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Abigail Hopper, CEO da SEIA: Brasil pode ser peça chave na expansão do mercado solar dos EUA (Solar Energy Industries Association/Divulgação)
Editor ESG
Publicado em 5 de setembro de 2024 às 12h01.
A previsão para o mercado de energia solar é de céu azul, com poucas nuvens. No ano passado, globalmente, o setor chegou a 1,6 terawatt de capacidade acumulada, ante 1,2 TW no ano anterior. Para 2024, segundo dados da BloombergNEF, a estimativa é de uma adição de 592 gigawatts, um crescimento de 33%. Há um problema, no entanto, que pode gerar pancadas de chuva: como reduzir a dependência dos equipamentos fabricados na China.
O domínio chinês é relevante. Entre 60% e 70% dos painéis solares e demais equipamentos vendidos no mundo são fabricados no gigante asiático. Para os Estados Unidos, o segundo maior fabricante e mercado, jogar um pouco de sombra na praia chinesa é estratégico. Nesse sentido, o Brasil se apresenta como um parceiro importante, e os americanos buscam estreitar a relação.
Em entrevista à EXAME, Abigail Hopper, CEO da Associação das Indústrias de Energia Solar dos Estados Unidos (SEIA), destacou o crescimento acelerado do mercado solar americano e a importância do Brasil como parceiro na expansão global da cadeia de suprimentos para o setor de energia solar. A motivação americana está atrelada a uma estratégia de diversificação, focada em reduzir a dependência da China, país que domina a produção de painéis solares.
Hopper enfatizou que, desde a aprovação da Lei de Redução da Inflação dos EUA (IRA), em 2022, mais de US$ 26 bilhões foram investidos na construção de uma base de manufatura solar nos Estados Unidos. Contudo, esse valor ainda não é suficiente para atender à demanda crescente. Com isso, os EUA procuram parceiros confiáveis, como o Brasil, que possui um mercado solar emergente e vastos recursos naturais.
“Os Estados Unidos precisam encontrar bons parceiros, e o Brasil, com seu mercado em crescimento e valores democráticos compartilhados, faz sentido”, disse Hopper, que visitou o país no final de agosto. O Brasil, que já conta com uma indústria local crescente de energia solar, é visto como um possível fornecedor estratégico de materiais e tecnologia, mas precisa desenvolver sua própria cadeia, a exemplo do que foi feito na indústria de energia eólica. Cerca de 80% dos componentes das turbinas instaladas por aqui são fabricados localmente.
Segundo Hopper, o crescimento da cadeia de suprimentos de energia solar não se resume apenas à produção de painéis solares. A criação de módulos e inversores nos EUA já está em andamento, mas ainda faltam insumos como polissilício, vidros e sistemas de montagem, áreas nas quais o Brasil poderia contribuir significativamente.
Essa cooperação também pode ajudar a mudar a mentalidade do governo brasileiro, que, conforme Hopper mencionou, historicamente dá mais atenção a projetos de energia eólica do que a grandes fazendas solares. Ela destacou a importância de integrar incentivos governamentais, como acontece nos EUA, onde projetos solares ganham benefícios extras ao usarem materiais locais e serem instalados em áreas de baixa renda ou em comunidades dependentes de petróleo e gás.
A dependência global de painéis solares fabricados na China é uma realidade, mas Hopper ressaltou que, nos últimos 12 anos, os EUA não importam diretamente de fábricas chinesas, devido a tarifas impostas. No entanto, empresas chinesas abriram fábricas em outros países, o que mantém o fluxo de produtos.
Para competir de forma global, o Brasil precisaria investir não só na fabricação de painéis, mas também em outras partes da cadeia de suprimentos solares, como sistemas de rastreamento e montagem. Ao alinhar seus esforços com as políticas americanas de diversificação, o país pode se beneficiar dessa expansão, especialmente à medida que os EUA buscam fontes alternativas.
“A ideia é que o mercado cresça rápido. E a melhor forma de acelerar isso é combinando recursos financeiros com a vontade de inovar”, afirmou Hopper.