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ESG: o desafio somente se completa quando envolve toda a cadeia de valor

O desafio do das mudanças climáticas tornou-se um ponto de convergência na atuação ESG das companhias, de forma a evitar mudanças ainda mais drásticas do que as que já acontecem em todo o planeta, com impacto para os negócios e sociedade de maneira irreversível.

Agir com responsabilidade socioambiental pressupõe o estabelecimento de relações sustentáveis com fornecedores e outras partes interessadas (Getty Images/Getty Images)

Agir com responsabilidade socioambiental pressupõe o estabelecimento de relações sustentáveis com fornecedores e outras partes interessadas (Getty Images/Getty Images)

Publicado em 9 de setembro de 2023 às 09h00.

Desde a última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27, no Egito, houve maior movimentação das empresas para anunciar suas metas de redução de gases de efeito estufa e ambição net zero, como contribuição para evitar que a temperatura média global se eleve acima de 1,5°. O desafio tornou-se um ponto de convergência na atuação ESG das companhias, de forma a evitar mudanças ainda mais drásticas do que as que já acontecem em todo o planeta, com impacto para os negócios e sociedade de maneira irreversível.

As péssimas consequências da instabilidade no clima preenchem o noticiário internacional, como ocorreu em Maui, no Havaí, onde uma combinação de meses de seca e ventos extremos causaram o que foi considerado pelas autoridades como o incêndio mais mortal dos Estados Unidos, em mais de um século. Foram dezenas de mortes, destruição e um prejuízo estimado de US$ 6 bilhões.

Há, ainda, outros fatores como o derretimento de calotas polares, o aumento do nível do mar, as tempestades intensas e as inundações. No Brasil, é possível sentir esses efeitos, com uma série de fenômenos climáticos, como um dos invernos mais quentes dos últimos anos e as fortes chuvas que ocasionaram inundações e deslizamentos no Maranhão, em Recife e na Bahia, além de São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Espírito Santo, que vitimaram dezenas de pessoas e deixaram milhares de desabrigados.

Nos últimos 40 anos, a Amazônia ficou 1ºC mais quente e assistiu a uma redução no nível de chuvas de até 36% em algumas áreas, como apontam especialistas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Estudo recente da Unicamp analisou as temperaturas na cidade de Campinas - entre 1989 e 2022 - para entender os efeitos locais do aquecimento global, e a conclusão foi de que houve uma elevação média de 1,2ºC nas temperaturas máximas registradas na região. O acréscimo na amplitude térmica e a maior frequência de dias consecutivos de calor influenciam no surgimento de secas severas, enchentes e temporais, afirmam os especialistas.

Diante das incertezas e impactos decorrentes do aquecimento global, as práticas para reduzir as emissões e seu reflexo no clima tornaram-se medida improrrogável para governos e empresas. E já está claro que, para mover esse ponteiro, é preciso olhar para a cadeia de valor e colocá-la na mesma ambição da empresa para diminuir seu resultado direto. Um estudo recente da EY corrobora com este cenário e aponta que mais de 90% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) de uma organização estão relacionados à sua cadeia de valor.

Ter visibilidade da cadeia de suprimentos de ponta a ponta permite que as organizações atuem de forma mais assertiva, rastreiem materiais, entendam os processos e condições de operação, coletem dados para monitorar e medir seu progresso, e implantem medidas que as tornem mais resilientes e sustentáveis. Porém, apenas 50% das corporações acompanham indicadores básicos sobre sustentabilidade e riscos. O estudo da EY também aponta para a necessidade de ferramentas digitais para o compartilhamento de dados e métricas que ajudem a melhorar a eficiência e compreender como os recursos são utilizados.

Já o Relatório Global da Cadeia de Suprimentos, feito pelo reconhecido internacionalmente CDP – Carbon Disclosure Project, evidencia as implicações deste gap na gestão da cadeia: menos da metade (41%) das empresas que submetem seus dados à instituição relatam as emissões de GEE de seus fornecedores. Segundo levantamento, apenas um terço das companhias têm metas que vão além de suas emissões diretas, apesar do impacto do escopo 3 supera-las em mais de 11 vezes.

Este é o alerta! É preciso atuar em rede. Todos os elos dessa cadeia, da extração de matérias-primas até a destinação dos resíduos, passando pela fabricação, logística, canais de distribuição, parceiros e, também, os clientes, precisam estar envolvidos no processo. O desenvolvimento de um novo modelo de equipamento, por exemplo, precisa ser criado já tendo em vista o fim de sua vida útil: como reciclá-lo ou reutilizá-lo, diminuindo o uso de recursos naturais para que, de fato, a sustentabilidade aconteça no negócio.

Agir com responsabilidade socioambiental pressupõe o estabelecimento de relações sustentáveis com fornecedores e outras partes interessadas, e que sejam desenvolvidos mecanismos que transcendam a cobrança por indicadores. Além de implantar políticas internas, cláusulas contratuais e instrumentos de avaliação, é preciso investir em programas específicos para ensinar como atuar em temas de impacto, como a redução das emissões.

Na Vivo, centenas de fornecedores estão envolvidos na cadeia de valor, prestando serviços para garantir a operação funcionando e a melhor experiência ao cliente, o que demonstra que esta gestão tem um forte componente de impacto social. Entre 2015 e 2018, reduzimos em 88% as emissões diretas de carbono com o uso de energia renovável, medidas de eficiência e modernização de equipamentos e frota sustentável. Pensando na meta de zerar as emissões em toda a cadeia até 2040, criamos um potente Programa de Carbono na Cadeia de Fornecedores.

No universo de 1,2 mil fornecedores, selecionamos 125 das categorias mais intensivas em carbono, como equipamentos eletrônicos, materiais e serviços de redes, logística e transportes, que respondem pela maior parte das emissões. Essa seleção contempla uma ampla diversidade de parceiros de diferentes tipos e tamanhos, desde multinacionais - já evoluídas nos temas ESG - até 76 companhias brasileiras, sendo 45 de pequeno e médio porte. O programa dá as mesmas oportunidades para todas as empresas da categoria de compras correspondente, garantindo um tratamento igualitário e isonômico, cabendo a elas a escolha da participação no programa, pois a adesão é 100% voluntária.

Logo no início, descobrimos o tamanho do desafio, pois 69% deles sequer mensurava suas emissões. Por outro lado, havia empresas bem avançadas (em geral, multinacionais e de capital aberto) com metas baseadas na ciência, o que reforça a necessidade de atenção para as pequenas e médias da cadeia de fornecedores.

Buscamos estabelecer uma relação de confiança e dar as ferramentas para que estas companhias possam atuar na sua descarbonização. Promovemos uma jornada de conhecimento sobre emissões de carbono, com orientações desde um nível mais básico, sobre como elaborar um inventário, até o mais avançado, trazendo temas como riscos climáticos e transparência nos reportes. As instituições que se mantiveram engajadas puderam usufruir de uma consultoria personalizada com a contrapartida de assumir um compromisso com a Vivo.

Esse é um processo contínuo. Estimulamos os fornecedores a darem os primeiros passos, que são identificar e medir o seu impacto de CO2 até que assumam suas próprias metas de redução de emissões, uso de energia renovável e compensação. Todo o projeto tem uma engrenagem de sustentação, com monitoramento da evolução de cada fornecedor nas etapas de cadastro e renovação para novas concorrências e contratos. Com tudo isso, percebemos um bom nível de engajamento. Desde as primeiras capacitações, conseguimos dobrar o percentual de empresas atuando pelo clima e chegamos a 60% delas engajadas nesse propósito, o que representa 82% das emissões. O objetivo agora é a formação de compromissos e metas por estas organizações, o que vem acontecendo gradativamente.

Iniciativas que, alinhadas à uma forte governança, vem contribuindo para posicionar a Vivo entre as cinco empresas brasileiras com a nota máxima (A), pelo CDP (Carbon Disclosure Project), por sua transparência corporativa e atuação na categoria "mudanças climáticas". Também contribuem para que a companhia ocupe a segunda posição no Índice de Sustentabilidade da B3 - do qual faz parte há 11 anos – e esteja entre as 10 empresas mais sustentáveis do mundo em seu segmento de atuação no ranking da Global Corporate Sustainability Assessment (CSA), realizado pela S&P, principal referência para o Dow Jones Sustainability Index (DJSI).

Sem dúvida, rastrear, medir e construir parcerias efetivas na cadeia de valor é tarefa complexa e desafiadora. Mas sob a ótica da atuação Ambiental, Social e de Governança, a capacidade de realmente fazer diferença no desafio climático envolve toda a cadeia de valor. Há um poderoso efeito multiplicador quando ultrapassamos as fronteiras internas da empresa.

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