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Pelo menos 20 refinarias nos Estados Unidos já fabricam ou pretendem apostar no diesel verde. A expectativa é que elas produzam por ano 1,4 bilhão de galões do produto até 2022 (Jim Wilson/The New York Times)
Rodrigo Caetano
Publicado em 17 de fevereiro de 2021 às 17h05.
A eletrificação dos transportes individuais é irreversível. Em relação aos transportes público e de carga, no entanto, as baterias podem não ser a melhor solução. Segundo Erasmo Carlos Battistella, fundador da ECB, que produz o chamado diesel verde, os biocombustíveis são uma solução mais eficaz para os veículos maiores, como ônibus e caminhões. “O tamanho das baterias inviabiliza a eletrificação dos transportes pesados, por enquanto”, afirma Batistella.
Produzido a partir de leguminosas, como a soja, o diesel verde é idêntico ao diesel de petróleo e poderia substituir o combustível fóssil sem adaptações nos veículos. Outras alternativas, como o biodiesel, feito a partir da cana-de-açúcar, exigem motores especiais ou que sejam misturados no diesel tradicional. Seja qual for o combustível, segundo Batistella, num futuro próximo, o setor de transporte terá uma “cesta” de opções energéticas. “Até mesmo no transporte individual, acredito que as fabricantes de automóveis irão voltar a apostar com força nos híbridos”, afirma.
Em janeiro, a ECB fechou contratos com Shell e BP, duas das maiores petroleiras do mundo, para o fornecimento de diesel verde. O acordo prevê a compra de mais de 500 milhões de litros por ano, a partir de 2024. O combustível será produzido em uma nova fábrica que está sendo construída no Paraguai. Esse mercado está sendo impulsionado por regras internacionais que determinam a mistura de combustíveis de fontes renováveis aos fósseis.
Mesmo na aviação os biocombustíveis estão avançando. Segundo o CEO, a indústria já tem desenvolvido o “green jet”, gasolina de aviação feita a partir de soja, que será misturado gradativamente ao combustível de petróleo a partir de 2027, de acordo com uma proposta que está sendo considerada pela União Europeia e será votada no parlamento em algumas semanas.
De acordo com dados da consultoria S&P Global Platts, o mercado de Sustainable Aviation Fuel (SAF), do inglês combustível de aviação sustentável, como a indústria está chamando o “green jet”, deve alcançar 2% do mercado de querosene de aviação até 2025. Atualmente, o combustível verde responde por 0,01%.
Diesel ver contra a má fama do petróleo
A indústria petroleira vem apostando pesado no diesel verde. Nos Estados Unidos, diversas refinarias de petróleo estão fazendo a transição para o novo combustível. Pelo menos 20 refinarias nos Estados Unidos já fabricam ou pretendem apostar no combustível. Na Europa, a francesa Total anunciou, em setembro, a suspensão do refino de petróleo bruto numa refinaria nos arredores de Paris, para fabricar o diesel verde.
A expectativa é que as refinarias americanas produzam por ano 1,4 bilhão de galões do produto até 2022 — pouco mais de 20% da produção anual de petróleo. “Muitas refinarias têm anunciado a conversão de suas plantas”, diz Beatriz Pupo, analista sênior de biocombustíveis da consultoria Standard & Platts, que fez o cálculo de produção.
Créditos de carbono aumentam rentabilidade
Segundo Battistella, outra vantagem dos biocombustíveis é a possibilidade de gerar créditos de carbono. No caso de exportação do combustível para a Europa, inclusive, o preço da commodity já inclui esse crédito. Nos países em que há mercados regulados, importadores e produtores de petróleo e derivados devem cumprir metas de redução de emissões. Para isso, podem produzir o próprio biocombustível, ou comprar de quem produz.
Somente na Califórnia, produtores de diesel verde forneceram 4,781 milhões de créditos de carbono para a indústria de energia local. “As empresas poluidoras pagam pelo carbono que nós capturamos e recebemos um prêmio. Indiretamente, esse valor beneficia o produtor rural, que vende por um preço maior”, afirma Battistella.