Investidores de títulos que promovem agendas climáticas desequilibradas em países pobres correm o risco de prejudicar algumas das nações mais vulneráveis, de acordo com a chefe de impacto da consultoria de finanças climáticas Polination Group. (Thithawat_s/Getty Images)
Bloomberg
Publicado em 13 de agosto de 2022 às 12h20.
Investidores de títulos que promovem agendas climáticas desequilibradas em países pobres correm o risco de prejudicar algumas das nações mais vulneráveis, de acordo com a chefe de impacto da consultoria de finanças climáticas Polination Group.
Zoe Whitton, que liderava pesquisas ambientais, sociais e de governança (ESG) no Citigroup, após passagens pelo Credit Suisse e Bank of America, diz que a crise econômica no no Sri Lanka é um exemplo disso, com alguns credores que tentam vincular a reestruturação da dívida do país a metas climáticas. Aplicar esse tipo de tática de engajamento corporativo em nações soberanas em dificuldades pode ser inadequado por uma série de razões, disse.
“Se investidores privados se envolverem com risco climático soberano de forma extensiva, podem afetar a disponibilidade de capital para nações que já são vulneráveis”, disse Whitton em entrevista de Sydney. “Países em desenvolvimento não são responsáveis pela desafios enfrentados e podem ter capacidade reduzida para mitigar riscos climáticos.”
Essa é uma preocupação cada vez mais presente no debate ESG, pois políticas destinadas a aliviar a pobreza às vezes parecem colidir com objetivos de longo prazo para o combate da mudança climática.
No entanto, vincular o alívio da dívida a metas climáticas tem se tornado uma estratégia muito usada em negociações de credores soberanos. No ano passado, Belize e investidores de títulos, com a ajuda da instituição americana Nature Conservancy, fecharam um acordo para uma reestruturação de US$ 553 milhões na qual o governo se comprometeu a gastar milhões em conservação marítima.
Tais acordos podem, em princípio, aliviar o ônus da dívida de um país em troca de compromissos ambientais. Ainda há um desequilíbrio de poder entre um devedor inadimplente que representa uma população empobrecida e gestores de ativos de países ricos, o qual Whitton caracteriza como problemático.
Finanças sustentáveis estão menos avançadas em mercados de dívida soberana do que no mundo corporativo, onde investidores aplicam um conjunto de estratégias sob a rubrica do ESG. Mas métricas e modelos pensados para corporações não são facilmente adaptados para governos. Por exemplo, pontuações ESG para países -- quando existem – foram criticadas por serem correlacionadas com a riqueza de uma nação, o que potencialmente penaliza populações mais pobres.
Em seu trabalho na Polination, que assessora investidores, empresas e governos sobre financiamento climático e que tem uma empresa de investimento com o HSBC, Whitton questiona a lógica de permitir que credores se tornem tão poderosos a ponto de ditar políticas para nações inteiras.
“Quando gestores de ativos chegam e dizem: ‘Vamos fazer demandas em relação à sua política nacional’, o contexto é completamente diferente de quando fazem exigências a corporações”, disse a especialista. “Existem princípios éticos e de reputação de riscos para investidores que usam o engajamento para coagir a formulação de políticas a nível nacional, particularmente para as economias em desenvolvimento”.
De forma mais ampla, como investidores ESG devem abordar mercados emergentes desencadeou uma nova onda de debates desde a guerra na Ucrânia. A invasão da Rússia levou a indústria ESG a rever estratégias que, em muitos casos, deixaram investidores expostos a regimes autocráticos.
No entanto, muitas das nações mais pobres do mundo são governadas por autocratas, e um êxodo de fundos ESG de mercados emergentes poderia atingir países que mais precisam de apoio, de acordo com Edward Mason, diretor da Generation Investment Management, cofundado por Al Gore.
Uma resposta, de acordo com Whitton, seria que investidores de títulos pressionem pelas chamadas cláusulas de choque climático e de desastres naturais, que permitem aos governos uma pausa no pagamento do principal e juros em caso de calamidades. Isso ajudaria os países quando suas finanças soberanas são mais vulneráveis, disse. Tais cláusulas já começam a aparecer: tanto Barbados quanto Granada se beneficiaram dessas ferramentas nos últimos anos.