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Francine Mendes Gregori, fundadora da Elas Que Lucrem (EQL) (EQL/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 13 de outubro de 2023 às 08h23.
Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 10h05.
E se houvesse um seguro com proteção física, financeira e emocional para as mulheres brasileiras? Foi com esse questionamento que Francine Mendes Gregori, funadora da startup Elas Que Lucrem (EQL), fechou uma parceria com a seguradora Mapfre. No produto, lançado em agosto, as mulheres contam com, por exemplo: suporte jurídico e disponibilidade de até dez diárias em hotéis credenciados após casos de violência doméstica; consultas e exames; auxílio para recolocação profissional com dicas e destaque na plataforma de empregabilidade Catho, entre outros serviços.
"As mulheres, ao longo da vida, buscam por segurança, mas são constantemente violentadas -- no Brasil, estima-se a ocorrência de dois estupros por minuto, por exemplo. O seguro é uma forma de auxiliá-las em momentos difícieis e também de forma preventiva, como por meio de consultas para elas e os filhos", diz Francine.
Apesar do produto ter sido lançado há poucas semanas, a executiva espera atender 100 mil vidas no próximo ano e 3 milhões em três anos. "A adesão está sendo muito bacana, o que impulsiona nosso objetivo de, em 2026, ser um unicórnio (termo para startup que possui avaliação de preço de mercado no valor de mais de 1 bilhão de dólares) formado por mulheres e para mulheres". Atualmente, o quadro de funcionários da EQL é composto por 20 mulheres.
Para Francine, além do modelo em si, outros fatores podem ser atrativos, como não ter carência após o período de cinco dias para efetivação do cadastro e ter o mesmo preço para diferentes faixas etárias. "O plano mais barato custa a partir de 49 reais por mês e não leva a idade em conta, mas sim o tipo de serviço oferecido".
Além disto, a EQL prevê o crescimento com outras frentes, como a formação numa plataforma própria, que já impactou 100 mil mulheres em parceria, por exemplo, com a B3. Outra iniciativa é o desenvolvimento de programas para empresas que, segundo Francine, querem assegurar a "saúde social" de todos os funcionários. "Este programa não é focado nas mulheres, mas sim em todas as pessoas vulneráveis nas companhias", diz.
A metodologia consiste em certificar empresas após sete fases, como identificação de como está a empresa, diagnóstico das vulnerabilidades, aulas de inclusão, questões jurídicas, e garantia de que o ambiente é continuamente acolhedor.
"Diferentemente de outras consultorias de diversidade, queremos garantir a estabilidade na segurança dos funcionários. A certificação não será algo pontual, ao exemplo de um treinamento. E só daremos o selo quando a transformação tiver ocorrido de fato", diz. No último mês, a WeWork se tornou a primeira empresa certificada pela EQL, que pretende focar em companhias com mais de mil funcionários.
Quando entrou na faculdade de economia em Santa Catarina, em 2003, Francine percebeu a baixa presença de mulheres na turma, algo que continuou chamando a atenção ao longo da carreira. "As carteiras de investimentos que gerenciei e, mais tarde, os treinamentos para a certificação de agentes autônomos eram basicamente para os homens. Sempre observei a disparidade, mas não entendia bem porque acontecia", diz.
Foi depois de engravidar de dois filhos, sendo a mais velha de treze anos, passar por uma depressão pós-parto e sofrer com discriminações no mercado de trabalho, que Francine decidiu fazer um mestrado em psicanálise, na Argentina. "Minha intenção era entender o que acontece no desencontro da atividade produtiva da mulher e do homens no mercado financeiro. A mulher consome em torno de 70% de tudo que é produzido, mas 70% dos recursos está na conta bancária dos homens".
Anos depois, no banco no qual Francine trabalhava, surgiu a provocação de entender os perfis das mulheres investidoras. "Encontramos nove perfis e desenvolvemos trilhas de investimento para elas, considerando especialmente a educação e o acesso à informação", afirma.
Assim nasceu a EQL, que se tornou um projeto independente e gerido por Francine e fora do banco a partir de 2021, quando ela saiu da companhia. Agora, ela espera alavancar o crescimento com os novos serviços e produtos para que a meta de se tornar um unicórnio seja de fato alcançada.