Apoio:
Parceiro institucional:
Agricultura: preservação das florestas nativas tem papel importante na promoção de práticas sustentáveis do uso da terra (Getty/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 17 de julho de 2024 às 13h07.
A maior diversidade de ambientes leva a um aumento na diversidade de aves em paisagens agrícolas. Essa é uma das principais conclusões de uma pesquisa conduzida em vinhedos de São Miguel Arcanjo, interior do Estado de São Paulo, com apoio da Fapesp.
A região está entre as maiores produtoras da fruta, cultivada principalmente por pequenos agricultores, e próxima do maior maciço de Mata Atlântica do país, o Continuum Ecológico de Paranapiacaba.
Áreas de matas contínuas como essa podem ser lar de diversas espécies de aves, que têm características ecológicas distintas, possibilitando uma maior variedade de funções ecossistêmicas no ambiente. Isso significa que, quando se perde uma espécie, perdem-se também as funções realizadas por ela.
“Como as mudanças ambientais e a fragmentação das florestas afetam as espécies e suas funções ecossistêmicas está entre as principais questões que os pesquisadores têm buscado compreender nas últimas décadas”, afirma o professor Augusto Piratelli, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que supervisionou a pesquisa. “Somente com estudos muito bem planejados e com coleta de dados de excelente qualidade é que poderemos responder a tais questões.”
Além da UFSCar, o estudo envolveu cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade de São Paulo (USP). O grupo recebeu financiamento da Fapesp por meio de sete projetos (13/50421-2; 20/01779-5; 21/06668-0; 21/08322-3; 21/08534-0; 21/10195-0; 21/10195-0). Os resultados foram divulgados na revista Biotropica.
Para realizar a pesquisa, foram escolhidos 19 locais em paisagens agrícolas com vinhedos no município de São Miguel Arcanjo, próximo a Sorocaba. Os lugares foram cuidadosamente escolhidos para garantir que houvesse uma variação de ambientes com paisagens naturais e também modificadas pelo ser humano.
Com métricas preestabelecidas, foi analisada a porcentagem de floresta que havia dentro de cada local de estudo, como uma forma de avaliar o grau de conservação. “Compreender como a quantidade de ambientes naturais e antrópicos e a variação dessas quantidades influenciam as espécies e suas funções nos agroecossistemas pode permitir a definição de estratégias de conservação e manejo muito mais eficientes”, diz Daniele Moreno, primeira autora do artigo.
Para os pesquisadores, entender quais aves são encontradas nos vinhedos e também quais funções desempenham nesses sistemas agrícolas é muito importante. Segundo Piratelli, “cada espécie executa papéis distintos nos cultivos agrícolas e, muito provavelmente, paisagens com mais florestas e maior diversidade de ambientes devem manter mais funções. Passamos da etapa de simplesmente registrar as espécies que ocorrem nos ambientes e, agora, estamos quantificando suas contribuições para manter serviços e funções ecológicas”.
Os autores destacam quanto é importante preservar as florestas nativas nessas áreas agrícolas para manter a biodiversidade ao redor dos vinhedos. Além disso, “o estudo destaca a importância de considerar tanto a diversidade taxonômica como a funcional na avaliação dos impactos das mudanças na paisagem nas funções ecológicas realizadas pelas aves”, diz Milton Ribeiro, professor da Unesp de Rio Claro e coautor do estudo.
Essa informação pode ajudar a criar políticas públicas que equilibrem a produção agrícola com a conservação da biodiversidade nas áreas rurais. “No geral, este estudo enfatiza a importância de compreender as relações complexas entre a heterogeneidade da paisagem, a biodiversidade e as funções ecológicas nos agroecossistemas para promover práticas sustentáveis de uso da terra que beneficiem os agricultores e o ambiente”, finaliza Ribeiro.
O artigo Landscape heterogeneity increases bird functional diversity within Neotropical vineyards pode ser lido em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/btp.13328. (Com informações do Laboratório de Ecologia de Espacial e Conservação, o LEEC, da Unesp)