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Bill Gates: empresário escreve um novo capítulo em sua atuação climática ao lançar o livro "Como evitar um desastre climático" (Thierry Monasse / Colaborador/Getty Images)
Para Bill Gates, enfrentar a crise climática depende exclusivamente de inovação e interação. Em seu novo livro “How to Avoid a Climate Disaster” (Como evitar um desastre climático, na tradução livre), o fundador da Microsoft defende que a solução para os atuais problemas ambientais partirá da união de grandes empresas, governos e o uso tecnologia de forma agressiva.
Não é de hoje que Gates se engaja no futuro climático e em ações ambientalistas. O bilionário é também criador da Breakthrough Energy Ventures, um fundo dedicado a fomentar empresas de energia limpa, além de destinar parte de seu patrimônio pessoal em empresas e tecnologias “verdes”, especialmente por meio da Fundação Bill e Melinda Gates, na qual é copresidente.
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Para o empresário, o mundo deve agir rápido para conter os efeitos irreversíveis das mudanças climáticas. Diferente do que vem sendo discutido por países e empresas, ele acredita que o mundo deveria estar definindo estratégias para atingir a neutralidade em carbono em 2050, ao invés de focar na redução das emissões até o final da década. O único caminho para se conseguir isso, segundo Gates, é através da inovação e na concentração de recursos em setores promissores do mercado.
Três princípios básicos irão pautar a mudança e a efetividade das ações climáticas, segundo o fundador da Microsoft. Os mesmos critérios servem de base para a agenda climática de Gates:
Apenas com a criação e desenvolvimento de novas tecnologias, o ser humano será capaz de alterar radicalmente a maneira como vive e consome. Em entrevista à ex-comissária europeia para a Mudança Climática, Connie Hedegaard, o empresário afirmou que reconstruir a indústria de energia, que é a maior do mundo, será o desafio fundamental para que a humanidade seja capaz de zerar suas emissões de gases do efeito estufa.
A curva dos preços de fontes renováveis de energia tem apresentado um declínio nos últimos anos, reforçando o argumento de Gates de que, em um futuro não tão distante, baterias potentes estarão mais acessíveis e trarão consigo a chance de expansão de indústrias solares e eólicas, por exemplo.
O setor automotivo também deve se beneficiar dos investimentos em energia limpa - vindos de investidores privados ou governos. A popularização de carros elétricos, segundo o bilionário, depende do interesse do público em começar a comprar desde já - o que consequentemente derrubará os preços tão breve e assim “ficará mais barato se tornar verde”. No entanto, setores menos atraentes e dispostos a aderirem a fontes renováveis também terão a chance de ampliar sua atuação limpa, como por exemplo a construção civil e fabricantes de cimento e aço.
Derrubando os preços, países de menor renda também serão capazes de apoiar-se em energia limpa à medida em que suas demandas energéticas crescem nas próximas décadas. “Os países que mais se empenham em fomentar a inovação neste campo serão o lar da próxima geração de empresas inovadoras”, defende.
Apesar de afirmar ter compensado todas as suas emissões pessoais de carbono, Gates reconhece que esse mercado ainda é um tanto inacessível para a grande maioria da população. Para suprimir toda a poluição já emitida, o empresário decidiu comprar combustíveis verdes para a aviação e comprar créditos da Climeworks, empresa suíça que captura dióxido de carbono da atmosfera.
O preço de um crédito de carbono - quantidade equivalente a uma tonelada gerada - varia no mercado internacional. Em entrevista ao portal Technology Review, o empresário afirmou ter investido cerca de 400 dólares por tonelada compensada.
Para Gates, a definição de um preço global para o carbono é vital para escalar um mercado de carbono bem estruturado. Hoje, os poucos países que se valem de mercados regulados de carbono se concentram basicamente na União Europeia e China, mas há também o exemplo do estado americano da Califórnia. A criação de um preço mínimo também aumentaria a oferta e demanda desse ativo, o que impulsionaria o mercado voluntário em todo mundo - aquele praticado por empresas e pessoas que desejam compensar suas emissões.
Há necessidade profunda de inovação indústria alimentícia. Por essa razão, combater o impacto negativo das emissões de metano causadas pela pecuária e os danos ambientais resultantes da agricultura em larga escala também são esforços que atraem a atenção de Gates.
Durante a entrevista ao Technology Review, ele reconheceu que combater as emissões da agricultura, em particular da pecuária, é um dos problemas climáticos mais difíceis de resolver e, para isso, os países desenvolvidos deveriam rever seus hábitos alimentares. Para ele, os países ricos deveriam substituir a carne bovina por carnes 100% à base de plantas. Essa mudança de hábitos seria o suficiente para que a demanda desse mercado crescesse rapidamente e, não tão distante, países mais pobres também tenham acesso ao produto.
Através da Breakthrough Energy Ventures, Gates também investe em empresas do setor como a Impossible Foods e a Beyond Meats, duas das maiores companhias de carne vegetal dos Estados Unidos.
Uma questão permeia os três tópicos centrais da agenda climática de Gates: a inovação. Segundo o empresário, o desenvolvimento de novas tecnologias irá democratizar - e acelerar - a retomada verde global. O mesmo serve para as regulamentações. A criação de políticas públicas e incentivos, ele afirma, serão o empurrão necessário para que energia limpa seja tão barata quanto os combustíveis fósseis e uma grande onda de investimentos e criações tecnológicas que olham para energias limpas, captura de carbono e agricultura sustentável sejam tão populares quanto a internet.