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Flora Bitancourt, líder da World Climate Foundation no Brasil: "Minha missão é ter um mundo em que não só se pense em descarbonização, mas também em justiça social" (Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 6 de novembro de 2024 às 07h00.
Última atualização em 6 de novembro de 2024 às 11h21.
Se por muitos anos a Cúpula do Clima da ONU (COP), foi vista como um espaço apenas de governos, a World Climate Foundation (WCF) nasceu em 2009 para mudar essa realidade e incluir cada vez mais a participação de empresas.
A ausência de um diálogo ativo do setor privado foi percebida pelo fundador e CEO da organização global, Jens Nielsen, durante a COP15 em Copenhague, na Dinamarca. Desde então, atuam com foco em parcerias e investimentos nas áreas de clima, biodiversidade e resiliência à saúde e estão presentes anualmente nas COPs, promovendo o evento World Climate Summit.
"Somos conhecidos como a COP das empresas e investidores", contou Flora Bitancourt, líder da WCF no Brasil, em entrevista exclusiva à EXAME.
Às vésperas da COP29 em Baku, no Azerbaijão, o evento voltado a alavancar investimentos sustentáveis irá acontecer no dia 17 de novembro. E pela primeira vez, terá a representação do Brasil, graças ao trabalho de Flora, que há seis meses tem o papel de posicionar o país como protagonista na agenda de soluções verdes e baseadas na natureza (SBNs) e ajudar as empresas a construírem sua estratégia de clima e financiamento.
Paulista, Flora também está à frente da consultoria Impact Beyond, com a missão de traduzir o universo dos negócios para empreendedores construírem seus planos ESG (sociais, ambientais e de governança), após perceber um 'gap' de linguagem e narrativa. "De um lado, empreendedores com uma energia pulsante de querer transformar o mundo com soluções inovadoras, e de outro, uma empresa querendo se engajar, mas não conseguindo nem costurar sua própria estratégia interna", destacou.
E agir pela transformação sempre foi algo genuíno para ela: com apenas 19 anos, fundou a Movimentarte para impulsionar a arte, música e a dança -- ONG que existe até hoje e é "seu orgulho", conta.
Para somar em sua trajetória, ganhou um prêmio da Red Bull quando ainda era bem jovem e foi acelerada como empreendedora social. Na época, se apaixonou tanto pelos processos, que entrou para a equipe internacional e passou adiante todo seu conhecimento sobre desenvolvimento pessoal.
"Eu brinco que foi meu 'MBA' de impacto, porque eu passei mais de 100 dias em imersão para falar de modelos de negócios, de teoria da mudança, estratégias, e escutando com profundidade as realidades do mundo”, contou.Mais tarde, viajou o mundo e atuou em projetos sociais. Não á toa, ela diz que se conectou e se encantou muito com a World Climate Foundation desde o princípio. "Em toda a minha jornada, compactuo com a visão de que é preciso conectar o setor privado com as ideias e a forma inspiradora que empreendedores sociais e lideranças acreditam na mudança positiva e na transformação do planeta", frisou.
Mirando na COP30 em 2025 e G20 no Brasil ainda neste mês de novembro, Flora também tem feito muitas visitas à Belém e interagido com a comunidade e o território amazônico. Liderando algumas pesquisas, passou a entender a importância de também virar sua lente para o governo, que segundo ela, "precisa fazer parte dessa história". "Eu vejo que muitas das ações do setor privado acabam se tornando inspiração de políticas públicas, que vão ser implementadas em larga escala pelos nossos líderes", disse.
A participação social é algo que também acredita fortemente e quer provocar na organização, ao elevar as vozes do sul global. "Meu papel como liderança no Brasil é ampliar os encontros por meio de uma lente amazônica, trazendo para a pauta as pessoas que vivem a realidade", complementou.
Pensando nisso, a WCF está construindo uma 'Casa COP' em Belém, cidade do Pará anfitriã da COP30 no ano que vem, se propondo a ser um espaço para aterrisagem cultural e experiências imersivas sobre a Amazônia. Em articulação com mais de 50 lideranças e organizações locais, ela passará a se chamar "Casa Dourada" após a COP e irá ficar como legado para a região.
O sonho de Flora é uma transição justa e inclusiva, onde relações humanas verdadeiras são priorizadas. "Minha missão é ter um mundo em que não só se pense em descarbonização, mas também em justiça social". Ela conta que escolheu focar na questão do clima, pois a pauta é transversal, e impacta pessoas, infraestrutura, cidades, finanças, meio ambiente, biodiversidade, empreendedorismo e economia.
Em 2021, o World Climate Summit foi palco pra o lançamento de um compromisso da coalizão Climate Investment Coalition, formada por alguns fundos pensionários nordicos e outros parceiros que se comprometeram com o investimento de 130 bilhões de euros até 2030. Até então, 50% dessa meta já foi batida, aponta relatório.
"A COP não é só um evento, é um espaço de negociação, de compromissos e alianças fortes e globais. No fim das contas, é muito sobre financiamento, tema central neste ano. Com a ampliação do fluxo de capital para o Brasil, trabalhamos em conjunto com coalizões para desenvolver pesquisas e diálogos setoriais e entender as necessidades locais", destacou Flora.
O World Climate Summit deve contar com aproximadamente mil participantes de todo o mundo, e se tudo correr conforme o esperado, ela espera que pelo menos 200 pessoas sejam brasileiras. Já há alguns anos, participam da Climate Week de Nova York e agora estão organizando um Climate Investment Summit em Londres, outra agenda de financiamento.
A organização tem olhado para o Brasil, com todo seu potencial de "nature-rich country", para propor uma transição justa e sustentável e enxerga o mercado de carbono como um atrativo para investimentos.[/grifar]
Segundo Flora, o Plano Clima do governo federal, é capaz de acelerar a regulamentação deste mercado e eventos globais como a "COP dos investidores" são essenciais para mudar a imagem do país no exterior.
"As multinacionais precisam aproveitar essa oportunidade para que suas prioridades sejam visíveis no cenário global. Além disso, investir em soluções sustentáveis pode ampliar as exportações brasileiras", destacou.
Para ela, o "blended finance" seria um caminho de investimento, pois oferece maior segurança e menor risco para o investidor.