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Europa se dá conta de que gás da Rússia é insubstituível

As tensões com a Ucrânia e a ameaça de um conflito que interrompa os fluxos de energia para a Europa vêm causando volatilidade no mercado de gás da Europa nas últimas semanas

Nord stream, gasoduto da Gazprom na Rússia. (Gazprom/Divulgação)

Nord stream, gasoduto da Gazprom na Rússia. (Gazprom/Divulgação)

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Bloomberg

Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 16h41.

Última atualização em 2 de fevereiro de 2022 às 16h50.

Por Anna Shiryaevskaya e Isis Almeida, da Bloomberg

Países com abundantes recursos naturais de energia, do Catar ao Azerbaijão, se comprometeram a fornecer gás em condições de emergência para a Europa, mas o continente está se dando conta de que não dá para substituir a Rússia, principal fornecedora do combustível.

As tensões com a Ucrânia e a ameaça de um conflito que interrompa os fluxos de energia para a Europa vêm causando volatilidade no mercado de gás da Europa nas últimas semanas. Uma guerra poderia afetar o gigantesco volume que a Rússia envia para o continente, sendo que um terço passa pela Ucrânia.

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Para mitigar o risco de interrupção no abastecimento, a União Europeia vem conversando com grandes produtores, buscando parcerias e até potenciais trocas de combustível com a Ásia, onde esse mercado é duas vezes maior. Cargas recentes de gás natural liquefeito aliviam a situação, assim como o inverno ameno, mas a Europa depende da Rússia para obter mais de um terço do gás que utiliza. E tentar obter combustível de outros lugares poderia espalhar a crise para outras regiões.

“A Europa não tem alternativa ao gás russo”, disse Ron Smith, analista sênior de mercados da BCS Global. “Seria preciso desviar metade do GNL que a Ásia consome para substituir o que vem da Gazprom. E o que isso significaria? Significaria enorme escassez de energia em toda a Ásia, significaria exportar a crise de energia da Europa para a Ásia”.

O volume de gás de que a UE precisa não pode ser substituído por nenhum fornecedor unilateralmente sem atrapalhar as entregas para outras regiões, explicou o ministro da Energia do Catar, Saad Al-Kaabi, na terça-feira após uma conversa com a comissária de Energia do bloco, Kadri Simson.

Ele acrescentou que os contratos de fornecimento de Doha são “sacrossantos no Catar” e que sua prioridade é atender primeiramente às necessidades dos clientes que já tem. Garantir a segurança energética da Europa exigirá esforço coletivo de vários fornecedores, acrescentou o ministro.

Em caso de interrupção prolongada pelos próximos dois invernos, a Europa teria de reduzir a demanda, afirmaram pesquisadores do instituto Bruegel, com sede em Bruxelas, em um blog. Essa incerteza provavelmente manterá os preços elevados, ao passo que a concorrência por GNL se intensifica.

“Enquanto a situação na Ucrânia estiver incerta e sem solução, os compradores europeus estarão dispostos a pagar o suficiente para atrair cargas flexíveis de GNL para que os estoques não se esgotem”, disse Oystein Kalleklev, CEO da Flex LNG, operadora de navios transportadores de gás.

Como a infraestrutura para distribuição de gás é cara, os volumes mundiais costumam ser vendidos sob contratos de longo prazo. Entregas flexíveis dos Estados Unidos podem ajudar, mas apenas se o preço compensar.

Os EUA foram o maior fornecedor de GNL para a Europa no mês passado e, junto com outras nações, ajudaram a alterar a participação do gás russo em alguns pontos percentuais em janeiro, de acordo com representantes da Comissão Europeia.

Essa situação talvez não dure. Desde o final do ano passado, a Europa é a região mais lucrativa para fornecedores do combustível, mas geralmente esse posto é da Ásia, onde o mercado cresce mais rapidamente. Se a China voltar a demonstrar interesse por gás, os navios podem abandonar a Europa e seguir para o Oriente.

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