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A disputa entre o Governo de São Paulo e o Governo Federal em torno da Coronavac levanta uma série de questões éticas (Siphiwe Sibeko/Reuters)
Rodrigo Caetano
Publicado em 27 de outubro de 2020 às 12h01.
Última atualização em 27 de outubro de 2020 às 16h42.
Até onde as pessoas vão para proteger um parente? Alguém que tenha seguro saúde, porém não contratou cobertura para o filho, pode pedir ao médico que passe a consulta no seu convênio? Uma criança doente justifica essa pequena corrupção? E na fila da vacina, é justo que um médico priorize seus familiares em detrimento de desconhecidos? O que você faria?
Essas são algumas perguntas que a FGV, uma das principais escolas de negócios do país, busca responder em seu novo programa de ética. Com apoio da Johnson & Johnson, a FGV-Ethics, braço de estudos sobre o tema da escola, lançou um projeto que visa levar os conceitos de ética empresarial para o mundo da medicina, ampliando o ensino da disciplina na carreira. “Na faculdade, o foco é debater sobre questões éticas entre médico e paciente. A questão da corrupção fica de fora”, afirma a professora Ligia Maura Costa, líder do programa.
O problema, diz ela, é que a pequena corrupção, como mudar uma receita para enganar o convênio, estão muito presentes no dia a dia dos profissionais da saúde. Há uma série de comportamentos considerados normais que devem ser melhor debatidos. “O que é errado é errado. Esses pequenos deslizes acabam gerando a grande corrupção, como a que vimos na Lava Jato”, afirma Costa.
A pandemia exacerbou alguns desses temas éticos na medicina. A disputa entre o Governo de São Paulo e o Governo Federal em torno da Coronavac, vacina desenvolvida pela China com participação do Instituto Butantan, é um exemplo. Sem fazer julgamentos, ela diz que há diversos dilemas que precisam ser debatidos nessa questão. E, quando chegar a hora de aplicar a vacina na população, é provável que surjam outros. Estabelecer uma fila de prioridades é um tarefa complexa.
Coordenadora do departamento de ética da FGV, Costa enxerga um retrocesso no combate à corrupção, no último ano. “A aprovação de algumas leis e a não aprovação de outras dificultou o trabalho dos promotores”, afirma. O que não mudou, no entanto, é o sentimento de repúdio da classe empresarial em relação à corrupção, pós-Lava Jato. Segundo a professora, a sociedade vive hoje sob regras mais rígidas de conduta moral, em que os ilícitos não são tolerados, seja por conta dos prejuízos aos negócios, seja pelo risco de ser pego. É um grande avanço.