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Exposição: condições precárias de moradia e serviços inadequados de água e saneamento facilitam proliferação do mosquito (joao Gurgel / 500px/Getty Images)
Jornalista
Publicado em 28 de março de 2024 às 18h50.
Última atualização em 28 de março de 2024 às 19h18.
O Brasil lidera no continente americano em número de casos de dengue. Os dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), divulgados nesta quinta-feira, 28, alerta para o aumento de doentes. Até 26 de março de 2024, mais de 3,5 milhões de casos e mais de mil mortes foram notificadas nas Américas.
Jarbas Barbosa, diretor da OPAS, alertou para o quadro. "Isso é motivo de preocupação, pois representa três vezes mais casos do que os notificados na mesma data em 2023, um ano recorde com mais de 4,5 milhões de casos relatados na região", disse.
Segundo levantamento da OPAS, os países mais afetados pela dengue são Brasil (83%), Paraguai (5,3%) e Argentina (3,7%), que respondem por 92% dos casos e 87% das mortes. O aumento reflete o pico da temporada de transmissão no Hemisfério Sul, onde a disseminação do mosquito Aedes aegypti é maior devido ao clima quente e chuvoso, aponta o organismo internacional.
A OPAS aponta uma série de fatores ambientais e sociais no favorecimento da disseminação da dengue. Entre eles estão o aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos, assim como o fenômeno El Niño. A expansão populacional acelerada e a urbanização não planejada também têm um papel relevante, já que resultam em condições precárias de moradia e serviços inadequados de água e saneamento. São condições propícias para os criadouros de mosquitos em objetos descartados (lixo, de uma forma geral) e outros usados para acumular água — como caixas d'água, baldes.
A OPAS, nos últimos 12 meses, emitiu nove alertas epidemiológicos com orientações essenciais aos Estados-membros para a prevenção e controle da doença. O diretor da organização citou que a presença do mosquito vetor e dos casos está se espalhando para novas áreas geográficas. A consequência é a preocupação crescente de que alguns países possam estar despreparados para lidar com o aumento da transmissão.
A presença dos quatro sorotipos da dengue na região, como explica Barbosa, aumenta o risco de epidemias e formas graves da doença dada a circulação simultânea de dois ou mais sorotipos, o que ocorre em 21 países e territórios das Américas.
Barbosa apelou para que haja uma intensificação dos esforços para eliminar os criadouros de mosquitos, da preparação dos serviços de saúde para o diagnóstico precoce e o manejo clínico oportuno, além da orientação da população sobre os sintomas da dengue, para que, quando necessário, procurem atendimento médico imediatamente.
"O combate à dengue é uma tarefa para todos os setores da sociedade", disse o diretor da OPAS, pedindo "o envolvimento das comunidades para que tenhamos sucesso em nossos esforços".
Segundo o diretor-geral da Opas, a estratégia de vacinação para combater a dengue pode levar até oito anos para ter efetividade na redução da doença diante do atual quadro.
“É importante ressaltar que a vacina que está disponível é uma vacina de duas doses e que precisa de três meses entre uma dose e outra. Ou seja, a vacina não é uma ferramenta para controlar a transmissão neste momento”, explica, lembrando que a eliminação dos criadouros do mosquito é a grande ferramenta de controle da transmissão da dengue.
Ainda segundo Barbosa, o laboratório japonês Takeda, fabricante da vacina Qdenga, conta com capacidade limitada de fabricação de doses. Atualmente, o Brasil é o país do continente que mais conta com doses disponíveis para a população em termos absolutos.
Também nesta quinta-feira, o Ministério da Saúde divulgou a lista completa dos 154 municípios contemplados com doses da vacina contra a dengue em abril. As localidades fazem parte de 11 regiões de saúde com população residente igual ou maior a 100 mil habitantes. Os selecionados apresentam as altas taxas de transmissão da doença nos últimos meses.
As regiões são: Central (ES); Betim (MG); Uberaba (MG); Uberlândia/Araguari (MG); Recife (PE); Apucarana (PR); Grande Florianópolis (SC); Aquífero Guarani (SP); Região Metropolitana de Campinas (SP); São José do Rio Preto (SP) e São Paulo.
O imunizante do Ministério da Saúde é voltado a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa que concentra a maior proporção de internação pela doença.
Nesta semana, foi divulgado o Mapa da Desigualdade entre as capitais brasileiras, elaborado pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS). O estudo compara 40 indicadores das 26 capitais brasileiras em áreas como educação, saúde, renda, habitação e saneamento.
Os dados reforçam as diferenças regionais. Enquanto 100% da população de São Paulo é atendida por esgotamento sanitário, em Porto Velho, apenas 5,8% da população tem esse acesso. Quando se analisa os resultados de forma regional, o abismo é ainda mais evidente. Das seis cidades melhores colocadas na média dos indicadores, cinco são das regiões Sul e Sudeste. E das seis piores colocadas, quatro estão no Norte.
O Mapa da Desigualdade entre as capitais é baseado no Mapa da Desigualdade de São Paulo, que é publicado há mais de 10 anos pela Rede Nossa São Paulo e pelo Instituto Cidades Sustentáveis.
As fontes dos dados são órgãos públicos oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
Também foram utilizados dados de organizações não-governamentais em dois temas: emissões de CO2 per capita – com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima (OC) –; e desmatamento – com dados do MapBiomas.