Jeane Tsutsui, CEO do Fleury: o ESG não pode ser uma ação pontual; é preciso planejamento e participação (Leandro Fonseca/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 23 de junho de 2022 às 20h52.
Última atualização em 24 de junho de 2022 às 10h38.
Quando assumiu a presidência do Fleury, rede de medicina diagnóstica, em fevereiro do ano passado, a doutora em cardiologia Jeane Tsutsui tinha como missão levar a companhia para além dos laboratórios. A pandemia iniciava sua segunda onda de contágio, e o setor de saúde estava em evidência. O mundo percebia a necessidade de contar com sistemas de saúde acessíveis e eficientes. O desafio é saber como, num país continental com mais de 200 milhões de habitantes, criar uma rede com essa capacidade. “A pandemia mostrou que a saúde é fundamental, e tomamos a decisão estratégica de investir em um ecossistema de saúde sustentável”, afirma Tsutsui. “Colocamos o paciente no centro do processo.”
O plano é criar uma plataforma integrada de saúde, que vai conectar diversos serviços, inclusive de terceiros. Dessa forma, o Fleury pretende participar mais da jornada de saúde dos clientes, da prevenção ao tratamento. Ao mesmo tempo, tem a ambição de solucionar um velho conflito do setor de saúde: a relação entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços. Com o uso de tecnologia, a empresa se desafia a ampliar o acesso da população à saúde. “Há mais de 20 anos olhamos para a sustentabilidade, mas não podemos nos conformar”, diz a CEO. “O social está atrelado ao negócio. Buscamos resolver um problema da sociedade.”
Esse objetivo está traduzido em metas. A remuneração variável dos executivos depende delas. O Fleury também emitiu debêntures de impacto social, cuja remuneração está atrelada à meta de impactar, com acesso à saúde, 1 milhão de pessoas das classes C, D e E. O sucesso na execução de estratégias ESG como a do Fleury, segundo Tsutsui, depende de planejamento e, especialmente, de quem está no comando das ações. Em 2021, a empresa criou um comitê ESG em seu conselho de administração. Seu papel é alinhar os planos de longo prazo com os princípios socioambientais e acompanhar os resultados, para garantir a implementação.
Uma grande aliada nessa estratégia de aumentar o acesso à saúde é a telemedicina. Esse serviço, oferecido pelo Fleury, já realizou mais de 1 milhão de atendimentos. O interessante é que 40% deles são feitos onde a empresa não tem operação física. As parcerias também são de grande importância. “Não há modelo único em um país tão grande”, diz a CEO. A companhia firmou acordos com os hospitais Beneficência Portuguesa e Atlântica na área de oncologia, e criou um fundo de venture capital, junto com o concorrente Sabin, batizado de Kortex Venture, para investir em startups.
Há também programas de treinamentos voltados para o setor público e de abertura de dados a universidades. E, para garantir os talentos necessários para essa revolução, o Fleury se preocupa com a diversidade. A força de trabalho da empresa é 80% composta de mulheres. “Diferentes culturas ajudam a inovar. Os pensamentos se complementam para achar as soluções”, afirma Tsutsui. “Somos uma empresa que contribui para a sustentabilidade. O ESG não pode ser uma ação pontual.”