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A pesquisa avaliou sete empresas nacionais e doze empresas internacionais a partir de seus relatórios de sustentabilidade entre 2020 e 2022 (Guido Mieth/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 3 de outubro de 2024 às 11h59.
Última atualização em 3 de outubro de 2024 às 16h48.
Os direitos humanos e as condições de trabalho são os temas mais relevantes na atuação ESG das empresas de moda, aponta o benchmarking de ESG do setor, elaborado pela escola de negócios Fundação Dom Cabral.
O material, lançado nesta quinta-feira (3) e divulgado em primeira mão à EXAME, avalia relatórios de sustentabilidade de empresas brasileiras e estrangeiras, buscando analisar o cenário atual da atuação contra os impactos ambientais e sociais gerados a partir desta indústria e como as companhias reagem aos temas considerados críticos pelos seus stakeholders.
Na matriz de materialidade, os tópicos mais relevantes foram identificados a partir da relevância baixa, média e alta, tanto para as companhias quanto para seus stakeholders (públicos interessados). O cenário brasileiro foi identificado na seguinte ordem:
Para Heiko Spitzeck, diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral e líder do Benchmarking de ESG no setor da Moda, o cenário brasileiro da sustentabilidade na moda se assemelha com o que acontece no restante dos países, com cobranças maiores sobre as empresas para garantirem o respeito aos direitos humanos na produção têxtil.
Já o cenário internacional foi identificado e apresentado no relatório da seguinte maneira:
Na comparação entre as empresas nacionais e internacionais, o professor destaca que as internacionais são mais pressionadas a expor sua atuação de forma mais transparente, motivo que coloca a ética como um dos tópicos prioritários.
Essa diferença, no entanto, pode ser indicador do movimento que as empresas brasileiras passam a seguir. “O cenário internacional sempre é um padrão de como o tema pode se desenvolver no Brasil. Acreditamos que essa exigência por transparência, ética e governança nas companhias têxteis internacionais também vai chegar ao Brasil”, explica Spitzeck.
A clareza sobre as métricas ambientais e sociais é, segundo o professor, um dos mecanismos mais usados por investidores para direcionar suas ações. Isso porque se uma empresa apresenta um relatório de sustentabilidade que mostre que ela está no começo da sua jornada ESG, já passa a receber mais investimentos do que empresas que não têm relatórios de sustentabilidade, quando não se sabe nada sobre seus riscos e oportunidades de melhoria.
“O investidor prefere direcionar suas economias para empresas com problemas que sabe que pode resolver, e não naquelas em que nem se sabe quais problemas estão ali”, conta.
O especialista explica que o benchmarking avaliou a atuação das varejistas a partir de notas, pontuando de 0 a 6. O valor mais baixo é aplicado quando a companhia não discute um tema publicamente. A nota mais alta é aplicada quando há métricas claras, objetivos, resultados que constam no relatório de sustentabilidade e metas incluídas nos bônus para executivos.
Spitzeck explica que essa forma de avaliação ajudou o benchmarking a identificar o grau de maturidade nas ações ESG das companhias. “Assim entendemos se é uma ferramenta de transparência, uma forma de marketing ou apenas para seguir uma obrigação legal, como as exigências para que uma empresa esteja listada na bolsa de Nova York”, explica.
Outra grande diferença apontada entre o mercado brasileiro de moda e o mercado internacional é a relação com as comunidades. Enquanto no Brasil este tema figura entre as prioridades, no cenário internacional é pouco mencionado pelas empresas. “No Brasil, muita da produção é feita em casa, nos bairros e cidades onde estão as costureiras. Temos o ecossistema da moda mais concentrado internamente, enquanto nos Estados Unidos e Europa muito é importado de outros países”, afirma.
A aceleração do fast fashion, a moda produzida em larga escala, também acelerou discussões sobre condições de trabalho e direitos humanos na moda, assim como a igualdade de salários. De acordo com o estudo, a produção das roupas ainda é uma área com mão de obra majoritariamente feminina, gerando a conexão com outros temas e aspectos sociais.
Para Spitzeck, a principal diferença entre o engajamento com ESG entre o setor da moda e outras áreas econômicas, como mineração e químicas, é por conta da base legislativa. Enquanto setores com mais emissões e impacto ambiental contam com leis regulatórias e punições, o mesmo não acontece para a área da moda.
O benchmarking ainda apresenta as empresas brasileiras que melhor figuraram em alguns dos temas avaliados:
Entre as companhias internacionais que se destacaram, estão:
A pesquisa avaliou sete empresas nacionais e doze empresas internacionais a partir de seus relatórios de sustentabilidade entre 2020 e 2022.