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Francia Márquez, vice-presidente da Colômbia: "Há a necessidade de seguir construindo de maneira coletiva e colaborativa para salvar as florestas, rios, mangues e os animais"
Repórter de ESG
Publicado em 25 de outubro de 2024 às 17h07.
De Cali, Colômbia*
Pela primeira vez, comunidades negras de todo o mundo tiveram um espaço oficial dentro da discussão da Conferência da ONU pela biodiversidade. Nesta quinta-feira, 24, dentro da programação da COP16, ocorreu o Fórum Internacional dos Afrodescendentes, espaço de discussões sobre o reconhecimento das ações da população negra na manutenção da biodiversidade global.
O espaço permitiu que líderes, representantes e ativistas do movimento racial pudessem discutir como incluir pessoas negras no centro do debate ambiental e climático, de forma efetiva. A ministra do meio ambiente da Colômbia e presidente da COP16, Susana Muahamad, esteve presente e ressaltou a importância da discussão.
“Não reconhecer o papel histórico desta população para a biodiversidade é rejeitar uma das riquezas culturais e políticas mais importantes de nosso continente” disse Susana, que salientou que comunidades negras habitam os ecossistemas responsáveis por 40% da biodiversidade global, estando entre as grandes responsáveis pela manutenção da vida dos animais e plantas.
A vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, também esteve presente e celebrou como o Fórum foi responsável por unir pessoas negras e não-negras de todo o mundo na construção de estratégias de conservação da biodiversidade. “É maravilhoso ver a presença de mulheres, camponeses, indígenas e outros grupos aqui, o que demonstra a necessidade de seguir de maneira coletiva e colaborativa para salvar as florestas, rios, mangues e os animais”, apontou a governante.
A temática do reconhecimento da população negra na preservação da biodiversidade já vinha sendo discutida nas últimas COPs, mas nunca com um espaço dedicado e de relevância como a chamada Blue Zone, onde acontecem as discussões oficiais que integram a agenda da conferência.
“O tema não é periférico; ao contrário, é central graças ao compromisso do povo negro da América Latina, Colômbia, Brasil e Caribe, e ao seu trabalho essencial. E já faz parte da COP16 como uma negociação relevante”, afirmou Susana Muahamad.
Durante o fórum, a historiadora brasileira Carolina Rocha destacou que o debate representa um momento histórico para os povos negros da América Latina que vivem a partir dos biomas, como comunidades tradicionais e quilombolas. “O Fórum acrescenta uma nova narrativa para os problemas da população negra desta região e ao redor do mundo”, explica.
A falta de reconhecimento pelo seu papel na reconstrução e manutenção dos biomas é mais uma dificuldade secular vivida por povos minorizados. A vice-presidente da Colômbia lembrou que foram mais de 30 anos até que as Conferências do Clima e Biodiversidade reconhecessem o papel dessas populações na preservação ambiental.
Francia Márquez ainda citou a parceria entre o Brasil e a Colômbia para reconhecer e garantir mais qualidade de vida as populações negras envolvidas na recuperação da biodiversidade. “Esperamos que todos lembrem com alegria da importância deste reconhecimento, que valoriza a presença afro e a identidade étnico-cultural e reconhece direitos territoriais negados por muitos anos”, disse.
A ministra Susana Muhamad afirmou, por fim, que segue em discussão as propostas para a inclusão e reconhecimento dos esforços das comunidades indígenas no trabalho de manutenção do ecossistema especialmente na Amazônia.
*A jornalista viajou a convite.