ESG

Ela popularizou o crediário. Agora, quer massificar o varejo social

A Via, dona da Casas Bahia, lança operação para vender produtos de artesãos de todo o país. Logística atende até os confins da Amazônia

 (wagnerokasaki/Getty Images)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 27 de janeiro de 2022 às 09h00.

Última atualização em 27 de janeiro de 2022 às 09h02.

“Minha felicidade é um crediário das Casas Bahia”, cantava, ironicamente, a banda Mamonas Assassinas, fenômeno meteórico dos anos 1990, cujos integrantes morreram em um acidente aéreo. A frase evidencia um sentimento comum na base da pirâmide social. O famoso carnê das Casas Bahia deu a milhões de pessoas acesso ao consumo de eletrodomésticos e eletrônicos. Era uma solução simples e democrática, numa época em que a bancarização não chegava a 20% da população.

O impacto social do modelo de negócios da varejista é evidente, porém, o surgimento dos bancos digitais e a profusão de financeiras focadas na baixa renda modificaram o cenário. Pegar dinheiro emprestado ficou mais fácil, mesmo para quem está “negativado” – tanto que o endividamento das famílias passou a ser um fator de preocupação. A Via, holding que hoje controla a Casas Bahia, até digitalizou o carnê e pensa em levar a solução para outros mercados. A questão é que, na era do ESG, isso é business as usual.

A nova tacada social da Casas Bahia, que iniciou um processo de transformação ESG no ano passado, não é voltada para o consumidor, mas para o pequeno produtor. Em parceria com a Pangeia, um ecossistema de negócios sustentáveis, a empresa pretende massificar o varejo social. Isso significa abrir as portas de seu market place a artesãos, comunidades indígenas e quilombolas, pequenas cooperativas e um universo de produtos que, hoje, não chegam aos principais centros de consumo – ou, se chegam, é pelas mãos de intermediários que cobram muito do consumidor e pagam pouco ao produtor.

“O Brasil tem produtos incríveis. Descobrimos uma geleia feita de vitória-régia que é uma delícia e sustenta toda uma comunidade na Amazônia”, afirma Luciana Pacheco, gerente executiva de sustentabilidade e ESG da Via (ouça a entrevista no podcast ESG de A a Z). O plano é fazer da Pangeia a loja de produtos sustentáveis de todas as marcas da empresa (a Via também controla a operação online do Extra e o Ponto, antigo Ponto Frio). As vendas começam nesta quinta-feira, 27, inicialmente no site e no aplicativo das Casas Bahia.

A oferta de produtos sustentáveis estará estruturada em quatro categorias, conforme trabalha a Pangeia: Da Terra, que reúne produtores rurais e florestais e conta com a parceria do Instituto Conexsus; Da Floresta, focada em produtos feitos por indígenas e quilombolas; Ecoshop, voltada para artesãos e produtos ecológicos; e Causas, que traz produtos criados por iniciativas em prol do desenvolvimento social e ambiental. “Nossa missão é conectar produtores e consumidores interessados em traçar uma jornada responsável com a sociedade e o meio ambiente”, diz Carla Espindola, diretora de comunicação da Pangeia. “É o que chamamos de ESG na prática.”

Logística integrada

Toda a curadoria e a conexão com os produtores, que já somam mais de 1 mil na plataforma da Pangeia, ficará a cargo da parceira. A Via entra com a logística e o alcance de seu market place. Segundo Pacheco, há um componente importante de aprendizado no processo. “Não sabemos como fazer, por isso fomos buscar um parceiro”, diz a executiva. “Essa é a nossa primeira iniciativa para levar o ESG ao negócio.”

Essa postura de encarar a transformação ESG como um processo de aprendizado é importante num momento em que a Via tenta alavancar seu impacto social e mitigar seu impacto ambiental. Em abril do ano passado, a empresa lançou uma série de debêntures, no valor de 1 bilhão de reais, com metas atreladas à sustentabilidade, os chamados sustainability-linked bonds. A operação, no entanto, foi criticada por trazer metas pouco ambiciosas e penalidades irrelevantes.

Pacheco afirma que o ponto está na transformação, que acompanha a evolução da ideia de sustentabilidade ao longo do tempo. “O social no Brasil mudou. Era muito assistencialista e se transformou. Então, temos de nos adaptar e pensar em como podemos fazer mais”, diz ela. “Eu acredito plenamente que a única maneira de fazer isso é em rede. Não somos especialistas no assunto, temos um negócio de varejo. A questão é como colocá-lo à disposição da sociedade.”

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