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Segundo a IEA, se for possível alcançar a profundidade de 5 km, o potencial técnico global da fonte geotérmica supera 40 terawatts (TW), o que equivale a 12 vezes o consumo atual mundial de energia elétrica. (Wikimedia Commons)
Colunista
Publicado em 3 de fevereiro de 2025 às 16h00.
Última atualização em 3 de fevereiro de 2025 às 16h17.
A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) publicou em dezembro um relatório sobre o Futuro da Energia Geotérmica. O documento destaca que avanços tecnológicos da indústria de óleo e gás, como perfuração horizontal e fraturamento hidráulico, podem ser aproveitados pela energia geotérmica, deixando-a mais competitiva. Hoje, a fonte atende a menos de 1% da demanda energética mundial e está concentrada em países com atividade vulcânica e falhas sísmicas, como a Islândia, onde existem regiões com altas temperaturas próximas da superfície.
A temperatura da terra aumenta, em média, 30oC por quilômetro de profundidade. É fácil perceber que, se novas tecnologias conseguirem explorar o calor de maiores profundidades, o potencial da energia geotérmica será ampliado e sua exploração, mais difundida globalmente.
Quanto mais quente, maior a densidade de potência obtida, ou seja, mais eletricidade é produzida por poço perfurado. Quando a água atinge 374°C e pressão de 220 atmosferas, não é mais possível diferenciar sua fase líquida da gasosa (ela se torna um fluido supercrítico). Uma usina operando a essa temperatura produz até dez vezes mais energia útil do que as usinas geotérmicas em operação. Na realidade, um poço geotérmico operando com água supercrítica equivale a um poço de petróleo em termos de densidade de potência.
O problema é conseguir escavar a grandes profundidades. O recorde atual é do projeto Kola, ainda da época soviética, que atingiu pouco mais de 12 km de profundidade em 1989. A meta era alcançar 15 km, mas uma avaria impediu-o de atingir esse marco. Essas avarias são regra, e não exceção, nas escavações a grandes profundidades, em razão do desgaste de materiais quando submetidos a altas temperaturas e pressões.
Para contornar esse problema, a empresa Quaise vem desenvolvendo uma plataforma de perfuração que utiliza um girotron, equipamento capaz de vaporizar a rocha com ondas milimétricas de alta potência, para alcançar profundidades de até 20 km. O objetivo final é atingir profundidades suficientes para que a energia geotérmica substitua combustíveis fósseis, como o carvão ou gás natural, aproveitando todos os demais equipamentos da usina térmica.
Segundo a IEA, se for possível alcançar a profundidade de 5 km, o potencial técnico global da fonte geotérmica supera 40 terawatts (TW), o que equivale a 12 vezes o consumo atual mundial de energia elétrica. Se for possível alcançar 8 km, o potencial sobe para 550 TW (164 vezes o consumo elétrico atual).
Isso explica por que empresas de óleo e gás vêm investindo em geotérmica, aproveitando know how, tecnologias e cadeias de suprimentos existentes. A estratégia diversifica seus negócios, que podem ser impactados pela queda futura da demanda por combustíveis fósseis.
Assim como a energia nuclear, a geotérmica pode se juntar às fontes renováveis, como energia solar e eólica, para descarbonizar o setor de energia. Além dos avanços tecnológicos, a IEA destaca a necessidade de simplificar os requisitos para o licenciamento dos projetos geotérmicos.
A energia geotérmica apresenta um potencial significativo para complementar as fontes renováveis tradicionais e contribuir para a descarbonização global. O avanço de tecnologias inovadoras, aliado ao aproveitamento de expertise da indústria de óleo e gás, reforça o seu papel estratégico na transição energética.