ESG

Apoio:

Logo TIM__313x500
logo_unipar_500x313
logo_espro_500x313
ONU_500X313 CBA
ONU_500X313 Afya
ONU_500X313 Pepsico
Logo Lwart

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Em São Paulo, uma árvore tolerante a secas extremas que enfrenta as mudanças climáticas

A tipuana promove a resiliência urbana, apresenta aceleração de fotossíntese em condições de maior temperatura tanto em diferentes micro-hábitats urbanos quanto durante eventos de seca

Contribuição: tipuana, uma das três principais espécies de árvores presentes em São Paulo (Getty Images)

Contribuição: tipuana, uma das três principais espécies de árvores presentes em São Paulo (Getty Images)

Agência Fapesp
Agência Fapesp

Agência de notícias

Publicado em 1 de agosto de 2024 às 16h03.

Uma das três principais espécies de árvores presentes na cidade de São Paulo, a tipuana (Tipuana tipu) se mostrou tolerante a secas extremas, podendo ser considerada uma alternativa para promover a resiliência urbana contra as mudanças climáticas. A conclusão está em pesquisa publicada na revista Urban Climate.

O estudo avaliou o impacto da seca de 2013/2014 no desenvolvimento de árvores em ruas e parques de São Paulo. A escolha do período se deveu ao fato de essa seca ter sido extrema e registrada no verão, estação normalmente chuvosa e quando as árvores mais crescem.

Com base na análise da largura dos anéis de crescimento e de processos relacionados ao ciclo do carbono, os pesquisadores concluíram que a tipuana apresenta aceleração de fotossíntese em condições de maior temperatura tanto em diferentes micro-hábitats urbanos como durante eventos de seca, refletindo em taxas de crescimento mais altas, apesar das condições climáticas limitantes.

“Precisamos de cidades cada vez mais resilientes diante dos efeitos do aquecimento global. E uma das ferramentas para isso é a arborização urbana. Temos de ser pragmáticos em alguns momentos e devemos escolher espécies capazes de responder bem a esses eventos extremos para não perdermos a provisão de serviços ecossistêmicos, como a captura de carbono e a regulação de temperatura”, explica o professor Giuliano Locosselli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), autor correspondente do artigo. A pesquisa recebeu o apoio da Fapesp por meio de dois projetos (17/50341-0 e 19/08783-0).

As áreas urbanas devem abrigar 68% da população mundial até 2050, com acréscimo de 2,2 bilhões de habitantes em relação ao que existe hoje, segundo relatório da ONU-Habitat. Por outro lado, esses ambientes estão cada vez mais vulneráveis a secas e eventos extremos devido à redução de espaços verdes permeáveis e ao surgimento de ilhas de calor.

Por isso, a discussão de cidades resilientes, com planejamento territorial e capacidade de preparação, resposta e recuperação rápida diante dos desafios climáticos tem ganhado cada vez mais espaço. No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, o governo federal divulgou o decreto que institui o Programa Cidades Verdes Resilientes.

Mais resiliência

O objetivo é aumentar a resiliência dos municípios brasileiros diante dos impactos causados pela mudança do clima por meio da integração de políticas e estímulo a práticas sustentáveis e de valorização dos serviços ecossistêmicos do verde urbano.

“A composição de espécies resistentes a diferentes situações faz com que a cidade inteira seja resiliente a qualquer evento extremo. No estudo, trazemos um elemento que ajuda a compor essa biodiversidade. Estamos também pesquisando outras espécies nativas”, diz o professor.

Locosselli, em parceria com o pesquisador Marcos Buckeridge, do Instituto de Biociências da USP (coautor do artigo), e um grupo de cientistas de outras instituições têm desenvolvido uma série de estudos buscando formas de otimizar os serviços ecossistêmicos de florestas urbanas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e da poluição – prática que compõe as chamadas “soluções baseadas na natureza”.

Em um dos trabalhos, usando como modelo a tipuana, eles mostraram que os poluentes atmosféricos restringem o desenvolvimento dessas plantas, interferindo nos serviços ambientais por elas prestados.

Mais espécies

Além da tipuana, considerada uma espécie exótica na capital, os outros dois tipos de árvores mais comuns são o alfeneiro (Ligustrum lucidum) – um arbusto com até 3 metros de altura e flores brancas – e a sibipiruna (Caesalpinia pluviosa), que pode chegar a 28 metros de altura, tem copa arredondada e flores amarelas. No município de São Paulo, calcula-se que haja cerca de 652 mil árvores viárias (apenas em ruas).

“Há sempre uma discussão pertinente e muito importante sobre a necessidade do cultivo de espécies nativas versus as exóticas. As nativas, encontradas no ambiente, têm uma relação cultural importante e o plantio é incentivado na legislação ambiental. Mas, como o ambiente urbano é singular, precisamos buscar alternativas resilientes”, completa o professor.

Entre as características próprias do ambiente urbano que afetam a saúde das plantas estão desde as estruturas de concreto, com solos impermeabilizados, a poluição do ar, até os diferentes microclimas, com ilhas de calor e impactos do aquecimento global ocasionado pela emissão de gases de efeito estufa. Na média, a cidade de São Paulo está 4°C acima das temperaturas registradas no passado.

A tipuana é uma espécie originária de uma região ao norte da Argentina e da Bolívia, porém, tem sido encontrada em São Paulo há mais de um século. Serve ainda de modelo para outros locais, como países da América do Norte, da Europa, da Ásia, do Oriente Médio e Austrália.

Cruzamento de dados

No estudo, os cientistas analisaram os anéis de crescimento de árvores em parques e ruas aplicando uma medida (δ13C, que se pronuncia delta C 13 e representa a medição de isótopos estáveis de carbono) que ajuda a entender os processos relacionados ao ciclo do carbono. Os anéis permitem avaliar a variabilidade passada dos serviços ecossistêmicos por meio de análises de microdensidade de madeira, arquitetura hidráulica e isótopos estáveis de carbono e oxigênio, chegando, assim, a processos fisiológicos e de desenvolvimento das plantas ao longo do tempo.

Os dados foram processados por um algoritmo (chamado árvore de regressão ou regression tree), frequentemente aplicado em pesquisas de silvicultura urbana que, entre outros, fornece resultados facilmente interpretáveis para apoiar a tomada de decisões. Um dos resultados apontou que houve aumento de δ13C durante a seca, levando a um crescimento da tipuana.

“A tipuana é um ativo para São Paulo. Por isso, ter um olhar negativo sobre as espécies exóticas é precipitado. Estamos mostrando que essas espécies podem sim compor a biodiversidade urbana. Ter a tipuana na cidade é uma grande vantagem”, afirma o professor.

Segundo ele, o que ainda não se sabe é, se tivermos uma sequência de eventos extremos, até que ponto a espécie conseguirá manter a característica de tolerância ao estresse hídrico.

O artigo Stress-tolerant trees for resilient cities: Tree-ring analysis reveals species suitable for a future climate pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2212095524001603?via%3Dihub.

Acompanhe tudo sobre:Mudanças climáticasChuvasSecasClimaUrbanismo

Mais de ESG

Setores da saúde e moda ganham diretrizes para unir justiça climática na estratégia empresarial

Capital da Índia fecha todas as escolas primárias devido à poluição; entenda

Como a integração de setores energéticos pode transformar a resiliência e a sustentabilidade?

Cientistas brasileiros concorrem a prêmio de US$ 5 milhões sobre tecnologia e biodiversidade