bilhões, de acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) (Getty Images/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 14 de agosto de 2023 às 09h09.
Última atualização em 15 de agosto de 2023 às 10h43.
Os títulos sustentáveis vem crescendo nos últimos 15 anos e a região da América Latina e do Caribe se tornaram muito relevante no assunto. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o mercado dos títulos sustentáveis atingiu um total acumulado de 154,1 bilhões e, por isso, a região latinoamericana somou mais de 40 bilhões de dólares em 2022. Os números vêm para reafirmar o movimento que já vem acontecendo: o engajamento de mais bancos e companhias na agenda, como é o caso da empresa Caramuru, e o banco de investimentos, UBS BB.
No caso da companhia do ramo de agronegócios e alimentos começou a jornada do negócio em finanças sustentáveis pela emissão de um CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) Verde na casa dos R$ 356 milhões. Um ano depois, em 2022, a empresa emitiu seu segundo CRA no valor de R$ 600 milhões. Marcus Thieme, diretor de relações com investidores e ESG da Caramuru explicou que ambos os títulos estão lastreados pelo framework e analisados pelo SPO, pontos essenciais durante o processo de emissão de um título, que assegura justamente o alinhamento do ativo com os principais frameworks e objetivos em finanças sustentáveis.
Mesmo com a desaceleração da dívida de títulos durante os anos de 2021 e 2022, a modalidade conta com 20 países latino-americanos envolvidos neste mercado. Com isso, o mercado de emissões de títulos tem apresentado uma oportunidade de crescimento, afirma o BID. Para o UBS BB, os títulos sustentáveis entraram em pauta desde a criação do banco, quando a instituição criou uma área dedicada à pauta ESG.
Em entrevista para a EXAME, Frederic de Mariz, head de ESG na América Latina do UBS BB Investment Bank e membro do comitê de sustentabilidade da Wickbold & Nosso Pão Indústrias Alimentícias, explica que os títulos de dívida ESG seguem duas categorias principais. Primeiro, é necessário definir se a companhia quer direcionar dinheiro captado para projetos pré-definidos ou se pretende emitir uma dívida atrelada às metas de sustentabilidade.
No primeiro caso, os recursos são alocados a projetos com contribuição positiva para o meio ambiente, tema social, de transição ou uma combinação deles. Já no caso de dívidas ligadas às metas de sustentabilidade, o dinheiro fica livre no caixa da empresa, sem ser alocado a projetos específicos. “A empresa como um todo se compromete a atingir metas ambiciosas dentro de um cronograma definido. Caso não atinja essas metas, as características da dívida mudam, por exemplo com aumento de taxa”, afirmou o head. É importante esclarecer que não existe uma categoria mais recomendada que outra, mas segundo de Mariz, a escolha depende do momento da empresa no tema ESG e da necessidade de financiamento.
“Nem sempre as atividades da empresa estarão relacionadas a projetos elegíveis em títulos verdes e sociais. Isso não significa, porém, que elas devam deixar de lado o compromisso de fazer uma trajetória mais sustentável. Da mesma forma, isso não deve excluí-las dos diálogos sobre os avanços em relação à temática ESG. Os títulos vinculados à metas de atrelados à sustentabilidade são uma forma de incentivá-las a se abrirem a esses diálogos e avançarem em suas agendas de sustentabilidade”, afirma Talita Assis, especialista da attestESG, certificadora da EXAME especializada em desenvolvimento avaliações e consultorias voltadas para sustentabilidade e finanças sustentáveis, que se esforça para a o desenvolvimento da agenda sustentável brasileira.
Com o crescente interesse do mercado em sustentabilidade, há uma maior exigência por um alinhamento que seja estruturado por parte das áreas de ESG das empresas. E essa exigência é a mesma com títulos verdes, por esse motivo, o UBS BB tem se empenhado em prestar esse papel de assistência às companhias interessadas no desenvolvimento das práticas ESG desde 2020, quando foi criada a área de assessoria ESG. “Atingimos a participação de mercado de 64% das emissões de dívida ESG de empresas brasileiras no 1º semestre de 2023. Também assessoramos na estruturação do primeiro “social bond” emitido por um banco brasileiro”, disse de Mariz.
De acordo com o BID, o mercado latino americano e caribenho de finanças sustentáveis segue se consolidando. O tema de sustentabilidade representa a maior participação no volume acumulado deste mercado, respondendo por 35% do mercado de rótulos. Já na frente de investimentos sociais, a tendência se volta para os investimentos vinculados à igualdade de gênero, com metas voltadas ao bem-estar das mulheres e à redução das desigualdades de gênero. O órgão afirma que o Brasil é o único país latinoamericano a ter investimentos nas cinco frentes de títulos sustentáveis, sendo eles, títulos verdes, sociais, sustentáveis, SLB (do inglês, sustainability linked bonds) e transição.
Com isso, a transição para uma economia verde fica à vista e pode ser bem-sucedida, segundo o banco. Para o BID, esse é um passo crucial para que a América Latina e o Caribe se protejam contra o aumento dos riscos climáticos por meio da mitigação das mudanças climáticas. Esse posicionamento pode auxiliar na catalização de recursos para a recuperação econômica pós-COVID-19.
De Mariz também ressalta o papel da integração do ESG em investimentos na mitigação de risco, pois assim investimentos empresariais com melhores controles e uma visão holística da estratégia podem acontecer. “No mercado internacional, vemos o potencial para o emissor ter acesso a uma fonte de financiamento com taxa menor. Esse benefício não se verifica sempre no mercado doméstico brasileiro. Outros benefícios incluem uma visibilidade maior com clientes, colaboradores e stakeholders. Se a temática ESG era inovadora para as empresas há poucos anos, ela tem se tornado necessária frente às mudanças de regulação, de comportamento dos investidores e dos consumidores”, afirmou.
Mas Thieme ressalta que o investimento em títulos verdes pode trazer taxas atrativas frente a outras opções de financiamentos. “Com isso, pode-se alinhar às convicções pessoais com relação aos critérios de sustentabilidade, diante dos compromissos assumidos pela empresa no uso dos recursos”, disse. Tudo isso porque, ao emitir títulos sustentáveis, as empresas têm obrigações no reporte das ações e evoluções, o que adiciona valor ao dos investidores.
Tem se tornado mais comum que as empresas gestoras – ou seja, aquelas responsáveis pelas emissões dos títulos – captem recursos através de fundos com foco ESG.
“Com relação aos emissores, o mercado de títulos verdes ainda é embrionário, se comparado ao de ações ou de estruturas convencionais de mercado de dívida. No entanto, tem crescido exponencialmente nos últimos anos”, disse Thieme. O diretor ainda descreve como “bastante positivo” o desenvolvimento do mercado, tanto para o emissor quanto para o investidor, porque é capaz de diversificar mais os setores para o investidor, ao mesmo tempo que é capaz de trazer novos recursos aos emissores.
“O tema de transição tem ganhado muita atenção. Se a gestora ou o investidor focar apenas nas melhores empresas, eles acabam tendo um universo de investimento menor, o que pode impactar o retorno financeiro potencial. Focar em empresas que estão com plano de transição ou adaptação pode ser uma forma de capturar alpha e ter um impacto maior. Acredito que padronização e inovação são duas tendências fortes no curto prazo para o ESG. Padronização de relatórios e de taxonomias ajudarão empresas a ajustar suas práticas e comunicar sobre seu impacto verdadeiro. Inovação sempre foi um foco de instituições financeira”, concluiu de Mariz.