Apoio:
Parceiro institucional:
Fundação Dom Cabral e Fórum Econômico Mundial lançam estudo Futuro do Crescimento (Petmal/Thinkstock)
Repórter de ESG
Publicado em 18 de janeiro de 2024 às 10h14.
Existe um amplo potencial para crescimento econômico e melhorias do bem-estar social no mundo, mas é preciso romper com as bases de Produto Interno Bruto (PIB) atuais. É o que aponta um estudo divulgado nesta quarta-feira, 17, no Fórum Econômico Mundial, que acontece esta semana em Davos, na Suíça. O trabalho é fruto de uma colaboração entre a Fundação Dom Cabral e o Fórum. A publicação considera quatro dimensões para sugerir um novo paradigma de crescimento futuro: inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência.
"O mundo não está crescendo com as bases do PIB atual. Temos como desafios para o futuro desenvolver qual modelo será ideal para alcançarmos o crescimento devido. Com base no estudo, acreditamos que a inovação é o motor da inclusão e resiliência, que são fundamentais para a sustentabilidade", diz Hugo Tadeu, professor e diretor do núcleo de inovação e empreendedorismo da Fundação Dom Cabral.
Na frente de inovação, a pontuação geral alcançada pelos países que participaram das análises foi de 45,2, numa escala até 100. O item foi o de menor pontuação entre os pilares analisados, ressaltando a importância de maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento em escala global e da implementação eficaz de novas tecnologias digitais.
Nesta frente, a Suíça mantém a posição de destaque com a pontuação de 80,4, visto que o país investe mais de 3% do seu PIB em Pesquisa e Desenvolvimento. Em seguida, Singapura se destaca com uma pontuação de 76,43, sendo considerada o país mais inovador da Ásia.
Inovação | |||||
Destaques |
Piores pontuações |
Melhores pontuações | |||
Mundo |
45,2 |
Iêmen |
17,98 |
Suíça |
80,37 |
Brasil |
41,81 |
Angola |
17,97 |
Singapura |
76,43 |
Chile |
46,23 |
Congo |
21,88 |
Suécia |
74,92 |
Índia |
40,23 |
Serra Leoa |
22,27 |
Dinamarca |
73,40 |
México |
37,88 |
Chade |
22,27 |
Estados Unidos |
74,09 |
|
|
Honduras |
28,64 |
Holanda |
73,30 |
|
|
Lesoto |
29,65 |
Alemanha |
69,41 |
|
|
Zimbábue |
29,72 |
Coreia do Sul |
68,81 |
|
|
Nepal |
31,46 |
Reino Unido |
68,45 |
|
|
El Salvador |
31,55 |
Finlândia |
68,03 |
Em comparação aos outros fatores, inclusão foi o item de maior pontuação neste relatório, com 55,9, indicando um esforço mundial para promover oportunidades igualitárias e na promoção de ações em busca da diversidade.
A Suíça também obteve a melhor pontuação em Inclusão (77,89), visto que, na questão de gênero, pode-se observar uma participação notável das mulheres na política, com 42% dos representantes no parlamento e 43% nos ministérios.
Já a Finlândia conseguiu o segundo melhor resultado, com uma nota de 77,89, o que pode ser explicada pela ação do país na promoção de emprego, educação e inclusão para minorias étnicas, como os ciganos, grupo marginalizado na Europa.
Inclusão | |||||
Destaques |
Piores pontuações |
Melhores pontuações | |||
Mundo |
55,9 |
Iêmen |
22,13 |
Suíça |
77,86 |
Brasil |
55,31 |
Chade |
23,83 |
Finlândia |
77,68 |
Chile |
64,89 |
Congo |
27,51 |
Islândia |
77,67 |
Índia |
41,69 |
Angola |
27,74 |
Dinamarca |
77,64 |
México |
51,46 |
Serra Leoa |
29,42 |
Nova Zelândia |
76,98 |
|
|
Mali |
32,58 |
Austrália |
76,27 |
|
|
Camarões |
33,06 |
Holanda |
75,93 |
|
|
Lesoto |
33,67 |
Canadá |
75,8 |
|
|
Malawi |
34,86 |
Suécia |
75,78 |
|
|
Zimbábue |
35,22 |
Estônia |
75,63 |
A média global em resiliência foi de 52,8, o que pode ser explicado pela pandemia do COVID-19, quando se torna necessária uma resposta coordenada entre os países para os impactos econômicos e sociais.
Neste item, Luxemburgo (72,57), Nova Zelândia (72,43) e Finlândia (71,25) alcançaram pontuações altas, visto que são economias diversificadas e estáveis, conseguindo se adaptar de forma ágil e eficiente a mudanças, de acordo com o relatório.
Resiliência | |||||
Destaques |
Piores pontuações |
Melhores pontuações | |||
Mundo |
52,8 |
Iêmen |
27,57 |
Luxemburgo |
72,57 |
Brasil |
51,98 |
Lesoto |
29,96 |
Nova Zelândia |
72,43 |
Chile |
57,36 |
Chade |
33,16 |
Finlândia |
71,25 |
Índia |
51,21 |
Zimbábue |
34,97 |
Suécia |
71,02 |
México |
46 |
Venezuela |
35,82 |
Suíça |
69,92 |
|
|
Congo |
35,68 |
Austrália |
69,47 |
|
|
Mali |
35,62 |
Áustria |
68,79 |
|
|
Irã |
38,88 |
Dinamarca |
68,51 |
|
|
Angola |
40,49 |
Japão |
66,34 |
|
|
Nigéria |
40,61 |
Holanda |
65,89 |
Por último, sustentabilidade apresentou pontuação de 46,8, demostrando a implementação em uma fase intermediária de práticas sustentáveis e o compromisso global com a urgência dos problemas ambientais.
Países como Chade (63,78), Jordânia (61,8) e Zimbábue (59,98) se destacam com as melhores pontuações em Sustentabilidade, mesmo fazendo parte do grupo de renda média baixa.
A República do Chade sofre seriamente com os impactos das mudanças climáticas, devido à desertificação do Lago Chade, porém o país vem recebendo apoio de instituições internacionais, como o Fundo Verde para o Clima e Banco Mundial, em projetos de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável.
Por outro lado, a Jordânia investiu em fontes de energia renováveis, visto que 93% da sua energia tinha que ser importada, o que correspondia a 8% do PIB, além do aumento da eficiência energética e redução do consumo.
O Zimbábue se aproveitou da biodiversidade para desenvolver a economia de forma sustentável, por meio do turismo de natureza e da comercialização de produtos florestais, correspondendo a 6,3% do PIB em 2019.
Sustentabilidade | |||||
Destaques |
Piores pontuações |
Melhores pontuações | |||
Mundo |
46,8 |
Mongólia |
24,4 |
Suécia |
62,87 |
Brasil |
55,99 |
Cazaquistão |
28,91 |
Chade |
62,05 |
Chile |
49,47 |
Kuwait |
29,75 |
Jordânia |
58,23 |
Índia |
56,03 |
Bahrein |
30,81 |
Ruanda |
58,23 |
México |
46,66 |
Luxemburgo |
31,15 |
Finlândia |
57,99 |
|
|
Venezuela |
33,11 |
Quênia |
57,24 |
|
|
Arábia Saudita |
35,02 |
Vietnã |
56,87 |
|
|
Irã |
35,49 |
Malawi |
56,85 |
|
|
Malta |
36,44 |
Zimbábue |
56,21 |
|
|
Catar |
37,41 |
Índia |
56,04 |
"Existe uma clareza de que quem inova muito são os países ricos, com o PIB per capta alto, e de que país inovador é o que investe em pesquisa e desenvolvimento, discutindo a qualidade da inovação. No Brasil, por exemplo, há um entendimento de que parceria com startup é super inovador, mas nem sempre é assim. Os países com o crescimento estão investindo, por exemplo, em pesquisa e patente, algo que aqui leva em torno de sete anos para se conseguir", diz Hugo Tadeu.
Além de apontar as notas dos países, mesmo que não exista um ranking, a pesquisa os divide por arquétipos. O Brasil aparece em dois: os que reúne os países com crescimento moderado, mas equilibrado, e com desempenho acima da média em sustentabilidade; e os de países com crescimento impulsionado pela eficiência, desenvolvendo inovação, inclusão e resiliência em uma base simples com uma visão ambiental reduzida.
De acordo com a publicação, o Brasil, com PIB per capita PPP (paridade poder de compra) de USD$16.402 (cerca de R$81.000) é considerado como um país do grupo de renda média alta, já que registrou, durante o período de 2018 a 2023, um crescimento de 1,22% no PIB. Em termos de qualidade desse crescimento, o país obteve pontuações de 41,8 em Inovação, 55,3 em Inclusão, 55 em Sustentabilidade e 52 em Resiliência.
Esses resultados não destoam muito da média mundial, porém devem ser aprimorados, por meio de políticas públicas e estratégias organizacionais que aderecem os principais desafios atuais, para potencializar o crescimento sustentável diante de novas tendências emergentes no âmbito tecnológico, social e político.
O Brasil apresenta alguns destaques positivos que podem potencializar um crescimento promissor frente a macrotendências. Por exemplo, a disponibilidade de recursos hídricos e a maior concentração de oferta de alimentos, devido à forte produção agrícola do país, ampliam a resiliência a eventos que impactam o suprimento desses recursos básicos.
Contudo, há pontuações baixas para distribuição de renda (18,3), acesso a contas bancárias (11,8), patentes (2,4) e patentes verdes (1,6). "Esses indicadores estão bastante abaixo da média global pela falta de investimentos e mudanças significativas no país", diz Hugo Tadeu.
Resultados dos principais indicadores para Brasil
Indicadores |
Pontuação |
Pilar |
Indicadores de maior pontuação | ||
Recursos hídricos |
100 |
Resiliência |
Concentração da oferta de alimentos |
100 |
Resiliência |
Acesso à eletricidade em zona rural |
97,5 |
Inclusão |
Índice de segurança cibernética |
96,6 |
Resiliência |
Custo em TICs |
94 |
Inclusão |
Cobertura de rede móvel |
92,4 |
Inovação |
Investimento em energia renováveis |
91,0 |
Sustentabilidade |
Adesão a tratados ambientais |
89,7 |
Resiliência |
Subsídio a combustíveis fósseis |
85,1 |
Sustentabilidade |
Diversificação de fonte de energia |
83,6 |
Resiliência |
Indicadores de menor pontuação | ||
Distribuição de renda |
18,3 |
Inclusão |
Capacidade nacional de atendimento emergencial em saúde |
16,7 |
Resiliência |
Treinamento para profissionais em meio de carreira |
13,8 |
Resiliência |
Capital em TIC |
13,3 |
Inovação |
Registro de marcas |
13,0 |
Inovação |
Acesso a contas bancárias e poupança |
11,8 |
Inclusão |
Exportações de serviços avançados |
8,1 |
Inovação |
Patentes |
2,4 |
Inovação |
Patentes verdes |
1,6 |
Sustentabilidade |
Iniquidade econômica |
0 |
Inclusão |
Polarização política |
0 |
Resiliência |
O estudo aponta ainda que os pontos de atenção no país são:
O desenvolvimento e a aplicação de propriedade intelectual, que desempenham um papel importante na geração de soluções para que a economia seja capaz de absorver e evoluir diante de novos progressos tecnológicos, sociais, institucionais e organizacionais.
Foi adotada uma metodologia comparativa entre as nações, sem a formatação de um ranking, garantindo as diversidades dos modelos de crescimento e em busca de caminhos para o futuro. 400 indicadores foram selecionados previamente para a análise dos dados, com uma seleção final de 84 indicadores, sendo 63 deles baseados em coleta de dados e 21 indicadores oriundos de uma survey eletrônica com foco em pesquisa de opinião com executivos em cargos de tomada de decisão e importantes formuladores de políticas públicas nos países participantes.