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Com base em mais de 2.000 entrevistas com especialistas e tomadores de decisão do setor de energia em todo o mundo, o Índice apresenta quais prioridades estavam sendo definidas para a descarbonização e quanto progresso foi feito (Qilai Shen/Bloomberg)
Redação Exame
Publicado em 26 de fevereiro de 2023 às 08h20.
Quando falamos do combate às mudanças climáticas, o consenso é um só: a situação não poderia ser mais premente. Apesar de uma evolução no que diz respeito à atenção que o mundo tem dado a essa questão, dados mostram uma realidade muito mais dura. O ano de 2022 terminou com as maiores emissões globais de carbono já registradas desde a Revolução Industrial, de acordo com dados da Global Carbon Project.
Não há desculpas para esperar mais. É necessário um esforço global imediato, vigoroso e coordenado para evitar as piores consequências das mudanças climáticas – em todas as regiões do mundo, e em todos os setores.
Contudo, é importante destacar, que apesar da necessidade ser global, não existe uma solução única que funcionará para todos. O Índice Global de Prontidão para a Transição Energética, desenvolvido pela Siemens Energy em parceria com a consultoria de gestão internacional Roland Berger, mostra exatamente isso, apontando em qual pé estamos atualmente e fornecendo caminhos possíveis em cada região para uma abordagem sistemática ao avanço da economia de baixo carbono e da redução de emissões.
Com base em mais de 2.000 entrevistas com especialistas e tomadores de decisão do setor de energia em todo o mundo, o Índice apresenta quais prioridades estavam sendo definidas para a descarbonização e quanto progresso foi feito. Assim, por meio de um importante metadado, o estudo mostra a prontidão percebida da transição energética, em uma escala de 0 a 100%, rumo às emissões zero nas diferentes regiões, combinando o andamento de cada prioridade (“prontidão”) à avaliação de sua respectiva importância (“maturidade do sistema”).
Onde estamos: o que mostra o Índice Global de Prontidão para a Transição Energética
Ao prestar um relevante auxílio na compreensão do desafio porvir, equacionado pelo “trilema da energia” - segurança energética, acessibilidade e sustentabilidade - a análise do Índice traz alguns insights sobre a realidade do atual momento.
Por exemplo: tanto a América do Norte (Índice de Prontidão de 34%) quanto a Europa (33%) são vistas como as regiões que mais progrediram na transição energética, mostrando que governos e empresas estão tomando medidas regulatórias de adaptação e resiliência de longo prazo para proteger os consumidores dos efeitos da crise de segurança energética atual e do futuro incerto das mudanças climáticas.
Por lá, entre as atividades mais notáveis nesse sentido estão a Lei de Redução da Inflação nos EUA e o programa Fit for 55 e REPowerEU na União Europeia, que criam condições econômicas e tributárias favoráveis para a competitividade de novas tecnologias climáticas e impulsionam, entre outras ações, o crescimento da adoção de renováveis, a redução do uso de carvão e a eletrificação da mobilidade.
Do mesmo modo, também na Ásia-Pacífico (Índice de Prontidão de 25%), onde a percepção de progresso nas prioridades energéticas é relativamente lenta entre os entrevistados para o estudo, há exemplos de avanços políticos e estratégicos na direção da descarbonização, como o programa Green Transformation (GX) do Japão, o objetivo da Coreia do Sul em aumentar a participação de energia nuclear e renovável em seu mix de energia, ou as metas ambiciosas de energia limpa da China e da Índia.
Fica evidente que a transição energética é o maior programa de investimento desde o início da industrialização. Se governos, empresas e sociedade trabalharem juntos, a transição energética é uma grande oportunidade, possível através de cinco pontos vistos como primordiais: (1) aceleração da energia renovável; (2) aprimoramento da eficiência energética, com economia e aumento da eletrificação nas indústrias; (3) fortalecimento das redes elétricas, com integração para além das fronteiras; (4) utilização da infraestrutura existente como ponte, caso dos gasodutos e operações offshore; e (5) arrumar a cadeia de suprimentos e de matérias-primas minerais e componentes necessárias, usando desde as baterias até os aerogeradores e placas fotovoltaicas.
Dentro desse cenário multifacetado, A Agência Internacional de Energia estima que o investimento global em energia limpa deva ultrapassar US$ 2 trilhões até 2030, o que representa um aumento de mais de 50% em comparação com hoje. Nesse panorama, vale destacar, da América Latina (22%) são as mais bem posicionadas para aproveitar a chance de se consolidarem como hubs de exportação de energia verde, uma vez que possuem condições favoráveis em termos de recursos energéticos renováveis de baixo custo, estrutura de mercado e localização geográfica.
Para onde vamos: oportunidades de uma potência verde
Em especial na América Latina, o tamanho do desafio só não é maior que a expectativa de ganhos por meio de sua consolidação enquanto potência verde. Apesar de a região apresentar o menor progresso percebido nas prioridades energéticas na comparação com as outras regiões, as perspectivas são positivas, caso seja adotada uma política de desenvolvimento industrial verde, inovadora e voltada para o planeta.
Para exercer sua influência no compromisso net zero global, as lideranças da América Latina precisam mudar como pensam seu planejamento energético e visar uma estratégia que ultrapasse a demanda local de energia com vistas aos mercados externos.
Para além da abundância em energia renovável - principalmente hídrica e cada vez mais eólica e solar -, trata-se de uma região destacada por ser um conjunto de democracias, o que se transmuta em mais confiança e menos chances de intempéries que prejudiquem o fluxo de exportação de energia e soluções. Nesse sentido, iniciativas e políticas voltadas para o hidrogênio verde, Power-to-X (combustíveis sintéticos e derivados verdes) e captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), devem ocupar espaço significativo no avanço das estratégias de transição energética de empresas e governos da região, que já se movimentam no sentido de buscar parcerias e alianças transnacionais.
Considerando somente o potencial mercados de hidrogênio verde adiante, o Brasil, por exemplo, pode se tornar o maior produtor do mundo e alcançar uma receita anual de R$ 150 bilhões a partir de 2050, dos quais dois terços serão provenientes de exportações.
Inclusive, um exemplo emblemático da América do Sul pode ser apontado com o projeto Haru Oni, onde a Siemens Energy, em parceria com a HIF Global e a Porsche, utiliza os fortes ventos da província de Magalhães, no Chile, para produzir combustíveis verdes a partir de energia eólica e hidrogênio verde. Trata-se da primeira usina em escala comercial e industrial do tipo no mundo, sendo totalmente voltada para exportação. Um marco da região, que revela seu potencial para a transição energética e soluções climáticas de vanguarda.
*André Clark é Vice-Presidente Sênior para o hub América Latina da Siemens Energy e General Manager da Siemens Energy Brasil.