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Energia eólica completa 20 anos no Brasil e se prepara para uma nova fase: a do hidrogênio verde

Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, participa do podcast ESG de A a Z e fala sobre o potencial energético da molécula que pode substituir os hidrocarbonetos

A capacidade instalada de energia eólica é suficiente para abastecer mais da metade da população brasileira (YASUYOSHI CHIBA/Getty Images)

A capacidade instalada de energia eólica é suficiente para abastecer mais da metade da população brasileira (YASUYOSHI CHIBA/Getty Images)

Rodrigo Caetano
Rodrigo Caetano

Editor ESG

Publicado em 14 de agosto de 2023 às 12h01.

Uma turbina eólica, em sua produção, movimenta por volta de 1.000 fornecedores. “Você olha para uma turbina e vê que tem as pás, a torre, mas também tem parafusos, fixadores etc.”, afirma Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). “No Brasil, 80% da cadeia produtiva é local.”

Essa é uma das grandes vitórias da energia eólica, fonte renovável de energia que está completando duas décadas no país. Para Gannoum, o efeito econômico multiplicador de se ter uma cadeia produtivo por trás do megawatt dá um aspecto social ao negócio. “A cada 1 real investido em energia eólica, se devolve 2,9 reais em crescimento econômico”, diz a executiva.

A energia eólica chegou a 26 gigawatts de capacidade instalada em operação este ano. É a segunda maior fonte de energia brasileira, com 13% da matriz elétrica, atrás apenas da hidrelétrica -- são mais de 900 parques eólicos e 10.000 turbinas. Essa capacidade gera o suficiente para abastecer 36 milhões de residências, o que equivale a mais da metade da população brasileira.

Além de fortes e constantes, os ventos brasileiros sopram na direção que o país mais precisa. A indústria eólica está concentrada na região nordeste, o que vem ajudando a reduzir o gap econômico entre os estados do norte e do sudeste. Mas, para o nordeste, nada se compara ao potencial econômico de outra fonte de energia, viabilizada pela eólica: o hidrogênio verde.

A Arábia Saudita do hidrogênio

Não existe lugar no mundo melhor para produzir energia eólica do que o Brasil. Isso não se deve somente aos ventos, mas também pelo país ser uma democracia consolidada, por ter infraestrutura pronta e, como foi falado, pela presença de uma cadeia de fornecimento completa. “O hidrogênio está relacionado com a descarbonização da indústria. Há setores que poderão usar a eletricidade, outros precisarão de uma molécula alternativa ao hidrocarboneto, que é o hidrogênio”, diz Gannoum. “Daí a necessidade de determinadas infraestruturas, como portos.”

Um exemplo de construção desse modelo é o Porto de Pecém, no Ceará. O estado tem um dos maiores potenciais eólicos do Brasil, especialmente em projetos offshore, em alto mar. Em parceria com a iniciativa privada, o governo cearense está desenvolvendo um polo de produção de hidrogênio verde, que contará com a estrutura portuária, um centro industrial e a parceria com o Porto de Rotterdam, na Holanda, que detém uma participação minoritária em Pecém.  

Esse modelo é a chave para o Brasil tirar o máximo de valor de seus ventos, inclusive exportando. “O Brasil tem a matriz mais limpa do mundo, mas, embora 92% da eletricidade que chega na casa das pessoas seja renovável, quando olhamos para outras formas de energia, como combustíveis, temos 47% de renováveis”, afirma Gannoum, ressaltando que a média da OCDE, no caso, é 11%.

“Há muito a se trabalhar nesses 50% que sobram. E o hidrogênio, por ser uma energia secundária, produzida a partir de uma primária, não é uma mera commodity. Vamos usá-la em processos industriais e, dessa forma, exportar o eletro brasileiro. O que o mercado doméstico não absorver, será transformado em amônia e também exportado. Dessa vez, para dar errado, vai precisar se esforçar muito”, conclui a executiva.

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